18 dezembro 2012

Caixa Branca Sem Janelas

Cheiro de ambulância perdido em plena noite.
Uma vertigem, uma brusca irrealidade.
Na madrugada de anteontem,
Uma brusca irrealidade.
Você com ela (Lucas!) você com a mão na dela
Sandra delirando
E de repente (Lucas!) o sapo em plena cara.

Caixa branca sem janelas, nela.
Você com ela (Lucas!) você com a mão na dela.
Caixa branca sem janelas.

A mesma contração no estômago
Sandra na maca, delirando
a toda velocidade.
delirando brandamente
a toda velocidade
Caixa branca sem janelas

esse mesmo som tantas vezes escutado desde fora de uma ambulância e sempre com a mesma contração no estômago.
a toda velocidade
uma vertigem
caixa branca
brandamente.

*

Trâmites, assinaturas, cama, medico interno, cheque pela ambulância, propinas, e sua camisa amarrotada pelos dedos da noite.
sua camisa amarrotada pelos dedos da noite.
uma vertigem.
Tão sonado, tão apartado, tão ainda em outro contexto.
E de repente


Caixa branca sem janelas, nela.
Você com ela (Lucas!) você com a mão na dela.
Caixa branca sem janelas.

Em outro contexto
O sapo em plena cara
Iogurte e água mineral, termômetro no cuzinho, pressão arterial,
Venceremos!
O sapo em plena cara
Sandra quer cigarros
Bom sintoma
E toalha e sandália e cigarros
Bom sintoma
Sandra quer
Pela direita ou pela esquerda tanto faz.

*

Hospital labirinto

Sem dúvida que conhecias o caminho
E toalha e sandália
Uma vertigem
Pela direita ou pela esquerda, tanto faz
Uma cidade de meio dia em ponto
diz Lucas secando a cara
Está certo que tido é um mal sonho
Uma brusca irrealidade
(não é exatamente pela esquerda, mas quase)
Verás arrumarás a toalha e a camisola e as sandálias, puta que o pariu! Puta que o pariu! (Lucas!)
Branca Sandra brandamente

Verás
Uma vertigem
Pela direita ou pela esquerda
Sandra não é Sandra
Hospital labirinto
Uma cidade de maio dia em ponto

Caixa branca sem janelas, nela.
Você com ela (Lucas!) você com a mão na dela.
Caixa branca sem janelas.

Tanto faz
Tão sonado, tão apartado
bom sintoma
delirando
bom sintoma
pela direita ou pela esquerda
Ela quer cigarros
Tanto faz
Duas noites sem dormir
Lucas secando a cara
Uma vertigem
Esta é Sandra
Uma brusca irrealidade
Esse suor e essa angústia, esta é Sandra (Lucas!)
Dois dias sem dormir
no cuzinho, pressão arterial
Essa é Sandra
E cigarros
Essa angústia
Lucas vê, dói, treme, cheira a verdade.
Tanto faz
É então que a outra, a ignorada, a dissimulada
realidade
Essa é Sandra
Lhe salta como uma sapo em plena cara.

Alavancado de Vai dar tudo certo.
Primeiro texto confeccionado pelo coletivo engenhoca do Rube. Apresentado  no  lançamento da revista aParte da vez  do TUSP. Inspirado no conto "Lucas, seus hospitais" de Julio Cortázar.
C.P.F.- Caio Poeta Fariseu, Jurandir Dente d'ouro e R.G.

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