02 dezembro 2011

Hidro-metafísica

Se fosse falar de alguma coisa começaria por não saber por onde começar. Devo falar sobre o tempo sem falar de nuvem vento chuva. Falar de dentro do meu tempo sobre o tempo em que estou vivendo.
Fosse falar, me seria necessário criar de novo o pasmo fundamental do homem que mira o mundo. E já se disse isso. Se esculpiu, se expressou. Se imprimiu o som deste suspiro e em graves notas se o tocou. Já se fez alarde e medo, disto já esqueceram. Mas nenhum de quem me lembre num ficar frente obra toda, jamais se esquivou do alheamento que precede o pesaroso pasmar.
Sob a chuva me molho de uma água milenar que em seu tempo tem todo o tempo, caiu, cai , cairá. Umedecer no infinitivo as terras de Jerusalém foi seu  passatempo, quando era nova, e hoje, nova, novamente me diz rio poça goteira inunda.  E tchau e ontem e céu. Me belisca a bunda com a mesma malícia que ao grego encantou. Chove presença e constância, pra baixo, sua norma que nunca esqueceu.
O mesmo não se pode dizer da vida que cai de cada cor. Choveu ontem tão breve, choveu hoje demais. Meu prédio ficou azul, meu tédio se fez lilás. O tempo deste agora têm cheiro e tessitura. É feito desta matéria-prima, mede este tanto de largura. Cantar em 2011 ecoa anasalado, ou fundamentalista, ou neoliberalista, anti-cinético conectado. Não fosse diverso o tempo não se roía a têmpora. Não fosse diverso o tempo, não era tempo, era chuva.
E tempo não é chuva, não se vê água minuto, não há desgaste em ser fluído, não há história em meio litro.
Meu tempo se fosse falar diria Deus não existe mas arrisco no palpite se render bons dividendos. Diria centro e extremidade, diria plus, empty, nice to meet you até mais tarde. Diria que ainda somos homens, mas diria assim, ainda...Meu tempo sorri, sorry, não pasma de estar vivo, mas que haja vida.
Onde palavra se come sem talher. Tolher a carne, situar-se. Em peças de silício talhar silêncios. Embargar soluços ao microfone...
Se fosse falar dizendo uma coisa de cada vez, não diria meu tempo, diria um, dois, três. Como se a ordem rua calçada prédio não coubesse em um meio-fio, como se uma música de amor fizesse soar amor quando músicas de amor, sabemos, só dizem olhe-se, instrução banal.
Forjar compreensão de trevos rodoviários, o retorno, a alternativa, os caminhos não traçados e o caminhar.
Escorrer como fosse escrever.
Fosse falar diria hoje, e de minha boca sairiam lágrimas, que sendo água não estão no tempo.

C. P. F.  - Caio Poeta Fariseu




05 setembro 2011

Como a al-Qaeda chegou ao poder em Trípoli


Replicado de   Rede Castor Photo.

Abdelhakim Belhaj

O nome do homem é Abdelhakim Belhaj. Alguns o conhecem no Oriente Médio, mas poucos no ocidente, algum dia, ouviram seu nome.
Vamos por partes. Porque a história de como um comandante da al-Qaeda acabou por converter-se no principal comandante militar líbio na cidade de Trípoli ainda em guerra, põe por terra – mais uma vez – a selva de espelhos que se conhece como “guerra ao terror”, além de abalar profundamente toda a propaganda de uma “intervenção humanitária” tão cuidadosamente inventada para encobrir a intervenção militar, pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na Líbia.

22 agosto 2011

Sandra disse...





Coitadas dessas mulheres
que pra você são
depósito de gozo
encosto de beleza

Mulheres que
depois de esgotadas
tornam-se o esgoto
de tuas fraquezas.


                                    Minhoca Rubi          








Alavancado de Passeio noturno.

Gestando 7

Perpetuando a vibe maneira do "em se plantando tudo dá",
insistimos no "em se espremendo tudo escoa",
fazendo literatura descongestionante nasal,
purgando em devaneio.
Fazendo do hábito um sólido
(apalpando a controvérsia desta frase),
fizemos do sim um meio,
 fizemos da troca um módulo,
 baixamos inerte o receio
e sobre nós choveram palavras,
lugares e luzes.

                                                                            C.P.F  - Caio Poeta Fariseu



Alavancado de Gestando 6.

Slavoj Žižek: Assaltantes de lojinhas do mundo, uni-vos!

Replicado de Rede Castor Photo 



A repetição, segundo Hegel, tem papel crucial na história: se alguma coisa acontece uma única vez, pode ser descartada como acidente, algo que poderia ter sido evitado se a situação tivesse sido conduzida de modo diferente; mas quando um mesmo evento repete-se, é sinal de que está em curso um processo histórico mais profundo. Quando Napoleão foi derrotado em Leipzig em 1813, pareceu má sorte; quando foi derrotado outra vez em Waterloo, ficou claro que seu tempo acabara. Vale o mesmo para a continuada crise financeira. Setembro de 2008 foi apresentado como anomalia que podia ser corrigida com melhores regulações e controles; hoje se acumulam sinais de quebradeira nas finanças e já é evidente que estamos lidando com fenômeno estrutural.


Vênus sem vestido é estátua

Falta cor na vida dela
veia transparente corre só
tinta fresca
sangue que amarela

Nua vestida vermelho
peixe de pesca
a tela pisca pra porta                                                                    
janela do espelho

Falta vida na cor morta
transparece quadro branco
semi-porta rouca
lágrima sem grito é pranto

Pulso, veste a roupa
Sai da cama e vai à feira
pé de dama não é cavalete
delicadeza é ser por inteira.


                                                                     Tilene                                                                                       
 
Alavancado de Cultivo.

21 agosto 2011

Amor Clichê (poema para língua)



Fugindo do enfado
enfiado em refugo
de carnes
melosas de pele
escorrida
à gruta, que brotam suores,
os melaços
das pernas abertas.

Enfada o carinho clichê?

Maestria composição
mastro rijo
em boca bucaneira
buscando erotismo
cantado na língua
saliva de sábias falas,
excitando em seu som
palavras degustadas por infantes
que à proa nau,
seu punhal empunham
prontos a enterrar,
na redondeza maior
das ideias quadris
desespero despejo.

                                                                    Jurandir Dente d'ouro.

Alavancado de Decomposição:

09 agosto 2011

Eu passo a vista









Assombra se erguendo dos prédios
o medo de olhos perdendo
de vista do peito
a presa incisiva
de mil predadores.
A cegueira do visto obrigado a ver.

O olhar é uma prisão
do costume.
Um custo à paga
direito do justo
direto da privacidade
privação.

Retire as retinas largas
de cima de mim.
Meu hábito visto,
privado à fazer
o olhável.

Vejo mim privado
à prisão do meu
hábito olhar.

                                                                                                                      
                                                                        Jurandir Dente d'ouro.

alavancado de Parfum de bode.

27 julho 2011

Parfum de Bode

Admoestar, admoestei. Juízo. Se valesse...Certo é que nessa idade precoce vai de um lado a outro, passa vazado. A visão do certo é turva, o laço da retidão desparelha. No córrego sujo...

Aconchegada. A fome, maior inimiga, sob rédea curta dominada. No escuro aquele rubro conforto.   Seu corpo comprido distenso quase a sonhar. O acalanto de tépidos humores.

É que não tava sozinho. Pra coisa errada o passeio é de matilha.Vizinho que só serve pra xícara de açúcar. Agora tá lá. Pergunta se o filho da Neide...Só ele que processa devagar, que não tem juízo...

Como combater o sono quando embalar é a conduta do mundo, quando comer é concluso e o calor quieto, de uma quietude entorpecente?

Vê se pode, naquele córrego sujo! Tinha que ter alguém olhando, havia quem cuidasse, mas também, quem vai imaginar, moleque crescido! Que ele sabe, sabe, só se faz de besta.

Nem por um solavanco cede ao sobressalto. Pra quê? Morno é comportamento, estado de espírito. Sua missão é viver, reproduzir, fazer o melhor, ser grande.

E depois vão me dizer que é da família: Porca a mãe... O problema é que não dá pra gravar nele que nem computador. A gente fala, mas o que pode o zêlo contra a tolice?

Há um descompasso. Aquela ninharia de cautela, sumida, jogada num canto, vem esbaforida só pra dizer: estamos descendo.

Pôr na boca, assim como se passasse fome, como se fosse bicho...Comendo terra... Chegou pra mim todo feliz, os beiços ainda pretos, parecendo cachorro que enterrou sobrecoxa.

O mundo balança e comprime, demais. As curvas não assustam quem se curva pra andar. Sítios estranhos, velocidade comedida mas sem reticência, fluente. Ela se esparrama e vai.

Agora tá lá, arrependido, curtindo as fibras de seu vacilo. É bobo, aposto que o vizinho o sacaneou.  Assim aprende.

Sem abrir os olhos ela pressente a luz. Um ponto, ofuscante.

Mas vai sarar, dei remédio, não destrato porque amo. Aquele ventre saiu do meu.

Uma brisa úmida, a brancura insossa do abismo de louça.

Moleque tapado.

Desencarnar, reencarnar. Um acesso de partido ambíguo. Quase cuspida a lombriga cai.

O pior é o cheiro. Queimei incenso. Ficou aquele Parfum de Bode.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu



Alavancado de Decomposição:

23 julho 2011

Decomposição:

amor nekrós ou queima de arquivo e o ciclo do entra e sai

Muitas, mil, milhões, minhocas por toda parte. Num escurinho úmido mexendo cá, um pouco pra lá, roçando de um lado a outro, brincando de extremidades, boca e ânus em lugares opostos, que quanto mais roça mais viscosa, muco pra cobrir famílias enroladas em tranças danças e risadas.
Execução exagerada de fricção gera erupção. De cima pra baixo vê-se que se abre um buraco; minhocas em mucosa lisa escorrem pra riba em frações de segundos. Todas aglomeradas se querendo umas as outras formam um único corpo molusco sambando bêbado pela superfície. Terreno meio baldio. Meio no meio do mato. Desova daqueles que batem botas.
            Mas no meio do caminho que se acha algo fresco, macio. Deitada ali, bem a vontade, oferta de carinhos, deslizadas coxas uma na outra mostrava a calcinha pequena mal colocada por cima da virilha. Tinha terra embaixo das unhas, tempero de prato feito, água na boca. Marcas vermelhas roxas em pele pelada clara lisa. Generosa bem servida pronta pro deleite, delírio de molusco ativo, alfa viril. A continuar babando foi-se diretamente atrás do cheiro daquele pedaço de carne ali disposto de pernas abertas esperando coito.
            Babava em toda parte que tocava, desde dedão do pé subindo em batata de perna, e cada vez que subia mais um pouco molhada ficava a pele e a baba que escorria do amontoado mole hermafrodita. Olhando pra cavidade inferior não houve trabalho nenhum em enfiar-se pra dentro, mucosidade em potencial pleno, penetração anal. Fricção exagerada generalizada. Um belo passeio intestinal (ouve-se o som do mexer-se dentro, embebido da gosma lubrificante), estendido pra estômago, faringe. Erupção pela boca, orelhas, tantos orifícios...
           
R.G.


Alavancado de Passeio Noturno

22 julho 2011

Passeio Noturno

Corriam atrás de umas carícias mimosas, dessas bem fresquinhas.
Vagueavam por entre uns couros colados na ancas de peles morenas das mais tenrinhas, bem ali, onde o vermelho reluz. Tem horas que fazem pensar que o couro moreno não se intimida de nada; nem uma arrepiadinha de contentação ou timidez do frio.
Saltando em poça de caçadas destratadas o relaxo do nego largado no gorfo e risadas, grintado um rouco bêbado vontade de tudo a descida lasciva da rua.
Calçadas coloridas. Calçadas geladas em plena garoa, e crianças descalças planejando a trombada no tio que negou a moeda.
Night’s pisca vermelha e rosa e azul e caribean e Maison e american e drinks e garotas e dar uma chegadinha grande, show erótico cerveja na faixa.
Mas a goela é incessante. Não se exita à nada; pleno êxtase noturno. Delírios de consumo da fauna cosmopolita. Cada gole como a porta do próximo, quase que uma vontade suprema de um desejo que quanto mais, mais. E mais.
Você vai engolir. Tudo que eu mandar. Meus gozos são seu ofício.
E correm soprando fumaça de cima e crianças e ancas, garoa e alegria de gozo instante, apenas de ser quem se é, bem ali, no meio de tudo.
E correm. Correm insatifeitos e correm no sentido prazer.
Correndo. Sempre.

                                                                                   Jurandir Dente d'ouro.
Alavancado de Cultivo.

14 julho 2011

Peixaria

Latas de sardinha fazendo curvas pra esquerda, pra direita, sardinhas malucas desenfreadas perambulando e tossindo em congestionamento, gesticulando pra outras latas e suas respectivas sardinhas presas a invólucros prateados metálicos oleosos. Lentamente o sol vai lambendo o peito das capotas enfileiradas durante todo o dia, ofuscando a vista dos despercebidos, chamando pra si a atenção dos distraídos, dizendo quase nada, só que de cá passa pra lá em movimento elíptico, singelo, e tão efêmero quando acarinha o horizonte. Mal, o cheiro de peixe ao sol, ainda assim estalado no asfalto, fora d’água a debater-se entre cotoveladas de multidão, correção de formigas bípedes que se trombam e não se comunicam, quase nem trocam calor, sem uma mínima percepção de feromônios flutuando em trilha, nem ao menos pra admirar o rabo de saia passando adiante, às vezes atravessando. Mas quando pode-se parar pra pensar no bacalhau andante, a coisa muda de figura. A metamorfose é instantânea, que de um borrão no meio de borrões nada a distinguir pra um fisiognomonista, um babão tarado lobisomem agora uiva a luz de lua cheia e o nada não o atravessa sem sua devida atenção, mais um maníaco pros noticiários sensacionalistas, d’antenas atentas.
Parece que ouve-se cada vez menos por aí notícias de óvnis pela atmosfera terrestre. Desconfia-se da falta de interesse alienígena pela raça humana, afinal, o que é que mais que estas cobaias poderiam inventar de fazer no fim dos tempos? O novo não me choca mais. Nada de novo sob o sol. Eis o argumento que não quer calar. E olha que por mais que se procure entre radiações eletromagnéticas, a princípio através de Heinrich Hertz, posteriormente de Orson Welles, paira uma sensação de vácuo nas perspectivas otimistas de messias pós-modernos andarilhos pelas ruas abandonadas de qualquer que seja o quê que é que vai resolver procurar a cura pras novas doenças psicológicas da vida na sociedade contemporânea. Sensação de sufoco, alucinação coletiva.
Vai saber? Talvez uma tecnologia vinda de alguma fagulha de meteorito de outra galáxia ajude a uma raça tão desesperada a criar uma lata de sardinha à prova de explosões atômicas. Talvez assim cada um que trancado dentro de sua respectiva lata possa, depois de colar uns fumê no vidro, ligar um rock’n’roll no talo pra ensurdecer e estourar os próprios tímpanos, justifique o egoísta e impulsivo incentivo caótico da indústria automobilística, e o consumo de petróleo (que por hora inunda as latas de sardinha) e suas tantas guerras patrocinadoras de dívidas geradas por empréstimos financeiros pra cobrirem-se da cabeça aos pés, até os dentes, com armamento bélico, x-burgueres e cosméticos. Aí sim, que tudo vá pros ares! 

 R.G.

Alavancado de Tétrica culinária.

Novas linguagens

- Foi mais ou menos o seguinte, o caso lá do rapaz, o doido. Eu tava trabalhando na linha Pq. Edu Chaves que vai cortando ali pelas ruazinhas do Brás, sabe? Faz uns dois ano isso. Tava eu e o Chiquinho, um cara lá antigo na firma, um baixinho de bigode, se bobear tu já fez viagem com ele. Foi nesse dia aí que apareceu o doido. Eu falo doido assim que num sei quem era, o safado fugiu que ninguém pegava no meio do mundaréu. Era umas duas da tarde e nóis tava com o carro lotado. Naquela linha vinha muita senhora, criança, um pessoal sossegado, era raro que acontecesse algo assim. Eu mesmo nunca vi. Nem ouvi falar.
Pois foi que a gente virou uma esquina depois de pegar o pessoal no ponto e aconteceu...
- Eu vi quando ele saiu da rua de trás ali. Num tava nem prestando atenção mas o moleque tava de suspeito com um olhar desses de quem vai fazer cagada.
- Quase derrubou uma senhora, num olhava pra frente, nem pro chão, tava em outro mundo, era doido.
- Eu tinha acabado de entrar no ônibus com umas amigas pra ir pra Mooca, a gente tava atrasada e aparece um doido desses! Ai, aqui não se tem sossego menina. Vira e mexe os buêro se abre e sai essas peste pra atazanar a vida da gente.
- Já tinha visto o rapaz antes, não lembro aonde. Tipinho estranho...
- Tô zuando não Filipe! Pode pergunta pra mãe. A gente tava no banco da frente, eu tava no colo dela e vi bem quando ele correu...
Corri, de braços abertos, a sacola na mão, fiz o ônibus parar.
-Aí ele tacou...
-Ele jogou...
-O doido!
Um lançamento certeiro no pára-brisa. Foi fácil, eu tava perto.
- Espatifou no vidro.
Minha merda.
- Era merda que o moleque tacou, o doente!
Por um instante permaneci parado, sacando a reação.
- Mas que porra é essa?!
Fui ali centro de olhares, atenções.
-É merda Chiquinho!
Senti algo interessante, um comichão na palma das mãos.
Palpitava no peito. Suava todo inteiro.
- Ô sem vergonha!
Um espasmo me advertiu. Fugi.
- Segura o filho da puta!
Nunca minha merda foi tão longe.
- Doido? Nada, era artista.




12 julho 2011

Tétrica culinária

Corta!
É o fim do dia. Nem uma gota mais de azeite. O impulso é pular a bancada, arrancar pela porta, descer deslizando as escadas destes andares pestilentos e alcançar a rua. Com um visível desconforto tira o jaleco de alvura impecável desabotoando as mangas cortadas à justeza de seus pulsos. No colarinho se acumula a base que pretendera dissimular o suor vinagrete de Pierre. Seus sapatos ninguém duvida que fiquem invisíveis às câmeras sob a mesa, mas não há argumento que dissuada o diretor, por isso seus pés de unhas cultivadas sofrem todos os dias horas de asfixia durante a gravação.
Pronto! Está livre. O pensamento que aconselhava uma fuga imediata continua a circundar sua mente:
"Não aspire tolices, Pierre Boyé, bem sabes da dor de teu flanco, aquela queda no pólo dominical. Não pula, não corres, nem rebolas, est un garçon estropié!"
No passo suave de suas alpercatas italianas - conforto, ah, je merrreço! - deixa o chef aquele antro de patetas audiovisuais. Despede-se das camareiras - de Marlene também, com quem não falava a dias - do ascensorista e do porteiro - un garçon très bigodudo - e, lamentando a enorme extensão do estacionamento subterrâneo, acelera e sai ao volante (o auto acompanha sua lamúria em roncados baixos de desalento).
A noite paulistana reflete-se nos vidros de seu veículo sem abalar por um segundo que seja o devaneio do esteta: "Pepinos, rabanetes e caralhos cozidos! Querro a font du sabour da vide! Non televisón ni batates recheades! Je anxie le absolut, le total, le prrrato fundamentél!"
As idéias de Pierre seguem o fluxo, se enfileiram entre os prédios do Brooklin na orla da Marginal apinhada por onde tenta em vão trafegar. Sob seus olhos o anúncio do novo condomínio transfigura  uma imagem amorfa, um indício: "É belo, mas não vejo les ingrredients! Ó mirragem que me enfastia!"
Através da dúzia de metros que o separa do outdoor, cruza toda sua ambição e frustração desviando dos   carros de passeio, caminhonetes, motoboys, do carbono semi-permeável e dos guard rails, escalando alpercatas brancas na graxa da escada, lambendo o painel. O pincel do gourmet  parece uma língua.
- Que mérde de congestionament!
Sem  que avançasse mais de um metro pela via, desiludido, interrompeu a ingestão suicida de antidepressivos,  -  A última, je non support! - quando avistou na margem do leito negro do rio algo que lhe capturou a atenção.
- Voilá!
Em formas esguias se destacava sob as lâmpadas incandescentes um grande e belo fungo. Firme, sobre a boca de um esgoto torrente.
Pierre, sem pensar, desceu do carro, saltou o guard rail e avançou através do mato alto ao som das buzinas e de seus alteregos. O barro de tom enegrecido cobriu seus pés até o tornozelo.
- Esperre por mim!
Ninguém via, mas seu suor pingava pouco fotogenicamente. Depois da parte mais funda do lamaçal, eram apenas poucos metros. O cogumelo de superfície oleosa desprendia um odor espesso e tomava já toda a visão de Pierre. Três, quatro metros de circunferência, o matiz enrubescido dos fungos dos campos de Nantes. Era um tesouro.
- É meu!
As mãos ávidas de Pierre não se continham, o previsível aconteceu. A um toque estabanado do grande chef desprendeu-se com facilidade - não havia raízes, brotara de um sonho - o cogumelo alcançou as densas águas do Pinheiros.
- Champignom!
Gritou Pierre enquanto ele se afastava.
- Champignom!
Chorou. A noite comia seu ingrediente proibido. Estava feio e triste.

C.P.F. - Caio Poeta Fariseu





Alavancado de Receita do Reino Fungi.

11 julho 2011

Receita do Reino Fungi

Que venham agora cogumelos, aqueles tão radioativos que realizam mutações genéticas hereditárias pra tantas gerações que não o fritam na manteiga:
Procure um pasto com folhagem rasteira, sem sombras na dúvida, em dia de sol que seja antecedido por orvalho na madrugrada, preferencialmente nas proximidades da ilha de Honshu, perto das 6 horas e 8 minutos da manhã. Observe cuidadosamente os fungos encontrados, e, rigorosamente, escolha aqueles que tem uma grande chapeleira de cor cinza, ou muito aproximada, com textura de aparência algodoada e leve. Atenção: não confundir com as espécies Amanita muscaria ou Psilocybe cubensis, estas podem provocar sérias alterações no sistema cognitivo humano.
PS: o cozinheiro não se responsabiliza pela utilização de qualquer outra espécie de fungo que não seja   semelhante a descrição sugerida nesta receita. (conferir tabela abaixo).
Depois de lavados, separe os chapéus dos caules e corte em cubos médios. Aqueça uma frigideira em fogo alto com uma colher de manteiga e lance os cubos de cogumelos. Acrescente salsinha picada e shoyu a gosto. Tempo estimado de 19 minutos e 45 segundos. Comer com hashi. Com vinte cogumelos aproximadamente, serve-se uma família de quatro ou cinco pessoas por umas nove gerações com problemas de saúde.
Bom apetite!

R.G.


Alavancado de Nitro-trocado.

Nitro-trocado

Pessoa segundo os conhecidos, vizinhos e colegas de trabalho - de íntimo não tinha ninguém. má-companhia manifesta - de índole irrepreensível, de comportamento exemplar, de dar moeda pra bêbado, causou alguma comoção ao se espalhar invasivamente pelo Parque Ibirapuera, fazendo chover hemoglobina sobre os atletas, intestinos enroscando nas rodas de ciclistas, o seu apêndice no sorvete de morango. Por via de carta anônima à imprensa soube-se que Giancláudio fora assassinado por um grupo extremista, os fundamentalistas do Barratossaikarô tinham ali a sua primeira vítima.
Ao, inadvertidamente, embolsar uma quantia estimada em nota de galo, novinha, meia-milha vista,cobiçada e escondida por Giancláudio, larápio pardacento de mui sabidos delitos disse-nos o comandante Otacir, ele, que foi ao solo e retornou para sequestrar a bela-adormecida, já não teria a oportunidade de retorno quando seu corpo se desfez em milhares de pedaços por um raio de 20m atingindo transeuntes e gansos brancos que passavam por ali.
Tratava-se da primeira detonação em via pública de um dos 'infectados'', como a grande mídia passou a chamar todos aqueles que a partir de então, em uma cadeia súbita e estúpida de eventos, infringiram toda e qualquer honestidade, todo e qualquer traço de caráter, toda a boa educação apregoada e pregada nas bancas de jornais, telejornais, webjornais, e lares - um pouco, em suma tudo o que de civilizado há ainda em nossa cidade, ao raptar notas-bomba de cinquenta reais nas calçadas esquecidas. 
Barratosaikarô depois de dezenas de explosões assumiu a autoria dos atentados, com imponência, importância, orgulhosamente. Por mais que não haja como olvidar a mácula perene deixada pelas acusações infundadas feitas contra o grupo Barratosaikarô - que o indiciam levianamente por falsificação de papel-moeda - ainda assim o que se sobressai aos olhos do caro espectador é a sagacidade destes homens e mulheres de destacada consciência cidadã, que por si, e sem esperar apoio ou autorização institucional realizaram uma mais que devida higienização de nosso convívio social, espalhando a bondade de coração, alé m de tripas. Suas ratoeiras se mostraram eficazes no momento em que nossa cidade necessitava, mais do que nunca, de uma extensa dedetização. A eles devemos nossos mais sinceros(somos sinceros, não poderíamos deixar de ser sinceros) votos de prosperidade e fortuna perante o poder cego e mal delimitado da lei.
Para o conforto daqueles leitores, que, se adiantando a este parágrafo, já imaginavam suas mínimas partes voando em todas as direções por um descuido, um olho desatento que divisa uma melancólica bétula no piso florido do outono e a colhe a mimar, deixamos claro que o grupo Barratosaikarô contactado pela redação, informou que promove uma triagem infalível de suas vítimas, precavendo assim indesejadas mortes de inocentes. 
O procedimento simples impressiona "Ninguém que valha a pena se agacharia por menos que um cartão de crédito " afirma José de Melo, 23, estudante e empresário solteiro que integra o Barratosaikarô.  


C.P.F   -  Caio  Poeta  Fariseu


 
Alavancado de Com bolsos vazios.

Com bolsos vazios


            Andava despreocupadamente, como aqueles que se costumam ver por aí, e já ninguém se emociona, a disparidade econômica mundial já tem tantos milênios na história humana que, mais um, apenas produz nojo. Afinal, que grupo de indivíduos de classes acima gostaria de compartir o mesmo espaço, público, com alguém vestido de trapos, com problemas para urinar e defecar em banheiros “privados” por, justamente, as classes acima não admitirem compartir a mesma louça, privada e assento com um indivíduo, segregado de uma filosofia que ninguém tem coragem de assumir, que cheira a urina e fezes para não ser “preso” por atentado ao pudor (quem sabe até desovado nos arredores donde os olhos de prefeitos não vêem)? As mãos aos bolsos me trazem uma leve sensação de despreparo, sinto uma grande falta das extremidades de membros que utilizo para tantas coisas...
Uma vez estava observando uma crisálida linda, semelhante a uma gota d’água que escorria da ponta de uma folha. A pupa começou, lentamente, a mexer-se, mas se mexia tão pouco que parecia até economia de energia. Passa-se pela cabeça: num mundo com tantas informações, que circulam tão depressa, como pode tanta calma num momento tão generoso da tecnologia? Pois bem, abdiquei da pressa e observei todo o trabalho que a pupa se envolvia, todo esforço que algo que mexia aquela casca dura podia fazer para livrar-se daquilo que sempre a protegeu e agora aprisiona. Depois de muito tempo, logo que uma cabeça de mariposa pôs-se pra fora, acompanharam um par de pernas. Esta foi a revolução daquele instante: a mariposa depois de por o primeiro par de pernas pra fora, partiu pro lado oposto da pupa feito foguete, impressionando com a variação da velocidade em que realizou o chamado “primeiro processo” (antes do par de pernas) em relação ao “segundo processo” (depois do aparecimento do primeiro par de pernas).
            A partir deste momento evitei colocar as mãos aos bolsos porque sempre me vem à mente, a velocidade em que eu posso realizar um “primeiro” ou um “segundo processo”. Mas é inevitável quando, andando despreocupadamente, vejo uma moeda, normalmente de pequeno valor, ao chão. Logo, abaixo-me para tomar posse desta moeda e levá-la a propriedade de meu bolso. Infelizmente, depois de quase como uma sorte do destino ter encontrado tal objeto tão bem quisto, a cerca de dez passos a frente, volto ao meu estado anterior; percebo que aquele bolso que tanto evitara estava furado.


R.G.

Alavancado de Um bolso cheio.

Um bolso cheio

Meu dia passa rápido quando estou distraído. Muitas vezes por dia fico distraído e não me preocupo com aquilo que me importa, com a única coisa que me importa, meu celular. Algum outro pensamento me toma a cabeça, a guerra na Líbia, o jogo do Palmeiras, se tem ou não comida na geladeira de casa, e passo um tempo absorto, distante, um tempo que não posso contar pois meu relógio é o celular, e se olhar para o celular para ver as horas ou contar o tempo de meu distanciamento vou me lembrar de meu celular e lembrar que estou esperando uma ligação, aquela ligação, ou qualquer ligação, no celular. Minha perna permanece ao lado de meu celular o dia inteiro, na altura da coxa. Ela quem vigia, quem fica responsável por mandar um impulso para meu cérebro, minha consciência, absorta ou alerta, com um recado claro e inequívoco: seu celular está tocando. É verdade que nem sempre isto funciona perfeitamente. Há vezes em que minha perna acusa a chamada quando é certo que ela não ocorreu, e outras tantas em que a vibração que aguardo sentinela passa despercebida pelo meu sistema nervoso inferior. Por isso existe a campainha, que mantenho ligada, sempre, menos no cinema ou no teatro os quais não freqüento muito, assim não corro o risco de minha perna falhar e perder o momento que com tanta ânsia esperei. Houve dias em que por descuido saí de casa sem meu aparelho celular. É raro que isto aconteça pois aquelas poucas gramas em meu bolso(esquerdo ou direito tanto faz, normalmente o esquerdo) são como uma parte de mim, uma parte de meu vestuário sem a qual sou menos útil, menos comunicável, menos carismático. Estar sem meu celular, ou sem um celular de quem quer que seja é extremamente desagradável. Sem um celular não posso receber chamadas e nem por isso deixo de aguardá-las, podem me ligar a qualquer momento e eu não estarei lá para atender. Chego mesmo a levar, num impulso, minhas mãos aos bolsos vazios, certo de que me chamam, de que uma mensagem nova aportou em minha inbox. Graças a deus quando isso acontece normalmente não há ninguém por perto, mesmo que a pessoa não note o gesto, meu constrangimento se derrama por todo lado. O aparelho celular é uma ferramenta simples, de baixo valor, pequena dimensão e infinita utilidade. Todo mundo hoje em dia tem celular. É por meio dele que trocamos informações sobre trabalho, declarações amorosas, organizamos encontros... Quando estou com meu celular sinto como se todo mundo que importa para mim estivesse próximo, e umas pessoas que não importam também. Me sinto querido. Muitas pessoas precisam ou querem falar comigo e para isso ligam no meu celular. Nem sempre posso atender, tenho muitos compromissos, mas se você me ligar e cair na caixa postal, fique tranqüilo que em breve lhe retorno, estou ansioso pra saber do que se trata. A bateria de meu celular está sempre carregada, não gosto de correr riscos. Mais importante do que o meu celular para mim só mesmo o marca-passo para um cardíaco, e mesmo assim duvido que ele gaste tanto tempo quanto eu pensando no aparelho. No meu peito sim, mora um celular, e não é por perigo de infarto, é por amor mesmo. Eu por mim, nem escrevia este texto, preferia declamar estas palavras ao microfone de meu celular, que é ótimo, e daria pra escutar muito bem. Gosto de imaginar onde meu interlocutor está falando quando fala comigo do celular dele. Pelos ruídos sei se ele está na rua, ou numa escola, ou num estádio, ou no barbeiro, ou com a mãe dele, ou no metrô, ou no banheiro, ou na balada, ou na cadeia...Celular não tem imagem(ainda!) mas nem precisa. A voz me dá tudo. A voz me diz tudo. É por isso que aguardo a próxima ligação, pode ser importante. Com certeza tem alguém querendo falar comigo neste momento, e essa pessoa vai me ligar. A não ser que não tenha meu número. Pra evitar que alguém que quer falar comigo não consiga falar comigo por não ter meu número eu dou meu número pra todo mundo. Assim eles podem me ligar. Meu número está na minha página do facebook, na do orkut e no meu currículo. Tenho um cartão da empresa com o meu nome e o número do meu celular. Não precisava ter posto o número do meu celular já que podem me encontrar ligando na empresa onde trabalho, tem um telefone na minha mesa, um telefone fixo. Mas como já dizia o ditado o seguro morreu de velho, nunca se sabe, algumas vezes por dia vou no banheiro, ou tomar água, ou falar com meu chefe, ou fumar um cigarro, todo dia tenho horário de almoço e não dá pra almoçar na minha mesa, porque está cheia de papéis, e afinal de contas tem uma copa no meu trabalho, onde todo mundo come, iriam achar estranho se eu comesse na minha mesa, não entenderiam se eu dissesse que estou esperando uma ligação. Todos os dias. Além do quê o telefone fixo é reconhecidamente uma ferramenta ultrapassada. Ele comunica apenas parcialmente, não recebe mensagens, não tem toques polifônicos. O fio que o liga à linha telefônica comum serve de metáfora à seu caráter aprisionante. Com meu telefone celular em qualquer lugar que esteja sou um cidadão da aldeia global. Sou encontrável por mim mesmo, como diria Clarice. A minha lista de contatos me liga a todas as pessoas relevantes deste mundo. Todos portadores de aparelhos celulares, conectados por um satélite, por milhares de satélites que estão perto de Deus e portanto devem ser anjos. Meu celular se liga com o céu, ele emite e recebe sinais, que eu não vejo, mas sinto que existem. Meu celular tudo sabe, tudo pode e está em todos os lugares onde funciona minha operadora. A luz que me guia no escuro vem de meu celular. É ele que me acorda todas as manhãs, é ele que canta em meus ouvidos músicas tão belas quando estou no metrô indo para casa. Esta pequena maravilha é o único motivo de ser eu quem sou, assim, desse jeito. Ele é meus olhos, minha boca, meu sexo. Meus cinco sentidos não valem seus dezesseis botões. Uma gratidão imensa dedico aos grandes homens da Ericsson, da Nokia, Samsung, LG, Motorola, e tantas outras! E tanto amor! A vida tem sentido com você no meu bolso, na minha bolsa. Desminto o sábio que disse um dia, na idade da pedra: morrer é não ser visto. Passado. Qualquer criança sabe, que na verdade, morrer é não ser contactado.

C.P.F.  - Caio Poeta Fariseu



 

07 julho 2011

Gestando 6


ENGENHOCA DO RUBE: O MAQUINÁRIO, A LUPA E AS GALÁXIAS

No inicio, era só a pontada no fundo do bucho, querendo a vontade de berro. E o berro? É o ar, que das ventas fuligem soltou-se peso da gangorra ao plugue do ventilador.
Parafernalha que procura procurando. Pensar em mar de ondinha penteando cabelo azul?
A questão é fazer questão de toda nossa desnecessidade. Artista astutando tutano, envolvemos você - já evolvemos você, visite-se. Engenhoca de mover engenho, ensacar a fumaça, com berros de artifício em pleno ar (logo que lua ensaca andantes da rua, mistura bem pra massa homogênea e estoura). Engenhoca feita de gente e braços tecidos, mas mais! Cruzados, perdidos. Noutra alçada. Nem vi... não ligo. Caminho incerto, ramos em bifurcações marrons, verde musgo, cinza cimento. Rodas gritando vermelho ferrugem, engrenagens com parafusos a menos. Meio inter voz e letra, entre maneiras parelhas, esquisofonia ensurdecedora de cenários contraditórios, tortuosos rumos do desconhecido. O escâmbio transporte de rentes princípios.
Berro bem na cara. Que cai, sobe, aciona. Desnecessário.
            Propomos, testamos, desfilando as descobertas pernas do urbano e do orgânico. Pois bem (ou mal), a úvula treme (nas máquinas de Rube Goldberg cada peça é um cuspe).
Uma peça por vez.
Bagulho louco, processo.
Uma por vez.
Até que o dominó inteiro se acabe ao chão.
Incerteza desnexa em fluxo desfluxo. Concreto ferro miscigenado forma forno aquecedor de corpos gelo perdidos, derrete o cérebro que escorre pra goela e vomita, vomita o todo tudo junto, esporra pra cima, fazendo a gerência ativa do mole do miolo sub-aproveitado - justo ele, o caldinho! Dando norte pr'esse tempero molhado.
Pavimento, pá-virada, transtorno sem pedido de desculpas. Obstruímos calçadas para que se ocupe a rua (admira a pitada de fagulhas luz caindo sobre tapete alcatrão).
Ventam-se as velas ao mar concretado, desrumo, desleixo, desdém cidadão.
No entretanto, tudo. 
Engenhoca muito louca de fazer sentido.
           

Gestando 5


ENGENHOCA DO RUBE: O MAQUINÁRIO, A LUPA E AS GALÁXIAS


Meio inter voz e letra, entre maneiras parelhas, escâmbio transporte de rentes princípios. Engenhoca feita de gente e braços tecidos, mas mais! Cruzados, perdidos, dentro já doutra alçada: nem vi, não sei, não ligo. Gerência ativa do mole do miolo sub-aproveitado - justo ele, o caldinho! Damos norte pr'esse tempero molhado. Artista astutando tutano, envolvemos você - já evolvemos você, visite-se. E propomos e testamos, desfilando as descobertas pernas do urbano e do orgânico, do percurso casa-trabalho, sucesso-martírio, do metrô lotado traçamos atalho prum campo de lírios e de volta pro asfalto, só uma espiada por cima das nuvens. Somos caminho, somos nosso caminho, uma viela estreita candidata a duplicação, sorta a verba Kassab! Pavimento, pá-virada, somos transtorno sem pedido de desculpas, se obstruímos as calçadas é pra que o povo vá pra rua.

Caminho incerto, ramos em bifurcações marrons, verde musgo, cinza cimento. Rodas gritando vermelho ferrugem, engrenagens com parafusos a menos, esquisofonia ensurdecedora de cenários contraditórios pelos tortuosos rumos do desconhecido. Pois bem (ou mal), a úvula treme (os “tempos modernos” estão aí, nas máquinas de Rube Goldberg cada peça é um cuspe). No fim tudo se explode, o bagulho é louco, o processo é lento.

No inicio, era só a pontada no fundo do bucho, querendo a vontade de berro.
E o berro? É o ar, que das ventas fuligem soltou-se peso da gangorra ao plugue do ventilador.
Ventam-se as velas ao mar concretado, desrumo, desleixo, desdém cidadão; maré claustrofóbica, no entretanto, tudo. 
O berro bem na cara. Que cai, sobe, aciona. Desnecessário.
A questão é fazer questão de toda nossa desnecessidade. Engenhoca de mover engenho, ensacar a fumaça, com berros de artifício em pleno ar.
Uma peça por vez. Acionada.
Uma por vez. Até que o dominó inteiro se acabe ao chão.
           
O mais certo é que se chegamos não foi pela mesma via, mas não chegamos, relaxe, estamos indo. Desembocando cada um de nicho distinto vimos passar uma beldade empinada e farejando a seguimos, perceber seus recatos, encantos. Até hoje não a alcançamos, mas um boato fortuito nos disse seu nome: Palavra. É uma mentirosa, sem valor. Sabemos. Mas amor é assim imperfeito.
Ela não abriu a boca, não se virou, só seguiu, com um, dois, três mil atrás. Em algum momento me virei e não vi fim na multidão, outro boato então me disse que palavra já é mãe, que pariu a humanidade... Sei não, quem sabe?
De concreto só o balanço de seus quadris...

Parafernalha que procura procurando. Pensar em mar de ondinha penteando cabelo azul? Canudos na boca de dez milhões faz sertões, espremedor de culhões - regurgitação do precipitado sal do estômago miséria do emaranhado complexo de janelas banguelas. Depois de fumaçal ensacado, estoura. Admira a pitada de fagulhas luz caindo sobre tapete alcatrão, tempero da noite, sombras estrangeiras admiradoras das costas adeus, rostos míopes, desfoques, bafo quente embassador de íris fundas. Incerteza desnexa em fluxo desfluxo. Logo que lua ensaca andantes da rua, mistura bem pra massa homogênea e estoura. Concreto ferro miscigenado forma forno aquecedor de corpos gelo perdidos, derrete o cérebro que escorre pra goela e vomita, vomita o todo tudo junto, esporra pra cima, pra contar pro Newton e sujar cabeça como pombo, pequeno big-bang constante espiralar cambaleante. Tira o lenço do bolso, esfrega testa, ensaca e estoura.

Gestando 4

Parafernalha que procura procurando. Pensar em mar de ondinha penteando cabelo azul? Canudos na boca de dez milhões faz sertões, espremedor de culhões - regurgitação do precipitado sal do estômago miséria do emaranhado complexo de janelas banguelas. Depois de fumaçal ensacado, estoura. Admira a pitada de fagulhas luz caindo sobre tapete alcatrão, tempero da noite, sombras estrangeiras admiradoras das costas adeus, rostos míopes, desfoques, bafo quente embassador de íris fundas. Incerteza desnexa em fluxo desfluxo. Logo que lua ensaca andantes da rua, mistura bem pra massa homogênea e estoura. Concreto ferro miscigenado forma forno aquecedor de corpos gelo perdidos, derrete o cérebro que escorre pra goela e vomita, vomita o todo tudo junto, esporra pra cima, pra contar pro Newton e sujar cabeça como pombo, pequeno big-bang constante espiralar cambaleante. Tira o lenço do bolso, esfrega testa, ensaca e estoura.
 

Gestando 3

O mais certo é que se chegamos nao foi pela mesma via, mas nao chegamos, relaxe, estamos indo. Desembocando cada um de nicho distinto vimos passar uma beldade empinada e farejando a seguimos, perceber seus recatos, encantos. Até hoje nao a alcançamos mas um boato fortuito nos disse seu nome: Palavra. É uma mentirosa, sem valor. Sabemos. Mas amor é assim imperfeito. 
Ela não abriu a boca, não se virou, só seguiu, com um, dois, três mil atrás. Em algum momento me virei e nao vi fim na multidao, outro boato então me disse que  palavra ja é mãe, que pariu a humanidade.... Sei não, quem sabe?
De concreto só o balanço de seu quadris...

 

Gestando 2


No inicio, era só a pontada no fundo do bucho, querendo a vontade de berro.
E o berro? É o ar, que das ventas fuligem soltou-se peso da gangorra ao plugue do ventilador. 
Ventam-se as velas ao mar concretado, desrumo, desleixo, desdém cidadão; maré claustrofóbica, no entreanto, tudo.
O berro bem na cara. Que cai, sobe, aciona. Desnecessário.
A quetão é fazer questão de toda nossa desnecessidade. Engenhoca de mover engenho, ensacar a fumaça, com berros de artifício em pleno ar.
Uma peça por vez. Acionada.
Uma por vez. Até que o dominó inteiro se acabe ao chão.

 

Gestando 1


meio inter voz e letra, entre maneiras parelhas, escâmbio transporte  de rentes princípios. Engenhoca feita de gente e braços tecidos mas mais! Cruzados, perdidos, dentro já doutra alçada: nem vi, não sei, não ligo. Gerência ativa do mole do miolo sub-aproveitado - justo ele, o caldinho! Damos norte pr'esse tempero molhado. Artista astutando tutano, envolvemos você - já evolvemos você, visite-se. E propomos e testamos, desfilando as descobertas pernas do urbano e do orgânico, do percurso casa-trabalho, sucesso-martírio, do metrô lotado traçamos atalho prum campo de lírios e de volta pro asfalto, só uma espiada por cima das nuvens. Somos caminho, somos nosso caminho, uma viela estreita candidata a duplicação, sorta a verba Kassab! Pavimento, pá-virada, somos transtorno sem pedido de desculpas, se obstruímos as calçadas é pra que o povo vá pra rua.