05 outubro 2014

POEMA IMUNDO


Chumbo que arromba minha bunda
Ele repousa trépido
a cabeça em minha coxa suada

Joelhos de prazer esfolados
sustentam alegres
os corpos cansados

Seu pau pendula sob
a buceta molhada
e aberta

Quem vai tapar o buraco que você abriu
No chão
mofado da sauna vazia

Cai a noite  carnívora
Batucam os corações ouriçados
Resvala sereno, o sêmen

Os braços desatam o tronco
O tronco
despeja-se no imundo chão

PLENO.


                                                                                   M. ERATO



Alavancado de poesia erótica para uma menina que não consegue terminar um poema erótico.

04 outubro 2014

Meu amor

Meu amor é periférico,
escoa ao avistar o ralo.

Engole minhas lágrimas a seco.
Chupa meu ânus para nele se abrigar,
esconder.
Cava uma cova ao receber flor.
Naufraga ao avistar terra.

Meu amor constrói grades para se libertar,
recua quando avanço, cala quando canto.
Cerra os dentes quando alimento.
Extrai com as próprias mãos a arcada que implanto em seu sorriso.


Meu amor, caso chova eu vou sem guarda-chuva.
Prefiro o frescor do temporal elétrico que alaga a casa
ante aos pés semi-úmidos e segregados dos membros secos.

Meu amor, caso faça sol dispenso o protetor.
Prefiro o sol que abraça, em brasa queima e enrubesce
ante a capa líquida e gosmenta que embranquece e blinda o rosto.

Meu amor, caso tenha pedras eu vou descalça.
Prefiro pisar no chão topográfico, pontiagudo e duro, quente e frio,
ante ao isolamento de borracha e cadarços que me cercam os calcanhares.

Meu amor em caso de frio deixe o agasalho sob teu corpo,
Prefiro o frio que craquela os ossos e encolhe o dorso
ante pudor do casaco que encobre minhas ânsias e encuba os mamilhos ouriçados.

Meu amor,
sempre prefiro a queda ao equilíbrio.
O risco ao seguro.
O difícil ao dado.
O tapa ao tome.
A fera e o ferido ao fadado e o fosforizado.

Prefiro o impulso ao percurso.
O volátil ao concreto

Sou feita de sonhos e entregas ao risco do
meu amor.


M. ERATO

Alavancado de Sonso ser.





Vestígios do Vício


Minha casa ainda cheira
suas cinzas abraçam cortinas, talheres, travesseiros e fronhas.
O antiquário dos tocos seus,
bitucas, bitocas,
conserva chamuscado o bafo úmido do seu bigode.
Cravadas na pele rugosa, nossas letras sobreviveram,
L & M, ao que um dia ardeu.

A boca transversal e aberta a tragar-me.
Traga-me você.
Estrago eu você.
Bocal a engolir e mastigar.

Seus olhos são operas mudas desajustadas,
lanças a perfurar meu rosto movediço.

Quaisquer pés a montar meus calcanhares,
estampam vertigens nas colchas e coxas.

Penetram-me todos:
boca, olhos, pés e homem.

Sufocada respiração: com pulsátil movimento.
Já sei de cor o som dos seus pulmões viciados,
o grunhido seco do seu prazer contido,
o peso safado das suas mãos na minha cintura.
Tenho 22 anos, unhas roídas, 4 irmãos, um estômago de pedra e
nenhum amor correspondido.

Chupo o caroço da manga sem tirar os fiapos dos dentes
mergulho ao fundo do poço para beber a última gota de néctar.

Conheço o ofício da ferida de adeus.
É preciso expelir todo pus e sangue
sem band aid nem Merthiolate.
Expelir até secar.
Eliminar é impossível, cicatrizar.

Vê o amor do alto da colina.
Enxerga ovelhas onde é pasto.
Com dentes e dedos ordenha a terra.
Esfarela.

Esfumaçada ausência,
solitário vicio meu ao aspirar os vestígios do seu.




Agosto 2014
M. ERATO



Alanvacado de Poema Conto.





VEM


Vem retalhar meus poemas
Embebedar minhas certezas
Vem enroscar meus cabelos nos seus pentelhos

Vem atazanar meu caminho
Partir meus membros
Obstruir meus poros

Vem deflorar meus floridos vestidos
Moer, torrar e coar meus beijos
Cuspir meus buracos

Vem bombardear meus órgãos
Banhar meus rios rasgados
Vem escorregar seus dedos longos e quentes nos meus seios nulos

Vem
Vibratório
Profano
Perene a perfurar

Vem conjugar nossos orgasmos
orvalhar fogo deleitoso no broto do umbigo

Vem cheio
Vai desaguado
Vem inteiro
Vai multilado
Vem órfão
Vai incorporado
Vem com mãos abanando
Vai carregando tudo de mim.


E no vai-vai dos pés no elevador,
fica o prazer do vai e vem de uma presença.





 M. ERATO


Frestas

Frestas


o ramo de cachos desfaz-se ao som locomotor
fio-a-fio
mergulham no chão quente
os pés descalços

as madeixas do seu DNA encobrem as frestas da cerâmica
a lâmina cerra a trama acariciada

revestido de seus pelos, cabelos e velos,
o chão:
tapete tecido de podas e pontas

carpindo o solo das suas memórias,
ele semeia as espirais do seu couro duro

homem encoberto por fios e fios a definhar na cabeça,
desfolha-se
desvela-se nos olhos sob o espelho

pelo espelho tento sustentar o olhar do menino que despe a cabeça
em minhas mãos estão o reflexo desnudo
os fiapos do homem esparramado
o encontro sorrateiro

eu, ele e o silêncio tosados
libertos
enfrestados.






M. ERATO 




Alavancado de  Samba e Lua Cheia