26 fevereiro 2013

PróXima



Ela me pergunta se eu vejo o arco-íris,
Se eu gosto de mirar o horizonte ad eternum até ter uma epifania
Qualquer sobre o sentido da vida,
Pra depois esquecer e
Então começar de novo

Já respondi mil vezes que só olho para o horizonte
Quando estou cansado de olhar pro chão,
E essa fadiga geralmente não me alcança
Porque eu gosto de saber por onde eu estou indo;
E ela me repreende, dizendo
Que eu deveria olhar mais para os lados,
“tirar os olhos do meu umbigo”!

Eu digo que não tem nada a ver;
Eu olho pro chão porque realmente gosto
De ver por onde eu ando, onde repouso meus pés enquanto caminho,
Pr’onde será que aquelas passadas podem me levar
E como eu vou chegar no próximo passo,
Na próxima esquina, na próxima cidade,
Na próxima cama

Na próxima estrada que vai me guiar pra outro lado
Que não este no qual eu me encontro de momento

O céu pode ser um bom guia, com certeza,
Com suas estrelas e luas e sóis e planetas e nuvens
E ventos e raios e relâmpagos
E pássaros e aviões e chuvas respingadas ou torrenciais
E sonhos e seus prazeres extra-terrenos,
Fora do nosso alcance na imensidão vazia e luminosa
Do universo distante e próximo,
Ao mesmo tempo

Mas é no chão que eu finco minhas pegadas
E sigo ao longo das vias e corta-caminhos
Que irrompem a cada movimento, seja este movimento
Meu ou do próximo –
Porque se tem algo que eu vejo além dos meus próprios pés,
Este algo são bem os outros pés calçados
Que margeiam os meus...


                                                                                                                                      Zé Daniel
Alavancado de Moedas no sofá... um Raio-X

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