02 dezembro 2011

Hidro-metafísica

Se fosse falar de alguma coisa começaria por não saber por onde começar. Devo falar sobre o tempo sem falar de nuvem vento chuva. Falar de dentro do meu tempo sobre o tempo em que estou vivendo.
Fosse falar, me seria necessário criar de novo o pasmo fundamental do homem que mira o mundo. E já se disse isso. Se esculpiu, se expressou. Se imprimiu o som deste suspiro e em graves notas se o tocou. Já se fez alarde e medo, disto já esqueceram. Mas nenhum de quem me lembre num ficar frente obra toda, jamais se esquivou do alheamento que precede o pesaroso pasmar.
Sob a chuva me molho de uma água milenar que em seu tempo tem todo o tempo, caiu, cai , cairá. Umedecer no infinitivo as terras de Jerusalém foi seu  passatempo, quando era nova, e hoje, nova, novamente me diz rio poça goteira inunda.  E tchau e ontem e céu. Me belisca a bunda com a mesma malícia que ao grego encantou. Chove presença e constância, pra baixo, sua norma que nunca esqueceu.
O mesmo não se pode dizer da vida que cai de cada cor. Choveu ontem tão breve, choveu hoje demais. Meu prédio ficou azul, meu tédio se fez lilás. O tempo deste agora têm cheiro e tessitura. É feito desta matéria-prima, mede este tanto de largura. Cantar em 2011 ecoa anasalado, ou fundamentalista, ou neoliberalista, anti-cinético conectado. Não fosse diverso o tempo não se roía a têmpora. Não fosse diverso o tempo, não era tempo, era chuva.
E tempo não é chuva, não se vê água minuto, não há desgaste em ser fluído, não há história em meio litro.
Meu tempo se fosse falar diria Deus não existe mas arrisco no palpite se render bons dividendos. Diria centro e extremidade, diria plus, empty, nice to meet you até mais tarde. Diria que ainda somos homens, mas diria assim, ainda...Meu tempo sorri, sorry, não pasma de estar vivo, mas que haja vida.
Onde palavra se come sem talher. Tolher a carne, situar-se. Em peças de silício talhar silêncios. Embargar soluços ao microfone...
Se fosse falar dizendo uma coisa de cada vez, não diria meu tempo, diria um, dois, três. Como se a ordem rua calçada prédio não coubesse em um meio-fio, como se uma música de amor fizesse soar amor quando músicas de amor, sabemos, só dizem olhe-se, instrução banal.
Forjar compreensão de trevos rodoviários, o retorno, a alternativa, os caminhos não traçados e o caminhar.
Escorrer como fosse escrever.
Fosse falar diria hoje, e de minha boca sairiam lágrimas, que sendo água não estão no tempo.

C. P. F.  - Caio Poeta Fariseu