28 fevereiro 2013

Aqui a história é indireta


Aqui a história é indireta
Curvada
Controvérsia
São linhas estudadas
Em ondulados trajetos
Aqui é a besteira das idades:
e Paciência:
falta de.
Feito quando se pensa
Ser
Impossível dispensar pó
Esquecer um número de Identidade
Hora, Nome
Nascimento
Mandíbula

Gentileza no batimento contido
Do bom senso

Sequer é preciso registrar um projeto:
Una brasilian extravaganza!
De assinaturas resistentes
Crepitantes
Contra a noite







Sandra

Alavancado de: Ixi!

27 fevereiro 2013

Meu Pé Decidido

A casa corcunda na beira
do mastro,
zumbiando-se amontoados.

como se toda tralha explodisse
como se toda dor já não existisse.
daí decido: já não existe.

fico feito abismo no meio corpo,
espaço de ímpeto desempregado.
falando em desempregado, assim estou
sou vagabundo! ai, ser vagabundo é
uma delícia!

acordar às 3 da tarde é uma delícia!

quebrar as taças apoiadas da sua tia.
beber da lama suja da calçada fria.
porque a minha cama se foi
assim como a minha casa, minha
máquina, meus sapatos

você pode ficar com tudo
até com a minha metade,
com minhas duas metades
e com o dente de ouro,
leve o dente de leão com o
cuidado que quiser
leve o anel, a mordida
e o anel mordido

é de ouro, eu peguei de
dentro de uma ostra
que me mostra os dentes
sempre que tento ir embora

meu pé decidido tropeço
pro outro avançar
duas quadras
e foi tudo o que precisei pra alcançar
aquela louca correndo e gritando:
"eu amo o Carlos da casa 13, mas ele é um
escroto sem alma"

bixo, ninguém tem alma por aqui

e a decisão toda
do existir protelo
válvulas de escape
no chão me sugam
e me sugam a vontade de escrever

se escrever a vida acinte
aonde foi aquele?...
se enfiando no balde
de idéias que correm
recorrentemente

até que num surto de sanidade
eu deixei de pensar e
me afundei num copo de uísque...
e dormi


                                                                                                                         Zé Daniel
2. Jogo de Mesa

26 fevereiro 2013

PróXima



Ela me pergunta se eu vejo o arco-íris,
Se eu gosto de mirar o horizonte ad eternum até ter uma epifania
Qualquer sobre o sentido da vida,
Pra depois esquecer e
Então começar de novo

Já respondi mil vezes que só olho para o horizonte
Quando estou cansado de olhar pro chão,
E essa fadiga geralmente não me alcança
Porque eu gosto de saber por onde eu estou indo;
E ela me repreende, dizendo
Que eu deveria olhar mais para os lados,
“tirar os olhos do meu umbigo”!

Eu digo que não tem nada a ver;
Eu olho pro chão porque realmente gosto
De ver por onde eu ando, onde repouso meus pés enquanto caminho,
Pr’onde será que aquelas passadas podem me levar
E como eu vou chegar no próximo passo,
Na próxima esquina, na próxima cidade,
Na próxima cama

Na próxima estrada que vai me guiar pra outro lado
Que não este no qual eu me encontro de momento

O céu pode ser um bom guia, com certeza,
Com suas estrelas e luas e sóis e planetas e nuvens
E ventos e raios e relâmpagos
E pássaros e aviões e chuvas respingadas ou torrenciais
E sonhos e seus prazeres extra-terrenos,
Fora do nosso alcance na imensidão vazia e luminosa
Do universo distante e próximo,
Ao mesmo tempo

Mas é no chão que eu finco minhas pegadas
E sigo ao longo das vias e corta-caminhos
Que irrompem a cada movimento, seja este movimento
Meu ou do próximo –
Porque se tem algo que eu vejo além dos meus próprios pés,
Este algo são bem os outros pés calçados
Que margeiam os meus...


                                                                                                                                      Zé Daniel
Alavancado de Moedas no sofá... um Raio-X

Preciso de Alguém



Preciso de alguém
Que segure a minha mão durante o vôo
E me ajude a esquecer que no ar
Só basta uma chance pra dar merda

Preciso de alguém
Que explique que não há problema em relaxar
E me faça sentir tranqüilidade
Nos momentos em que só penso na cagada

Preciso de alguém
Que saiba me segurar alguns copos
E me possa evitar todos meus estragos
Quando já miro a próxima tragada

Preciso de alguém
Que veja além da carcaça rabugenta
E me mostre que posso me sentir bem
Mesmo achando que não valho nada

Preciso de alguém
Que me tire para dançar
No balé astrológico das ninfas
E não pergunte se eu o quero

Preciso de alguém
Que me afaste de mim
E me extirpe a identidade

Preciso de alguém

                                                                
                                                                                                                          Zé Daniel
Alavancado de Dor de Cabeça

24 fevereiro 2013

Ixi!


Ixi, Vixe, Fetiche!
esse pastiche de desejos
de fuder em sanduíche
se amarrar em uma beliche
e chupar um pau de piche
coberto de haxixe
Lambuzar-se de quiche
padaria que se lixe
e cheirar pó de grafite
se esfregar em madeirite
contrair amigdalite
no veterinário.

Lamber lenha que se rache
e a racha rosa que se irrite
com o raio do Terceiro Reich

respirar o bafo iídiche
sinagogas de Recife
se pá usar quipá na pousada chique

Abdicar do direito de revide!
Vixe!

Sem que se arrisque
viver o fetiche
de manter o falo em riste
frente ao cônsul de Bangladesh

se mexe cacique! Olha o rifle!

Dizer eu não disse
pra Jés-si-ca
De onde é que veio
essa hidrelé-tri-ca?
Por que minha mão
no verão
é epilép-ti-ca...

[Te pego de tapa danada,
Me aplaca!
Minha mão pulou em ti à toa
Panela velha, inválida!
é que faz comida boa.]

Meu Sade é velho
com hálito de reprise.
Tem cheiro de cemitério
e feromônios de chiste.
As bolas vem
novas, coloridas.
Há choque e achaque.
Porém sempre os mesmos,
os pinos do boliche.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu


22 fevereiro 2013

Atrás da porta

Encontrou a morada
que tanto esperava você?
laralílaralará
e seu estado de ser?
Você há de convir
bastou pararmos 
pra se abrirem todas as portas
Ser é ficar
e partir
Fique por hora
Me conte outra história
sobre algo como
a graça vacilante dos homens
Aquela vez, aquele caso
Sua paixão pela âncora do telejornal
que aconteceu assim...
na solidão dos seus dias
um sorriso entre os destaques da China! 


Sandra
Alavancado de Retorno

Retorno

Que bom que voltou, entre, sente, seja bem-sucedido, sinta-se em quanto tempo, está magro, seus olhos  estão fundos parecem os mesmos dias cem sem fim, de desistir e ter medo de você chegar e aí desistir é o quê, quando se diz ao vazio? Quatro horas e você de novo sentado as pilhas de papel no seu quarto  nossa maritaca que fugiu, e encontrei você hoje  e se te sirvo um café, o que isso quer dizer? Quer tomar um banho? As roupas dobradas no caminho do supermercado torci o tornou-se uma sombra o sorriso amarelo se de todo coração ver você é o dobro de algo que passsado uns dias desliguei a luz do abajur e por mais que fique à vontade de dizer que suma.

C. P. F. -  Caio Poeta Fariseu

Alavancado de Mate um leão!

21 fevereiro 2013

Uma mesa única

Uma mesa e quatro cadeiras.
Em cada cadeira uma pessoa e em cada pessoa um copo.
Em cada copo uma bebida e em cada bebida uma história.
Temos no total quatro histórias, quatro bebidas, quatro copos, quatro pessoas, quatro cadeiras, mas só uma mesa.

Primeira história:
Termina nesse copo na mão e nessa mesa única de compartilhamentos. O seu começo, entretanto, difere dos demais. Não é uma história única. História constante. História contada todos os dias. Acordo e trabalho. Essa é a história, sem começo nem fim. Acordo e trabalho. É a história semanal. Fim de semana a história também não varia. É uma história derramada num copo com mais três histórias.

Segunda história:
É diferente da primeira em razão, mas não em finalidade. Acordo e dou bom dia. Vivo o dia. Trabalho e destrabalho. Faço e desfaço. Não gosto de patrões e nem eles de mim. Faço desfazendo e vivo desvivendo. Só não quero a vida de "acordo e trabalho". A finalidade cai na mesma, não penso em mudar nada, mas a minha razão não é seguir. Minha razão tá em não. Minha razão é descaminhar quando se caminha, é destoar quando se toa. Mas a finalidade é a mesma. O copo é o mesmo. A bebida é a mesma. Mas as histórias são quatro, apesar da única mesa.

Terceira história:
Essa não é história nenhuma. Nem quis e nem vou querer. Esse é só mais um copo do mesmo. Só mais uma dose de continuação. Não vim de lugar diferente e nem quero chegar, eu já estou. Esse copo é o bastante. Meu caminho não cruza porque é caminho parado. Não ando e nem quero. Não continuo e nem termino. O copo fica e no copo está o que estava ontem. Amanhã vai estar mais uma dose de continuidade.

Quarta história:
Se queria a revolução na minha história, eu queria a revolução na minha dose. Não estou de acordo com as três histórias dessa mesa única, mas também não estou de acordo com história nenhuma. Tenho fome de história nova. Tenho sede de história ainda não vivida. Não sei por onde e não sei como. Eu só sei querer. Eu só sei desejar dose mais amarga. Só sei querer andar por caminho não andado. Só sei ser revolução. Revolução feita na palavra, no gesto, no sentir. Revolução feita da boca, da mente e da mão. Manifesto no meu corpo, manifesto no meu copo, manifesto nessa mesa única de quatro copos corpos. Se vai, não sei. Eu sei que no brinde as bebidas se trocam juntas com as ideias e de lá fica algo heterogêneo numa mesa única. Essa é a minha ideia de revolução.

E numa mesa única de quatro cadeiras, quatro copos derramam o mesmo líquido em gargantas que pedem por coisas distintas. As quatro mãos brindam o mesmo motivo mesmo ansiando por caminhos contrários. Quatro histórias, quatro copos e uma única mesa.


LP




O sonho das quatro cadeiras

Uma grande mesa quadrada ao pé da macieira
                                                                   Em cada lado
                                                                   uma cadeira

                                                                   A planície deserta
                                                                   A passagem do tempo
                                                                   A música
                                                                   e o silêncio

Na primeira cadeira se acomodou um gênio
                                                                  exige vinho
                                                                  e dedicação

                                                                  Um lagarto branco
                                                                  atracado ao tronco
                                                                  o observa
                                                                  tranquilo, eterno

Na outra extremidade permanece uma senhora
                                                                 reza dias inteiros
                                                                 à sua maneira

                                                                 Quieta
                                                                 cria origamis
                                                                 enrolando os pés nos rios
                                                                 segura o tempo entre as pernas

Na terceira cadeira pousam todas as tardes
                                                                 alguns pássaros
                                                                 trazendo melodias
                                                                 de um índio chamado cachoeira
                                                                 pura sabedoria de outras terras

Por fim a quarta cadeira esta reservada

                                                                 aos sonhadores de espírito
                                                                 atravessadores de fronteiras

                                                     autores
                                                                inventores de medidas

                                                    mentiras
                                                                apanhadores de granizo

                                                  descalços
                                                                contadores do infinito




Lá os homens gritam seus deuses
                                                  um eco de séculos
                                                                             uma reserva de sonhos






Sandra

Alavancado em esforço oposto de Moedas no sofá... um Raio-X

10 fevereiro 2013

Moedas no sofá... um Raio-X


Via pelas lanças montes de entulho e seguia
e os apartamentos mofados à frente fediam na minha visão

               _ Um raio-X
               _ Tem certeza?
               _ Sim, eu perdi a moeda no sofá...

...
...

Depois, me sentei no sofá, desencanei de seu olhar atravessado e tomei o último trago.


                              _ Mais 3/4 de aspirina.
                              _Mais três quartos na sua sala.

Eu precisava mesmo, foi com uma faca, rasguei o couro, as almofadas, arranquei as molas, o estrado, não seria um estrago se tivesse encontrado.

                                                   _Mais o último quarto?
                                                   _Rasguei todas as paredes.


                           Olhe que maravilha do horizonte!
                           Olhe o musgo da parede do próximo!

                                                                    _No próximo desce motorista!

... E com um ar bem natural, ele não me ouviu.


Quantos passinhos cabem nesse espaço?
                                     Entre eu e ele esse busto do Getúlio Vargas que só me deixa ver suas botas.

E me encontro nesta situação desconcertante e eu não sei quem eu respeito mais: o busto daquele homem morto e marmorizado ou você...

         _ Abra a boca aí paspalhão! Diga o que você vale. Vai e se entrega logo, desentupa essa laje!
...
...
...
        Raio X, Raio-X de mim.

E só o que vejo é uma carcaça pobre, um desejo de amor nunca, jamais correspondido.

                Eu peguei o pote,
                Corri o arco-íris inteiro,
                Em azul, verde, vermelho
                Mas eu não posso abrir.

                Lançado até o horizonte.
                De todo esse minho.
                Fotografia óssea.
                Na carne do moinho.



LP

2. Jogo de Mesa






09 fevereiro 2013

As pupilas congeladas da Mônica

Estamos conversando, ajustando idéias
pensando no futuro...
deixando ou tentando experimentar
planejar demais deixa a desejar

A cabeça se antecede medo da frente
do corpo travado de espanto.

Difícil ser espotâneo
pensando no futuro
menina que só pensa no passado,
presa entre ela mesma e o resto

Pregadas com ferros enferrujados.
Afogada na piscina de bolinhas do condomínio fechado.
               e que bosta! que merda!
                               esse jardim de Perdizes!
Essa Cardoso de Almeida      
como o parque da Xuxa
e aquele cara com a cabeça da
Mônica, um cabeção gigante
               e pupilas congeladas
                mãos de espuma

o gozo foi tanto que ela quase explodiu bem ali,
A sede foi tanta ele quase esparramou aqui.
Pregadas com a Mônica
O mesmo cabeção gigante nas mãos de espuma
Enferrujados e pupilas congeladas
Toda a admiração congelada
ao olhar do mestre
O mestre dentão
Eu vi o raio X
as raízes estavam desde
a cabeça, cravadas no crânio
Os dentes podem gozar também
Ahu! Mônica!
                                                                                        Jurandir Dente D'ouro
2. Jogo de mesa

08 fevereiro 2013

Estudo boca a boca


Alavancado de As Sombras no Apartamento

Sandra 

Dor de cabeça



Eu
não quero mais.



Não quero acordar
com o desespero 
enforcando a garganta
querer abraçar
e a sala vazia.

Não aguento 
a loucura
da noite anterior
chega disso
Amanhã sei que se repete

Levantei 
e procurei
na sala
no banheiro
na cozinha


Isso precisa sair
e não quero mais 
rabiscar a demência na parede


Precisa sair
de algum jeito
chorar
vomitar
cagar
gritar
arranhar
sentar em baixo da água quente
com a pele já muito quente 
da falta de alguém na sala.


já aconteceu com a cama ao lado 
cheia de alguém
veio de soco
de súbito
de envolver
O desespero 
consciente
incontrolável
Nem o abraço da coberta alivia


eu preciso de alguém.


Ela me disse como se fosse
fácil.
Muito 
simples.
"Talvez,
você precise de alguém, vi
De uma pessoa específica"


Eu sabia.
Fazia tempo.
e você acha que é fácil
ver
entender
admitir
saber
decidir
querer


pois não aparece.
eu já quis 
não me quiseram.
e e assim,
"você precisa de alguém"
é verdade. 


Não sou eu quem decido
Depende do outro
querer ficar.




Alavancado de As sombras no apartamento
Vitória Teivelis

Mate um leão!

No momento em que brilhou
a voracidade ceifeira
eu pensei, pensei, foi por pouco
todos foram embora
- imagine só o prejuízo!

A carcaça felina jogada no lixo.
O adestrador chorando
no canto da lona fria.

- Mate um leão por dia!

em outro tempo eu diria
- sou capaz!

mas hoje meus olhos
perderam
as regras
e as garras

Segui e pensei
Se devesse. Se tesse.
se ao menos eu pudesse
medir o deslize
da foice
do enfim

Me fui
uma saída à francesa. 

E a velha fábula infantil?
As garras do progresso?
sem crise, sempre quis
divertir-me
sem ninguém agredir
subir em carcaças
simplemente quedarme así
tranquilo,
sin resolución ni futuro



Sandra 

07 fevereiro 2013

O marreteiro sem juízo final


ótica, ética, ótica
quem tem boa vista
e só vê o que gosta

ótica, ética, ótica
pensar sobre a vida
me faz sentir cócega

ótica, ética, ótica
valerá a vacina
que crente tomei outrora?

Ótica, ética, ótica
essa voz que te avisa
que sim leva à próxima
ótica, ética, ótica
a um novo prisma
à mudança de rota.

Décima dócil docílima
fuga inóspita.

- Ei, leva um cartão! Trouxa.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de O cubo mágico