30 setembro 2013

Esquina Fria- a passagem da sirene.

Quarenta.
Sessenta.
Cento e vinte olhos confusos.
Se espalham pelo gigantismo das paredes.
As sirenes desesperam o caminho inteiro.
Vagabundo. Que peguem e rasguem no meio!
As sirenes abalam os cautelosos de plantão.
Mas será? Eu que não!
As sirenes atravessam os espaço às pressas
                                                            às caças.
Colorindo caçambas que amontoam entulho nas calçadas.
E na certa que cortam é o caminho.
As sirenes e sua porção diária de exceção.
Desesperando o redor de seu carro.
Por onde todos os olhos se arregalam
Um regalo de prontidão
Lembrete terror legalidade.
Ora, a regra é clara, ora.
Alumia cores no giro que desloca
Mas que linda Lua opaca!
Boiando neutra sobre o enxofre.
As sirenes passam soando o presságio
                                                    tragédia.
Mais longe do chão,
menos se nota se o alarde.
Mas todos os olhos se desviam medonhos

No vislumbre do destino dessas sirenes. 

Jurandir Dente D'ouro.
Alavancado/continuação de Esquina Fria

Parecêmono quê vôrtemono

Parecêmono quê vôrtemono,

mono sujo
careca pelado
estilhaço de pena

mal-criado
desgraçado da cara
de ódio da ema

cabeça pequena
jogada pra trás
no pescoço moreno

(...)

sereno é o canto que se faz nas tristes cordas
caduco é o raciocínio que surge no canto da mente
gelado é o fio de vento que entrecorta a coluna
paciente é a dança que se resguarda do grande salto

contente é o mono que se conserva mono,
renitente

Zé Daniel

ALAVANCADO DE Pise

23 setembro 2013

Esquina fria.

O chão molhado reflete.
O sinal está verde e logo ficará vermelho. E amarelo.
A coloração fina película d'água asfalto molhado.
E reluz humores ao chão.
O homem deitado ao lado se recobre úmido de cansaço.
Fica verde e vermelho e amarelo às contagens de tempo.
O sopro que lhe varre a coluna não tem cor. Mas sua cor é extensa à cor do chão.
Seu humor, no entanto não.
Não há humor em fome ou noite mal dormida.
Os edifícios, pouco se envolvem à luzes de ruas. Ou humores.
Deixam esses assuntos às bases duras, que estejam à altura dos fatos.
As bases onde um sujeito úmido de cansaço e gelado de pedra possa recobrir e recostar.
Deixe lá, talvez.
E analisam do alto, majestosos senhores das paisagens recortadas.
E cada janela, é um olho seu.
Mas sua proporção de nada vale.
Se posta à prova em conclusão.
Cada olho mirando uma coisa.
O edifício nada conclui.

Jurandir Dente d'ouro

Alavancado de A serpente do Seu Albano e Onde mora quem manda

A serpente do Seu Albano

O que você achou do espetáculo?
Uma bola de neve caiu sobre mim, uma pomba me mirando de cima abaixo pronta pra dizer o que comeu, não sei se pombas comem bitucas e quem fuma é a gente, e a gente caga o que cai sobre nossas cabeças, engole goela abaixo quando a pomba caga nasce alguma coisa. Este espetáculo me deu diarréia, e é por isso que estou tomando o meu laxante, e introduzindo o meu supositório expectorante: para ter arrepios.

Mas o que você achou do conforto da sala?
Eu pegava carona no caminhão de lixo. Na rabeira, uma pernada, o movimento nunca pára, já disse o ditado popular. Espumava atrás do caminhão, no meio das bolinhas de gude, vacilão, buteco, busão, pega nada não.

Qual seu nome?
...
O sinal ficou verde, logo estará vermelho...Ô...eu tinha um nome, não, não vô dizê não, eu perdi num furacão, tinha uma tia minha, um primo meu, cidadania italiana, certidão de nascimento, ela era mãe dele...
pera, pera, pera
quem qué sabê?
Ela teve que mudar de nome.
Eu imaginei!
Livre-associação! Eu encontrei!
Vamos fazer tudo: a gente é livre.
anota aí.
coletivo Engenhoca do Rube

Onde mora quem manda

Fui até aquela rua
não havia motivo
na regra do caminho
Fui
àquela rua
domingo bem a tempo
que há tempos
vou àquela rua
me levam estes
todos sentidos 
lá.

Fui até aquela rua
que as árvores daquela 
rua quase tapam
o mormaço
no ar parece pouco
é um absurdo que 
aqui quem seja
ser amistoso.

Fui até aquela rua
vazia no plano
que mora quem manda
ainda não viu
problema que estou aqui.
Na rua só vêem
dos vidros dos taxis.

Fui até aquela rua
como quem descansa
a vista e é nítida
a falsa aura branca
onde cada edifício
que preenche o céu
esvazia da rua
o bonito ir e vir
de violências carentes.

Fui até aquela rua
atrás da bonança
da pequeno-burguesia
atrás de um caráter 
comprado caro
em tantas parcelas 
de culpa cristã.

Fui até aquela rua
eu posso ir
porque a cidade me pertence
porque permitem 
que eu esteja aqui.
É só escolher 
bem onde sentar
e baixar seu tônus
ao nível de uma máquina.

Fui até aquela rua
tantos anos
e a promiscuidade das classes
me deu esse amor
sereno dos bem-nascidos
que a mim se encaixará na lápide
ainda assim acima
de meu corpo
para sempre.

Fui até aquela rua
à procura
e tudo que encontrei
transformei em um sonho irônico
dando aos cortes da cidade
o status das fases da vida.

Aonde se vai,
se voltará.
Aonde está 
a ingenuidade perdida?
C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de homens e rios encanados.

reflexão nº2

o sol arde
o vento bate
e do frescor da sensação
algo quer nascer

do ar límpido
de luar translúcido
há o peso do Ser 
algo quer morrer

desta contradição
como fica a ação?
que muito quer Ser
mesmo ser poder

início,
fim
ou fim e início

qual é a ordem?
ela, por acaso,
altera a disposição
d'uma ação?

é preciso querer, pela ordem das coisas,
o alvor ou o crepúsculo?
é preciso pensar sobre isso?

na reflexão, porém, 
a ação não age
o estase se extasia
e o resto fica além

na mais pura ação
há tanta contradição
que é melhor abdicar
para não tanto errar

será que é preciso escolher
entre a apatia e o desatino
razão e loucura
ser-do-mundo ou ser-no-mundo?

será que é possível escolher?!
B. R.

17 setembro 2013

Sonso ser

Me cegam
meus olhos ávidos de olhares.

Me cega 
minha boca nas discussões vazias.

Me cegam 
minhas mãos quando procuram cinturas 
às cegas.

Me cegam os passos
dados repletos
de destino,
assim como
os cargos
com que cubro
o frio de minha identidade.

Me cegam
as palavras todas,
porém bem mais 
aquelas que digo.

Me cega 
uma ânsia de saber,
a pele seca
a face e as entranhas
secas, etílicas,
em ressaca.
Cevada!

Bebamos o suco da cegueira!
Os meus e os seus amores,
olhos batidos com açúcar.
C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Para entreter os olhos.

Põe a mão no Poemão

Põe a mão
no chão listrado,
parafraseando de antemão
faixa de pedestre.

Me parece a introdução
de uma pose de prece
de um canguru que pula
as cores opostas
das bostas.

Põe a mão em Cubatão
Bora-bora em contra-mão,
um sinal vermelho tece
qualquer indício de atrito
de para-brisa que testa, 
tece
in vitro.

O pior do poema é
o poeta.

Ponha a manha
na pamonha
sem vergonha
Ponha a manha
na pamonha!
No cubo de ensaio,
tubo de ensaio,
na careca de Cacilda Becker.

Quem vai capotar
aqui por perto?
Um camarada 
precisa de abrigo...
Na rua
o primeiro travesseiro
é o fio da meada,
é a sarjeta.

Cada mão
está no seu devido cesto,
e o vulcão em erupção
nunca para de derramar
suas lágrimas.
Eis que então ou senão,
o Renan não diria nada.
O metrô é pra lá!
Para além dos curva de rio.
coletivo engenhoca do Rube

10 setembro 2013

Pise

Sou Cafona,
Absurda!
Tenho axilas indescritíveis!...
e o pêlo da virilha é rubro
duro
minha gama é inconsequente
incandescente, não me aparo
Amparo e
não quero!
- ô moço do capuz, arranca o fone do ouvido, eu te imploro!
De nada me vale sua imparcialidade
sua indiferença
sou só
moça tola
vendo amor em tudo
- passa tempo ultrapassado
estou só cansada
Medida desesperada de noites mal dormidas
sem horizontes, sem limites
vigorosa e escrachada, o culpo por nada
Lamento por mim
meu tempo é a incerteza quase esgotada
Não quero me comunicar com quem esta longe
estou no limite das exigências!
sou outra idiota
vermelha, incorreta,
...Mas quero ser mais
quero ser abstrata, atraente
quero o tântân firminho
quero e vou reativar minha conta
de ser mulher neste mundo
porque faz tempo
que sou mulher neste mundo
com juros 



alavancado de A mais tola carta de amor, ou a mais tola carta de desamor.

03 setembro 2013

Só lamento uma vez

Essa, essa pele
de louça, moça
Essa, essa pele
de louca, rouca
Essa, essa folha
tão branca...
Essa lança
no meu coração.

Essa, essa folha
tão branca, manca
Essa, essa folha 
tão santa, janta
Tantos miolos eternos!
Faz deserto
o final da canção...

C.P.F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Para entreter os olhos

La ninã

Él fue mi primer novio de verdad, mi primer novio en serio, conocí sus padres, su familia, el conoció mis padres, mi familia, y todos los problemas dentro. Mucho amor, yo estaba desconcertada, no podía creer que yo pudiera provocar ese sentimiento en un hombre, él me amaba, me lo dijo a las 4 semanas, yo también te amo, le conteste en ese momento. A los X meses, apareció un chico, que me gustaba y yo le gustaba a él… y si, lo engañe, aunque lo amaba, lo mismo lo engañe. Fue una aventura de una noche, el nombre, no tiene relevancia, fui a su casa, él cocinó para mí, no me acuerdo que, solo recuerdo que tenía jamón cortado a la juliana. Yo lleve el vino, no se de vinos, pero igual lleve uno, Norton, de etiqueta roja, él tenía un San Telmo, pero yo no tomo vino. Conversamos, bastante, tensión de por medio, sos muy “gestosa” me dijo, decidí tomarlo como un cumplido. Pocos días antes había muerto Michael Jackson, en la tv miles de homenajes, y mientras escuchábamos Billie Jean nos besamos.
No sentía culpa, entre mi novio y yo cambiaron las cosas a partir de ahí, yo más distante, y el que me prometía el cielo, la tierra, la luna y las estrellas. Mmm en realidad eso hubiera sido muy poético, pero él no tenía nada de poético, él me prometía, la casa con verjas, el perro, los hijos, el auto. No quería eso, no para ese momento, era necesario ir de estrella en estrella, era necesaria la poesía. Él consiguió lo que quería, claro que no conmigo, y yo contenta en mi cielo. Estrellada.
Flavia Rodriguez





Vai veno vão Wando!

Voa vão!
Vai ser buraco no céu.
Buraco negro.
Pra onde todos vão.
Feito alma penada
ou dentro de avião,
vida enferrujada
é meta
com falta de vão.

"Vamos viver em vão
em Havana
onde avançam ondas vãs..."

(Chuva nível chão
sombra e igreja
chuva ralo
chuva telhado canto
chuva telhado azul
chuva planta
reflexo água prédio)

passeata.

Vão?
Porque eles não vão
eles não-vãos,
serelepes,
vão sem vão aonde querem.
Quando se vão os sem vão
se respira. 
Se eriça a pele,
um surdo ouvido 
fareja o abismo.

O nada escuro
é bruta tinta,
entre aquilo que há
um vão se pinta
com negro giz carvão,
que suja a mão.
O nada mancha o moleton.

O afã de quem veste vão,
inconfesso,
é dar forma ao negrume
traçar para si no plano "não-vão"
uma existência
sendo ainda matéria ausente.

Se assim for um dia 
tudo que estiver não estará
todos viverão em frestas.
E o triunfo do vão imperativo
vai terminar por renascer 
um sujeito e um objeto,
de buracos sedimentados,
decantados do nulo,
frutos de negação,
que farão o caminho
novamente
buscando desaparecer
em outra cor.


C.P.F.- Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Em partes 2.

02 setembro 2013

Estrageiro

 
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O sorriso profundamente vasto,
o grito dos engasgados
no morro dos enforcados
mutilado, vazando,
ouro, bronze, pedra-sabão e pirita

lembranças remotas
épocas passadas
batidas entre os turistas
sedentos por paralelepípedos
e monumentos

acaba não sendo facil explicar ao estrangeiro 
um garoto latino-americano, moreno
uma pérola do garoto boliviano
um trava-língua
como se fosse um nó.
...
A lei aqui é a do cão!
E as pessoas escondidas em baixo da cama
dormindo, dormindo
em casa
entendem nada

E Preciso ser poeta
arrancar alegria ao futuro
tirar sangue de ti
maltratar
crianças mimadas

cuspir
no chão das casas

!
Ave Maria
Maria das graça e mistérios
Maria Vadia de Família difícil
Maria do nó, cru, nu
Maria dos Tabus
se orgulha sempre que alguém morre,
e enterra, Mulher,
responde:
viver se planeja
ou viver e algo que, distante dos olhos
lampeja?