26 junho 2014

nem a ovelha, nem o burrinho


no natal de quando eu era criança tinha um presépio
na porta de entrada do meu prédio
eu adorava trocar Jesus pela vaca na manjedoura
não era pecado a travessura, pois na Índia a vaca é sagrada criatura
sendo assim eu ria tranquila, de Jesus de louça no chão do presépio.

Tico-tico

Alavancado de:  Em posição difícil

23 junho 2014

Em posição difícil

a posição de lótus
me trás melhorias
em respiração e a estabilidade física
que preciso
a parede azul claro
os tons do armário
pastéis aos domingos
a luz das onze
deixam meus pés encolhidos
-seja bem vindo!
diz o tapete na soleira
patinhas de vaca falsa
as suas
quereria que deus não tivesse feito esse caminho
para mim
ou recriado tal ofício:
desenhador de patas de vaquinhas falsas
É tão difícil abrigar tantas patas
espalhando piso
entre os sapatos
choro olhando pra elas
pensando em fidelidade
esse sorriso perpétuo
recepcionando a todos
e pra tudo indiferente, desmontada
aquele tom hipócrita inevitável
que cada um diga bem vindo sinceramente
feito a vaquinha
desgraçada
nunca tendo raiva, nunca mentindo pra ninguém
montanha de hospitalidade
Judas pra beijar na boca com sua língua
- este é o exato momento em que um homem sentado atrás de balcão da cozinha se perde em sua divagação e consequentemente do presente concede alguns minutos do fim da minha vida pra fumar um cigarro hoje, lá pelas dez e trinta
foi importante
aparentemente não existe um cálculo exato pra dose de gin que nos acompanha
ainda não me tomaram esse prazer
o gosto pela manhã
quente e presa aos vícios
- Sou um homem sentado atrás do balcão próximo a cozinha
sinto o azulejo no músculo das costas
quadrado
constato que não deveria estar apoiando as costas em tal formato
Buda não se apoia em quadrados
meu pé direito está formigando bastante
a perna esquerda num angulo mais confortável
os pés gelados
meus maus hábitos e uma música bonita
no ambiente, mas eu não presto atenção nisso
eu abro os olhos sem perceber. minha meta se esvai.
- um charlatão budista disse que daria certo!
este é o momento que o pedaço de carne pendurado em minha cintura
fale em minha perna
entra em colapso e torna-se um instrumento de tortura.
pondo fim à empreitada
eu me levanto e planto o pé no chão
uma queda como se deve ser
- um charlatão budista disse que o presente é uma dádiva!
alcançar-se-á o presente à pé?
um imbecil norte-americano
teve uma experiência reveladora
usou
t-rês copos e
um tapete de vaquinha
ou melhor
jesus cristo no cenário
três copos na pia
a vaquinha no tapete e
todo amor que eu ja senti
- A perna morta falha, tropeço e bato a cabeça contra o balcão da cozinha, abrindo uma ferida profunda na testa
não, isso não é natural
Penso que talvez não fosse do charlatão budista a iluminação
ainda desejo minha tv, meu chuveiro e o dinheiro que eu tenho
Contudo sou uma propensão ao erro
hoje me resta ser uma escritora
americana
bêbada
fazendo yoga às onze horas

a proposta é de edição de textos já postados mas não me lembro de quem é este texto 

21 junho 2014

O céu se abriu inteiro

Mas no coração dos homens: nem entrega, nem receio.
tudo é tempo, tudo é dinheiro.

Em um dia que o sol rasgou as nuvens
os vidros, as cortinas e se impôs ao meio.

As plantas fizeram fotosíntese como há muito não faziam
e os raios UVA incidiram sobre os cânceres de pele que doíam

Nesse dia, tudo continuou muito caro e o tempo passando muito rápido.
Tudo continuou parecendo ter surgido  de um processo instantâneo.

Muitos pontos refletiram no asfalto que racha
e brilharam entre as listras brancas e pretas da faixa.

Tico- Tico

Alavancado de :Anti-herói

16 junho 2014

menina,


as coisas que eu queria dizer e não disse,
estão na minha cabeça dançando ao som do meu relógio analógico.
no silêncio mais vazio possível entre um e outro tic tac.

te olhar de longe na calçada, assim de noite
faz a vida parecer um filme

são tantas luzes, e tantas desideias
em casa eu contínuo pensando e desistindo muito.

eu moro em um primeiro andar,
e tem um poste na minha janela.

aqui sempre fica tudo muito claro.

eu escuto perfeitamente cada palavra das mulheres e das crianças que passam na rua, entre seus caminhos de volta, o silêncio, meus pensamentos e o relógio

envolta nessa névoa branca, pura, sólida e refinada sob cada um dos postes da rua tem pequenas casas e construções sobrevivendo num grande centro.

existe no mundo um poeta que diz que não se deve escrever poemas para sua cidade, que se deve deixa-la em paz.

mas ela acorda de noite, nos últimos dias principalmente, tão alva e tão quente, que me obriga a olhar, e então já está tudo perdido.

porque é uma sensação tão avassaladora ver da janela milhares de janelas, acesas, apagadas, metálicas, reluzentes, ver pequenas estrelas na noite tão clara, e tantas outras pessoas na janela, e fora dela, fumando cigarros, esperando.

As businas e as rodas dos carros, de longe passando na avenida, as palavras censuradas, e o meu relógio metronomeando minha existência solitária estão cantando, dançando, um filme que por fim decido chamar de me-nina.

e todas as coisas que não disse vão dormir comigo
e muitas outras casas dormem, 
outras acordam,
outras dizem, 
outras não dizem, 
as mesmas coisas e coisas diferentes.

e por mais que isso possa deixar Carlos Drummond um pouco frustrado: A menina nunca descansa.

Tico - Tico
Alavancado de: Se dá de menina

11 junho 2014

Liberdade

Quando ele manda limpar a varanda debaixo de sol
Cheio de zanga, a testa franzida, o jeito de mau
Ai que delírio que dá, vou eu lá limpar, sem dizer um pio
Que ele não se aborreça, que fique na mesa, olhando o vazio

Quando ele manda, coçando sua pança, fazer a quentinha
Lavar bem lavada a salada, bater o bife e cuidar da pia
Algo me invade que quase transborda num gostoso grito
Não contenho o sorriso e com um olho só pisco, pro dono do umbigo

Pra cada ordem costuro
Um vestido bordado de chita
Tranço os seus cabelos, amputo os joelhos
Deixo ela bonita

Com sabão e esterco
Deixo a varanda limpinha
Sirvo a quentinha fervente bem cedo
Ponho areia na farinha

Ao meu patrão eterno
Obediência sem fim
Deixo a ele o inferno da escolha

A certeza eu guardo pra mim.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu

Gênerosidade

Aquele que diz que me
esqueça-me verme
e ver-me à tonta luz
do viés da lua,
é surdo sinistro
martelo no fundo
baú da culpa.

quando se para pra olhar?
É quando se quer parar
é pouso, é escala
do moto contínuo
de não reparar.

E nem por isso
se olha pouco.
A gente vê o que convêm
se apega no vício
do rito louco
de querer o que se têm.

Em nós o outro
é corpo forasteiro
sem vistos
não se percebe quem é.
Querendo,
miramos a fronteira
e vemos um só reino.
Como traçando um talho
na face do novo.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Articulações

A disciplina do fogo

Onde cada letra brota do descomedido
o final é se acabar em cinzas
há tortura nos sorrisos serenos
válvulas de chamas hidráulicas
me chamem de algoz do dia seguinte
herói assassino deste instante estendido
debaixo dos pés
entre a gente e a vida carícias de pontapés,
“a gente”, a combustão do que sobressai da míngua
o instinto ferino da miséria
aquele quando em que só há o olhar intangível que queima,
a presença da morte em cada ato,
uma morte plana, fossa cova rasa.

Sob a disciplina do fogo,
o mártir que não morre por ninguém,
queima sem cessar,
visa à perenidade impossível da carne,
sempre um naco se inflama após outro,
e as tripas de chama azulada vão durar até o fim.

Doutrina que não compete,
a disciplina do fogo se impõe por condição.
Onde não se pode mais, ainda se arde
onde não há mais, ainda se arde
aquilo que queima move

em queda, ilumina o fundo do abismo.
C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Existe inocência!

Embolada Namberuam

Todo povo aqui passando
há de ouvir nosso chiado
o batuque do pandeiro
nossa voz em decibéis.

E assim nós que é malandro
vai ganhando uns trocado
que no mundo o dinheiro
é só causa de stress.

Na calçada há entulho
que é gente que passa apuro
que corre atrás de seguro
desemprego, invalidez.

Que essa merda de trabalho
é carga em lombo de burro
já que é pra viver duro
não trabalhe de uma vez.

Justifica-se na vida
a preguiça acumulada
que a alma nasce cansada
bem depois de nove mês.

Nós que é fruto de trepada
beliscão e de lambida
acha chata a repetida
rotina de horário inglês.

Bom é mesmo coçar o saco
espreguiçar e soltar peido
ver se tem cheiro de queijo
se é do gosto do freguês.

Levar vida de macaco
chupando limão azedo
nas macaca dando uns beijo
dormindo da uma às três.

Em suma, do operário
não quero mais que o salário
e muito pelo contrário
também tô desses burguês.

Pois não dá pra ser otário
nem pilantra usurário
essa raça do caralho
que explora eu e vocês.

Procurando uma saída
a gente reconstrói a vida
a gente acha alternativa
ou desencana de uma vez.

Põe o dedo na ferida
manda beijo às inimiga
mata e enterra as lombriga

vai de encontro à lucidez.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de A serpente do Seu Albano

A cura de todos os males

Olha, eu sei que tu tá se perguntecendo, cumu é que num dia como hoje, cum esse mundo do jeitim que tá hoje, cum toda essa poca vergonha de coisa errada, invertida e estranhosa, e toda essa maldade que a gente vê no olhar dos extrato bancário quando eles olha pra gente que nem ex-namorada em foto de feicebuc curtindo uma praia com o Marcão, o Mão Grande e o Montanha, cumu é que com toda a fauna de coisa desanimadora nesse mundo, cumu é, você se perguntece, que essa cidadão boa pinta consegue manter essa aparência tranquila, sorridente e satisfeita, cum essa saúde tão de sobra que quase escorre pelas orelha?
Não se perguntissíssisse mais! O segredo não é mais segredo (vô cagueta tudinho). A curiosidade a gente mata é com paulada no quengo. Só que o segredo minha gente, eu não dô, eu vendo.
Se trata-se nada-se que que além deste produto maravilhoso! Jujuba. Jujuba sim, não faça essa cara de nojento. A cura de todos os males! A droga que não vicia! O amor em pacote de plástico com cores sortidas...
Não vai ter copa...Cof! Cof! Cof! Não vai ter copa... Cof! Cof! Cof! Não vai ter COPARAÇÃO o amargor das jujuba de casca verde, e nem as amarela já se viu mais cremosice em gema na terra da anemia de carência de proteína digestutória só encontrada na superfície das jujuba que eu tô vendendo.
O dia cinzento que se vive todo dia chacoalhando nessas cadeira que sempre tem uma bunda antes da tua, vira cheiro de calêndulas, ceramidas, papel higiênico Primavera antes do batismo no fiofó. Cada bala de goma é um tempo que você dá pra você mesmo, como um carinho nas costa deitado cus pé pro alto, rilecschadão, curtindo o que a vida tem pra dá, tudo de bom, cuma TV de cento e papulegada ligada no Datena a tarde interinha, só gozando de vê disgraça, tão assim que cada esquartejamento é um passo a mais na sua fusão com a preguiça, e tudo é tão lindo olhando aqui do Águia Dourada...
Jujuba pra quem não sabe tem poderes mágicos. Ela traz o seu amor de volta (ou mantêm aquela disgraça bem longe de não sentir nem o cheiro...). Cura todo tipo de câncer (principalmente a cancêra) Pode parar com o Viagra minha gente! Cas minha jujuba os homê fica tão potente que parece que tá andando armado!

E pra finalizar vou recitar um poema:

A jujuba é vida,
a jujuba é sonho,
a jujuba é a saída

desse mundo medonho.

C. P. F - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de There is no samba