31 outubro 2013

no samba


o vento passa
é noite
na praça

o tempo passa
é hoje!
há graça?

neste samba
coisa de bamba
o pássaro voa 
escoa
um sentimento
atento, 
é quase unguento
que faz do-ente
feliz
por um triz
ao adentrar na raiz
de um algo
já dado
mas que não sai
é fardo
B.R.
Alavancado por Oni

Esquina fria - brindando com molotov.

Massa sólida
empoeirada
em chamas.
Suas cores estilhaçadas.
Animais
acuados
pisoteiam os sons dos edifícios.
e calam as vidraças
e calam as madames
e bloqueiam as avenidas
e enterram as sirenes
quando  então
não mais se veem como Animais.

Apunhalam as escadarias
E as catracas
E as latarias reluzentes.
Vejo o silêncio das carruagens.
Escuto os sonhos de um milhão
de cabeças.
Às vejo insones
arrancando do sono 
cínico
os dentes traiçoeiros
e as línguas esfomeadas.

O calor dessa manhã,
o calor dessas esquinas
será feito de labaredas solares
da queda
ensanguentada

dos Zigurates.

PAI UBU

27 outubro 2013

Uma brincadeira puerilmente violenta e deslumbrada de rancor e nostalgia.

São três santos
mutilados
às portas do presépio.
Assistem em silêncio
o nascimento de Jesus
em uma a garrafa de cerveja
Cheia.
Vazia.
Cheia.
Vazia.
Cheia.
Vazia.

Selva de colunas numeradas,
ponto de fuga
para os olhos ariscos e muito atentos.
Um cavalo cruza o horizonte!
Não...não é um cavalo...
Tem luzes, não pode ser um cavalo.
Sentimos um coice
que nos derruba.
Calamos.
 E tornamos a tragar.
Sim, ainda temos cigarros.

Sacrificamos Jesus ali mesmo
E o vemos renascer
Maldito e
Colossal
naquelas paredes infinitas e azuis.
Algum tipo de Muzak  ininteligível
nos alcança os ouvidos.
Como um canto sagrado,
Celebrando
a ressurreição
de cristo.
Mas o som cambaleia
e cai ferido.
Morto!
Assassinado pelos latidos
De três bocas
com seus discursos encavalados.
Palavras jorram como sangue fresco.
Rápidas!
Mórbidas!
Quentes!
Cruas!
Tristes!
Doces!
Debochadas palavras
úmidas,
frustradas!
E então uma explosão!
De algum tipo de riso
Longo.
De alívio
(De alívio?)
De Gozo

É verdade, falávamos sobre gozar...

Riso sincero. Amargo, mas sincero, de verdade. Juro! Era riso mesmo.  Uma gargalhada na verdade. Enlouquecida, embriagada, juro que era riso.
Era riso sim...
Era... A gente... É... Como se diz?...

A gente reprisa
Melhor, invoca!
Antigas canções tribais
registradas em k7
enterradas em nossos ossos.
Pra dar sentido à coisa toda
em nome do tom litúrgico.
Repetimos os versos com sabedoria ancestral
Capítulo 4, versículo 3.
Confira lá,
está nas escrituras [e nas embalagens].

Praguejamos.
Criamos templos
e consagramos deuses pagãos,
[vingativos]
com a cerveja da promoção.
Meditamos sob o vento
Que sopra muito a cima de nós.
[e das ruínas industriais].
Solitário é o vento do deserto
que desce vez e outra
pra dividir um cigarro
e pra nos arremessar
contra às lembranças.
Nesse momento
podemos ver que é ano novo
e as estrelas-faróis–de-carro
se distanciam cada vez mais.
E somem
na selva de colunas [vertebrais] numeradas.
Na escuridão
uma única luz sobre a palmeira
ilumina nossas cabeças.
É uma nova Jerusalém,
que nos faz lembrar
 de quem nos tornamos
(nunca de quem nós somos)
E comungamos ali,
Sentados no meio fio.


PAI UBU

Alavancado de Ao que pausa e o que passa



25 outubro 2013

Água Corrente


Água que flui,
corre e acorre,
condensa e precipita,
deita e acumula e,
vez ou outra, vaza

Água que vaga
vadia por todos os espaços
que, ora acolhem-na,
ora ela própria tem a missão de forja-los

Esvazia, esvai-se do vaso
voa rasante sobre os leitos
desce os morros em direção
aos córregos;

nunca habita,
está sempre de passagem

Existência afirmativa
fluxo eterno da vontade de Tudo

e se a água aprendesse a dizer “não”?


                                                                                                       Zé Daniel
Alavancado de Vivendo o Tempo

24 outubro 2013

articulações

cotovelo. joelho. junções de ruas dobradas são esquinas. a essa hora da madrugada deve ter alguém se conhecendo num canto da cidade por aí. tem gente dormindo também. gente pensando em coisa que eu nem imagino pensar. eu to sentada na cama. e uso edredom para dormir mesmo quando faz calor. será que alguém me imaginaria? na minha frente, pindurado na parede, um desenho de uma menina e um cachorro. tem também uma pintura cheia de borrões que eu fiz quando tinha quatro anos de idade. eu lembro que a minha amiga fez uma pintura toda precisa com uma casinha e uma árvore. eu também queria fazer uma casinha e uma árvore. mas o meu ficou feio. senti tristeza. e resolvi misturar todas as cores na tela. depois eu disse pra tia que eu queria fazer aquilo mesmo. e voltei para a casa. carregando o quadrinho. e a dor no peito.
achei que com o tempo eu esqueceria desta historia.
mas isso ja faz vinte e sete anos e eu ainda me lembro.
quando você vira a esquina, a esquina continua ali.

fernanda

alavancando de Esquina fria

18 outubro 2013

Ao que pausa e o que passa

Dias vividos
guardados em 3 caixas
uma concha, um caderno em branco
o silêncio de Sandra Cinto
escapa por fendas minúsculas

Dias vividos
uma série de violinos sem cordas
pauta crua,
no centro da sala
dois corações inflando, fundindo
gás

No anexo secreto
permanece deitado o cavalo
petrificado
coberto por terra vermelha
quatro pernas para o ar
nenhum herói
na américa invertida

alavancado de ímpeto e desespero


17 outubro 2013

vivendo o tempo

tentei ver o tempo
mas os frames da minha visão fragmentada
não captaram o momento
considerando que o tempo 
é a água que passa no rio
eu não sei se sou a pedra
a folha caída que navega
ou se eu sou eu mesma com os pés dentro do rio
quando eu tento segurar
a água escorre
já passou
e segue sempre no mesmo sentido
sempre de lá pra cá
eu posso mudar de ponto
de foco
de curva
mas o rio é o rio
e eu sou eu
considerando que essa realidade é real
e lembrando que as imagens se processam invertidas na parte de trás do cérebro 
dependendo das competências físicas
e referencias aglomeradas
do ser humano em questão
o tempo dizem ser uma das quatro dimensões
não sei quantas dimensões existem
nem o que existe de fato
fatos também são pontos de vista
feijão é um cereal
na sociedade em que vivemos
comemos salgadinhos amarelos coloridos artificialmente
não sei vocês
mas acho essas coisas
meio estranhas
considerando que o uso da linguagem também
é relativo

alavancando de Matando o tempo.

Certa vez decidi brincar com meninos que vendiam amendoim


Mas eu não era amiga deles,

me imitaram e encostaram a mão suja em mim

quando virei de costas, fizeram um comentário sobre a minha bunda.

Eu só queria ser amiga dos meninos que vendiam amendoim, mas depois disso me assaltou uma vontade de encher de soco a cara daqueles dois coisinhas sujas e rasgadas.

ai depois fiquei triste,

eu queria ser amiga deles, mas eu era menina...


Alavancado de : Tietê

Tietê

Ela come os amendoins numa serenidade de alguém que por nada espera.
Seus olhos carregados de cansaço estão vivos observando qualquer movimento que se passa ao seu alcance.
Sua tranquilidade emana a paz necessária para alguns muitos ao seu redor viajarem.
Na rodoviária, ela não espera.
Seu ônibus pode ser que venha ou não com destino incerto, porém seus objetivos não se frustam.
Ela ainda pode permanecer e observar.
Quando o saco de amendoim estiver por fim, ela tomará uns goles de água, esticará as pernas e começará a caminhar.


Alavancado de Trem




Marilac.

Matando o Tempo

Correr para todo canto
e sentir-se em lugar nenhum;
encontrar-se na ausência de tudo
e sentir algo

crise que se transforma
em insurgência cósmica e
anti-
mito-
lógica
contra os mandatos dos fins.

Processo:
é só o que importa.
sem tempo, só estrada

sem luz no fim do túnel
nem parede, nem porta


                                                                                                    Zé Daniel
Alavancado de Oni.

16 outubro 2013

ímpeto e desespero

minha forma é arcaica
serei eu saudosista?
gosto do belo que não se mostra

na sua presença
meu membro é rijo
mas eu me contenho

minha fama era nada
será ela reflexo da minha eterna ausência?

o rijo se desmembra
e eu me contento,
apenas por decência
(ou carência)
junto à mão tensa,
ao corpo tocar, amar.

sua boca é o fim
de uma causa sem preâmbulo
para... como quero dizer sim!
a minha ansiedade amansar

sua alma era alada
de uma pausa sem respaldo,
tara,
que faz potente ao adentrar,
pelo lado acabado,
e o não a afastar
do orifício sagrado

você foi ao voar
e meu tesão
permanece
e nasce,
renasce,
enaltece e cresce
mas,
em algum momento,
se esvanece e desce
para outras almas e bocar penetrar
até achar, no ar, no chão,
o mar de impulsos para aliviar.

B.R.
Alavancado de Beijo 

07 outubro 2013

Oni.

Suave, acaricia
na palma da mão
as torrentes do tempo.
Posta ao alto observância,
Sobre a gente desse chão
sobre a fome voraz que
a terra não come e sobre a dispersão do vento
sobretudo o firmamento
em que sustenta-se
                          celeste.
Admiradora de todos
             os causos do mundo
Libra justa de todas as causas
                                Sopra incêndio
                                           de humores diversos
Pois em si
reverberam todas palavras
que alguém proferir.

                                                                                                          Jurandir Dente d'ouro
Alavancado de Máquina de fazer sentidos 

maquina de fazer sentidos

do poético o sentido nasce
ao poeta nascente
ao sentir se dirige
do sentimento
exige
que algo se imponha
indisponha
o posto
exposto
no rosto da displicência
mas na permanência
ele faz um algo crescer

no Ser

é poder
que de nada adianta
porque no responder
o algo que quer nascer
só ao eu serve
aos outros eu's talvez
o que não importa
pois, resolver
coisa torta
é face que não suporta
mostrar o que não vê
mas que,
prepotente que é,
quer dizer onde não é.

B. R.
Alavancado por Poeta de rua

Poeta de rua.

Se os espectros mar e doces
sorverem almas lamurias
              corroeriam escadas
              e metais
esquina fria, quinze Luas
                     ou assuntos
              da brisa noturna
constelação evidencia seiva
                     de azul
              Ouro sem bolso
                        e dorso sem
              postura
A dignidade do mendigo
                     não sorriu
O assaltante partiu
O ébrio pobre levou a culpa
                      e o alumínio
do Cadillac
          só se lembrava
das lágrimas na garagem
                   das noivas.

                                                                                                                                Shecs Brasil

Alavancado de Esquina Fria

01 outubro 2013


Alavancado de 08h30

subjuntivando


se o se era meio
o fim era ato
que, de fato
tornava o tornado
todo, creio
um fardo

se o meio fosse fim
o fardo, fato
era por tornar o se
um tornado
ode do todo
no bojo
um caco

dado o todo
no lodo
quanto engodo
o meio
é fraco
para expor
ao amor
a dor
do fim
para
enfim
impor
o se
no
fim
sim,
ai de mim!

B. R.
Alavancado de Pise