29 dezembro 2013

There is no samba

A gente passa
é noite
na praça [de alimentação]
O tempo passa [bandejas com pizza de picanha com catupiry também]

É hoje?
Há graça!
É hoje sim, é de graça memo
Entrar pelo menos é de graça
A gente passa
um monte de nóis memo
é fiii, o bagui é loko
e num somo poko não
e tinha é que  ser mais
tinha que ser um milhão
ostentação?
Se eu tivesse um quarto só pra mim hoje já seria uma ostentação
Fora do normal

Arrastão!
Arrastão!
Corre corre!
Baderna!
Confusão!
“Eu juro que vi uns maloqueiros com revolver”

Fora do normal
Foi o que aconteceu
E o que disseram
E o que mostraram

Mas acontece hoje e acontecia lá no morro
quando um bando de policia já chegava no esporro
Batuque?
Samba?
Capoeira?
Coisa de preto vagabundo, 
ladrão!
Preto
Vagabundo de abadá [ou boné New Era]
corda [azul, verde ou de ouro memo, baguio pesadão]
pandeiro
berimbau
ouvindo “ostentação fora do normal”
estourando no som do carro
umas lupa Juliet
desejando ter Hornet
de Iphone na mão [eram só Iphones]

desejando

Só tirar umas foto.
Dar uns bejo.

De onde eu vejo

Me espanta  [e me desconcentra e desconcerta completamente tentar finalizar isso em forma de poema. É difícil! Carência estilística minha? Provavelmente, mas nem me importo, to escrevendo aqui por outros motivos. To com muita coisa na cabeça e esse assunto é complexo pra caber todo em poucas linhas. Sim, queria ser mais preciso, coeso, mas como pensar em coesão em um momento onde falta coerência de todos os lados. De quem estava lá comendo sua pizza tranquilamente e se sentiu ameaçado pela “horda de vândalos pretos funkeiros e maloqueiros ”. Da própria molecada querendo "ostentar" umas marcas milionárias e consumir enlouquecidamente tudo aquilo que lhes venderam lhes dizendo que é isso que te traz dignidade. E agora os que lhes venderam se encontram encurralados e confusos nos shoppings e em suas salas e em seus escritórios tentando entender em que momento erraram em lhes fazer querer, mas nunca ir atrás (a não ser pelo crime que isso é legítimo e compreensível "dessa gente") e quando eles se levantaram e saíram de casa pra, se não consumir, pelo menos  se legitimar e rivalizar no espaço de consumo (e de lazer) e resvalar o padrão de vida que imaginam assistindo clipes americanos no youtube e vendo novela, aí a coisa saiu do controle, aí o estado branco, burguês e higienista tem que intervir (e de preferência da forma mais incoerente possível). Falta coerência minha talvez, aqui de longe lendo artigos no computador e formulando teorias e reflexões...e usando  termos como “eles” sem conseguir uma resposta pra eu mesmo me encontrar e me entender (e principalmente agir) no “nós” dessa coisa toda.  São tempos insanos.]


PAI UBU


Alavancado de No Samba

31 outubro 2013

no samba


o vento passa
é noite
na praça

o tempo passa
é hoje!
há graça?

neste samba
coisa de bamba
o pássaro voa 
escoa
um sentimento
atento, 
é quase unguento
que faz do-ente
feliz
por um triz
ao adentrar na raiz
de um algo
já dado
mas que não sai
é fardo
B.R.
Alavancado por Oni

Esquina fria - brindando com molotov.

Massa sólida
empoeirada
em chamas.
Suas cores estilhaçadas.
Animais
acuados
pisoteiam os sons dos edifícios.
e calam as vidraças
e calam as madames
e bloqueiam as avenidas
e enterram as sirenes
quando  então
não mais se veem como Animais.

Apunhalam as escadarias
E as catracas
E as latarias reluzentes.
Vejo o silêncio das carruagens.
Escuto os sonhos de um milhão
de cabeças.
Às vejo insones
arrancando do sono 
cínico
os dentes traiçoeiros
e as línguas esfomeadas.

O calor dessa manhã,
o calor dessas esquinas
será feito de labaredas solares
da queda
ensanguentada

dos Zigurates.

PAI UBU

27 outubro 2013

Uma brincadeira puerilmente violenta e deslumbrada de rancor e nostalgia.

São três santos
mutilados
às portas do presépio.
Assistem em silêncio
o nascimento de Jesus
em uma a garrafa de cerveja
Cheia.
Vazia.
Cheia.
Vazia.
Cheia.
Vazia.

Selva de colunas numeradas,
ponto de fuga
para os olhos ariscos e muito atentos.
Um cavalo cruza o horizonte!
Não...não é um cavalo...
Tem luzes, não pode ser um cavalo.
Sentimos um coice
que nos derruba.
Calamos.
 E tornamos a tragar.
Sim, ainda temos cigarros.

Sacrificamos Jesus ali mesmo
E o vemos renascer
Maldito e
Colossal
naquelas paredes infinitas e azuis.
Algum tipo de Muzak  ininteligível
nos alcança os ouvidos.
Como um canto sagrado,
Celebrando
a ressurreição
de cristo.
Mas o som cambaleia
e cai ferido.
Morto!
Assassinado pelos latidos
De três bocas
com seus discursos encavalados.
Palavras jorram como sangue fresco.
Rápidas!
Mórbidas!
Quentes!
Cruas!
Tristes!
Doces!
Debochadas palavras
úmidas,
frustradas!
E então uma explosão!
De algum tipo de riso
Longo.
De alívio
(De alívio?)
De Gozo

É verdade, falávamos sobre gozar...

Riso sincero. Amargo, mas sincero, de verdade. Juro! Era riso mesmo.  Uma gargalhada na verdade. Enlouquecida, embriagada, juro que era riso.
Era riso sim...
Era... A gente... É... Como se diz?...

A gente reprisa
Melhor, invoca!
Antigas canções tribais
registradas em k7
enterradas em nossos ossos.
Pra dar sentido à coisa toda
em nome do tom litúrgico.
Repetimos os versos com sabedoria ancestral
Capítulo 4, versículo 3.
Confira lá,
está nas escrituras [e nas embalagens].

Praguejamos.
Criamos templos
e consagramos deuses pagãos,
[vingativos]
com a cerveja da promoção.
Meditamos sob o vento
Que sopra muito a cima de nós.
[e das ruínas industriais].
Solitário é o vento do deserto
que desce vez e outra
pra dividir um cigarro
e pra nos arremessar
contra às lembranças.
Nesse momento
podemos ver que é ano novo
e as estrelas-faróis–de-carro
se distanciam cada vez mais.
E somem
na selva de colunas [vertebrais] numeradas.
Na escuridão
uma única luz sobre a palmeira
ilumina nossas cabeças.
É uma nova Jerusalém,
que nos faz lembrar
 de quem nos tornamos
(nunca de quem nós somos)
E comungamos ali,
Sentados no meio fio.


PAI UBU

Alavancado de Ao que pausa e o que passa



25 outubro 2013

Água Corrente


Água que flui,
corre e acorre,
condensa e precipita,
deita e acumula e,
vez ou outra, vaza

Água que vaga
vadia por todos os espaços
que, ora acolhem-na,
ora ela própria tem a missão de forja-los

Esvazia, esvai-se do vaso
voa rasante sobre os leitos
desce os morros em direção
aos córregos;

nunca habita,
está sempre de passagem

Existência afirmativa
fluxo eterno da vontade de Tudo

e se a água aprendesse a dizer “não”?


                                                                                                       Zé Daniel
Alavancado de Vivendo o Tempo

24 outubro 2013

articulações

cotovelo. joelho. junções de ruas dobradas são esquinas. a essa hora da madrugada deve ter alguém se conhecendo num canto da cidade por aí. tem gente dormindo também. gente pensando em coisa que eu nem imagino pensar. eu to sentada na cama. e uso edredom para dormir mesmo quando faz calor. será que alguém me imaginaria? na minha frente, pindurado na parede, um desenho de uma menina e um cachorro. tem também uma pintura cheia de borrões que eu fiz quando tinha quatro anos de idade. eu lembro que a minha amiga fez uma pintura toda precisa com uma casinha e uma árvore. eu também queria fazer uma casinha e uma árvore. mas o meu ficou feio. senti tristeza. e resolvi misturar todas as cores na tela. depois eu disse pra tia que eu queria fazer aquilo mesmo. e voltei para a casa. carregando o quadrinho. e a dor no peito.
achei que com o tempo eu esqueceria desta historia.
mas isso ja faz vinte e sete anos e eu ainda me lembro.
quando você vira a esquina, a esquina continua ali.

fernanda

alavancando de Esquina fria

18 outubro 2013

Ao que pausa e o que passa

Dias vividos
guardados em 3 caixas
uma concha, um caderno em branco
o silêncio de Sandra Cinto
escapa por fendas minúsculas

Dias vividos
uma série de violinos sem cordas
pauta crua,
no centro da sala
dois corações inflando, fundindo
gás

No anexo secreto
permanece deitado o cavalo
petrificado
coberto por terra vermelha
quatro pernas para o ar
nenhum herói
na américa invertida

alavancado de ímpeto e desespero


17 outubro 2013

vivendo o tempo

tentei ver o tempo
mas os frames da minha visão fragmentada
não captaram o momento
considerando que o tempo 
é a água que passa no rio
eu não sei se sou a pedra
a folha caída que navega
ou se eu sou eu mesma com os pés dentro do rio
quando eu tento segurar
a água escorre
já passou
e segue sempre no mesmo sentido
sempre de lá pra cá
eu posso mudar de ponto
de foco
de curva
mas o rio é o rio
e eu sou eu
considerando que essa realidade é real
e lembrando que as imagens se processam invertidas na parte de trás do cérebro 
dependendo das competências físicas
e referencias aglomeradas
do ser humano em questão
o tempo dizem ser uma das quatro dimensões
não sei quantas dimensões existem
nem o que existe de fato
fatos também são pontos de vista
feijão é um cereal
na sociedade em que vivemos
comemos salgadinhos amarelos coloridos artificialmente
não sei vocês
mas acho essas coisas
meio estranhas
considerando que o uso da linguagem também
é relativo

alavancando de Matando o tempo.

Certa vez decidi brincar com meninos que vendiam amendoim


Mas eu não era amiga deles,

me imitaram e encostaram a mão suja em mim

quando virei de costas, fizeram um comentário sobre a minha bunda.

Eu só queria ser amiga dos meninos que vendiam amendoim, mas depois disso me assaltou uma vontade de encher de soco a cara daqueles dois coisinhas sujas e rasgadas.

ai depois fiquei triste,

eu queria ser amiga deles, mas eu era menina...


Alavancado de : Tietê

Tietê

Ela come os amendoins numa serenidade de alguém que por nada espera.
Seus olhos carregados de cansaço estão vivos observando qualquer movimento que se passa ao seu alcance.
Sua tranquilidade emana a paz necessária para alguns muitos ao seu redor viajarem.
Na rodoviária, ela não espera.
Seu ônibus pode ser que venha ou não com destino incerto, porém seus objetivos não se frustam.
Ela ainda pode permanecer e observar.
Quando o saco de amendoim estiver por fim, ela tomará uns goles de água, esticará as pernas e começará a caminhar.


Alavancado de Trem




Marilac.

Matando o Tempo

Correr para todo canto
e sentir-se em lugar nenhum;
encontrar-se na ausência de tudo
e sentir algo

crise que se transforma
em insurgência cósmica e
anti-
mito-
lógica
contra os mandatos dos fins.

Processo:
é só o que importa.
sem tempo, só estrada

sem luz no fim do túnel
nem parede, nem porta


                                                                                                    Zé Daniel
Alavancado de Oni.

16 outubro 2013

ímpeto e desespero

minha forma é arcaica
serei eu saudosista?
gosto do belo que não se mostra

na sua presença
meu membro é rijo
mas eu me contenho

minha fama era nada
será ela reflexo da minha eterna ausência?

o rijo se desmembra
e eu me contento,
apenas por decência
(ou carência)
junto à mão tensa,
ao corpo tocar, amar.

sua boca é o fim
de uma causa sem preâmbulo
para... como quero dizer sim!
a minha ansiedade amansar

sua alma era alada
de uma pausa sem respaldo,
tara,
que faz potente ao adentrar,
pelo lado acabado,
e o não a afastar
do orifício sagrado

você foi ao voar
e meu tesão
permanece
e nasce,
renasce,
enaltece e cresce
mas,
em algum momento,
se esvanece e desce
para outras almas e bocar penetrar
até achar, no ar, no chão,
o mar de impulsos para aliviar.

B.R.
Alavancado de Beijo 

07 outubro 2013

Oni.

Suave, acaricia
na palma da mão
as torrentes do tempo.
Posta ao alto observância,
Sobre a gente desse chão
sobre a fome voraz que
a terra não come e sobre a dispersão do vento
sobretudo o firmamento
em que sustenta-se
                          celeste.
Admiradora de todos
             os causos do mundo
Libra justa de todas as causas
                                Sopra incêndio
                                           de humores diversos
Pois em si
reverberam todas palavras
que alguém proferir.

                                                                                                          Jurandir Dente d'ouro
Alavancado de Máquina de fazer sentidos 

maquina de fazer sentidos

do poético o sentido nasce
ao poeta nascente
ao sentir se dirige
do sentimento
exige
que algo se imponha
indisponha
o posto
exposto
no rosto da displicência
mas na permanência
ele faz um algo crescer

no Ser

é poder
que de nada adianta
porque no responder
o algo que quer nascer
só ao eu serve
aos outros eu's talvez
o que não importa
pois, resolver
coisa torta
é face que não suporta
mostrar o que não vê
mas que,
prepotente que é,
quer dizer onde não é.

B. R.
Alavancado por Poeta de rua

Poeta de rua.

Se os espectros mar e doces
sorverem almas lamurias
              corroeriam escadas
              e metais
esquina fria, quinze Luas
                     ou assuntos
              da brisa noturna
constelação evidencia seiva
                     de azul
              Ouro sem bolso
                        e dorso sem
              postura
A dignidade do mendigo
                     não sorriu
O assaltante partiu
O ébrio pobre levou a culpa
                      e o alumínio
do Cadillac
          só se lembrava
das lágrimas na garagem
                   das noivas.

                                                                                                                                Shecs Brasil

Alavancado de Esquina Fria

01 outubro 2013


Alavancado de 08h30

subjuntivando


se o se era meio
o fim era ato
que, de fato
tornava o tornado
todo, creio
um fardo

se o meio fosse fim
o fardo, fato
era por tornar o se
um tornado
ode do todo
no bojo
um caco

dado o todo
no lodo
quanto engodo
o meio
é fraco
para expor
ao amor
a dor
do fim
para
enfim
impor
o se
no
fim
sim,
ai de mim!

B. R.
Alavancado de Pise

30 setembro 2013

Esquina Fria- a passagem da sirene.

Quarenta.
Sessenta.
Cento e vinte olhos confusos.
Se espalham pelo gigantismo das paredes.
As sirenes desesperam o caminho inteiro.
Vagabundo. Que peguem e rasguem no meio!
As sirenes abalam os cautelosos de plantão.
Mas será? Eu que não!
As sirenes atravessam os espaço às pressas
                                                            às caças.
Colorindo caçambas que amontoam entulho nas calçadas.
E na certa que cortam é o caminho.
As sirenes e sua porção diária de exceção.
Desesperando o redor de seu carro.
Por onde todos os olhos se arregalam
Um regalo de prontidão
Lembrete terror legalidade.
Ora, a regra é clara, ora.
Alumia cores no giro que desloca
Mas que linda Lua opaca!
Boiando neutra sobre o enxofre.
As sirenes passam soando o presságio
                                                    tragédia.
Mais longe do chão,
menos se nota se o alarde.
Mas todos os olhos se desviam medonhos

No vislumbre do destino dessas sirenes. 

Jurandir Dente D'ouro.
Alavancado/continuação de Esquina Fria

Parecêmono quê vôrtemono

Parecêmono quê vôrtemono,

mono sujo
careca pelado
estilhaço de pena

mal-criado
desgraçado da cara
de ódio da ema

cabeça pequena
jogada pra trás
no pescoço moreno

(...)

sereno é o canto que se faz nas tristes cordas
caduco é o raciocínio que surge no canto da mente
gelado é o fio de vento que entrecorta a coluna
paciente é a dança que se resguarda do grande salto

contente é o mono que se conserva mono,
renitente

Zé Daniel

ALAVANCADO DE Pise

23 setembro 2013

Esquina fria.

O chão molhado reflete.
O sinal está verde e logo ficará vermelho. E amarelo.
A coloração fina película d'água asfalto molhado.
E reluz humores ao chão.
O homem deitado ao lado se recobre úmido de cansaço.
Fica verde e vermelho e amarelo às contagens de tempo.
O sopro que lhe varre a coluna não tem cor. Mas sua cor é extensa à cor do chão.
Seu humor, no entanto não.
Não há humor em fome ou noite mal dormida.
Os edifícios, pouco se envolvem à luzes de ruas. Ou humores.
Deixam esses assuntos às bases duras, que estejam à altura dos fatos.
As bases onde um sujeito úmido de cansaço e gelado de pedra possa recobrir e recostar.
Deixe lá, talvez.
E analisam do alto, majestosos senhores das paisagens recortadas.
E cada janela, é um olho seu.
Mas sua proporção de nada vale.
Se posta à prova em conclusão.
Cada olho mirando uma coisa.
O edifício nada conclui.

Jurandir Dente d'ouro

Alavancado de A serpente do Seu Albano e Onde mora quem manda

A serpente do Seu Albano

O que você achou do espetáculo?
Uma bola de neve caiu sobre mim, uma pomba me mirando de cima abaixo pronta pra dizer o que comeu, não sei se pombas comem bitucas e quem fuma é a gente, e a gente caga o que cai sobre nossas cabeças, engole goela abaixo quando a pomba caga nasce alguma coisa. Este espetáculo me deu diarréia, e é por isso que estou tomando o meu laxante, e introduzindo o meu supositório expectorante: para ter arrepios.

Mas o que você achou do conforto da sala?
Eu pegava carona no caminhão de lixo. Na rabeira, uma pernada, o movimento nunca pára, já disse o ditado popular. Espumava atrás do caminhão, no meio das bolinhas de gude, vacilão, buteco, busão, pega nada não.

Qual seu nome?
...
O sinal ficou verde, logo estará vermelho...Ô...eu tinha um nome, não, não vô dizê não, eu perdi num furacão, tinha uma tia minha, um primo meu, cidadania italiana, certidão de nascimento, ela era mãe dele...
pera, pera, pera
quem qué sabê?
Ela teve que mudar de nome.
Eu imaginei!
Livre-associação! Eu encontrei!
Vamos fazer tudo: a gente é livre.
anota aí.
coletivo Engenhoca do Rube

Onde mora quem manda

Fui até aquela rua
não havia motivo
na regra do caminho
Fui
àquela rua
domingo bem a tempo
que há tempos
vou àquela rua
me levam estes
todos sentidos 
lá.

Fui até aquela rua
que as árvores daquela 
rua quase tapam
o mormaço
no ar parece pouco
é um absurdo que 
aqui quem seja
ser amistoso.

Fui até aquela rua
vazia no plano
que mora quem manda
ainda não viu
problema que estou aqui.
Na rua só vêem
dos vidros dos taxis.

Fui até aquela rua
como quem descansa
a vista e é nítida
a falsa aura branca
onde cada edifício
que preenche o céu
esvazia da rua
o bonito ir e vir
de violências carentes.

Fui até aquela rua
atrás da bonança
da pequeno-burguesia
atrás de um caráter 
comprado caro
em tantas parcelas 
de culpa cristã.

Fui até aquela rua
eu posso ir
porque a cidade me pertence
porque permitem 
que eu esteja aqui.
É só escolher 
bem onde sentar
e baixar seu tônus
ao nível de uma máquina.

Fui até aquela rua
tantos anos
e a promiscuidade das classes
me deu esse amor
sereno dos bem-nascidos
que a mim se encaixará na lápide
ainda assim acima
de meu corpo
para sempre.

Fui até aquela rua
à procura
e tudo que encontrei
transformei em um sonho irônico
dando aos cortes da cidade
o status das fases da vida.

Aonde se vai,
se voltará.
Aonde está 
a ingenuidade perdida?
C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de homens e rios encanados.

reflexão nº2

o sol arde
o vento bate
e do frescor da sensação
algo quer nascer

do ar límpido
de luar translúcido
há o peso do Ser 
algo quer morrer

desta contradição
como fica a ação?
que muito quer Ser
mesmo ser poder

início,
fim
ou fim e início

qual é a ordem?
ela, por acaso,
altera a disposição
d'uma ação?

é preciso querer, pela ordem das coisas,
o alvor ou o crepúsculo?
é preciso pensar sobre isso?

na reflexão, porém, 
a ação não age
o estase se extasia
e o resto fica além

na mais pura ação
há tanta contradição
que é melhor abdicar
para não tanto errar

será que é preciso escolher
entre a apatia e o desatino
razão e loucura
ser-do-mundo ou ser-no-mundo?

será que é possível escolher?!
B. R.

17 setembro 2013

Sonso ser

Me cegam
meus olhos ávidos de olhares.

Me cega 
minha boca nas discussões vazias.

Me cegam 
minhas mãos quando procuram cinturas 
às cegas.

Me cegam os passos
dados repletos
de destino,
assim como
os cargos
com que cubro
o frio de minha identidade.

Me cegam
as palavras todas,
porém bem mais 
aquelas que digo.

Me cega 
uma ânsia de saber,
a pele seca
a face e as entranhas
secas, etílicas,
em ressaca.
Cevada!

Bebamos o suco da cegueira!
Os meus e os seus amores,
olhos batidos com açúcar.
C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Para entreter os olhos.

Põe a mão no Poemão

Põe a mão
no chão listrado,
parafraseando de antemão
faixa de pedestre.

Me parece a introdução
de uma pose de prece
de um canguru que pula
as cores opostas
das bostas.

Põe a mão em Cubatão
Bora-bora em contra-mão,
um sinal vermelho tece
qualquer indício de atrito
de para-brisa que testa, 
tece
in vitro.

O pior do poema é
o poeta.

Ponha a manha
na pamonha
sem vergonha
Ponha a manha
na pamonha!
No cubo de ensaio,
tubo de ensaio,
na careca de Cacilda Becker.

Quem vai capotar
aqui por perto?
Um camarada 
precisa de abrigo...
Na rua
o primeiro travesseiro
é o fio da meada,
é a sarjeta.

Cada mão
está no seu devido cesto,
e o vulcão em erupção
nunca para de derramar
suas lágrimas.
Eis que então ou senão,
o Renan não diria nada.
O metrô é pra lá!
Para além dos curva de rio.
coletivo engenhoca do Rube

10 setembro 2013

Pise

Sou Cafona,
Absurda!
Tenho axilas indescritíveis!...
e o pêlo da virilha é rubro
duro
minha gama é inconsequente
incandescente, não me aparo
Amparo e
não quero!
- ô moço do capuz, arranca o fone do ouvido, eu te imploro!
De nada me vale sua imparcialidade
sua indiferença
sou só
moça tola
vendo amor em tudo
- passa tempo ultrapassado
estou só cansada
Medida desesperada de noites mal dormidas
sem horizontes, sem limites
vigorosa e escrachada, o culpo por nada
Lamento por mim
meu tempo é a incerteza quase esgotada
Não quero me comunicar com quem esta longe
estou no limite das exigências!
sou outra idiota
vermelha, incorreta,
...Mas quero ser mais
quero ser abstrata, atraente
quero o tântân firminho
quero e vou reativar minha conta
de ser mulher neste mundo
porque faz tempo
que sou mulher neste mundo
com juros 



alavancado de A mais tola carta de amor, ou a mais tola carta de desamor.

03 setembro 2013

Só lamento uma vez

Essa, essa pele
de louça, moça
Essa, essa pele
de louca, rouca
Essa, essa folha
tão branca...
Essa lança
no meu coração.

Essa, essa folha
tão branca, manca
Essa, essa folha 
tão santa, janta
Tantos miolos eternos!
Faz deserto
o final da canção...

C.P.F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Para entreter os olhos