04 outubro 2014

Meu amor

Meu amor é periférico,
escoa ao avistar o ralo.

Engole minhas lágrimas a seco.
Chupa meu ânus para nele se abrigar,
esconder.
Cava uma cova ao receber flor.
Naufraga ao avistar terra.

Meu amor constrói grades para se libertar,
recua quando avanço, cala quando canto.
Cerra os dentes quando alimento.
Extrai com as próprias mãos a arcada que implanto em seu sorriso.


Meu amor, caso chova eu vou sem guarda-chuva.
Prefiro o frescor do temporal elétrico que alaga a casa
ante aos pés semi-úmidos e segregados dos membros secos.

Meu amor, caso faça sol dispenso o protetor.
Prefiro o sol que abraça, em brasa queima e enrubesce
ante a capa líquida e gosmenta que embranquece e blinda o rosto.

Meu amor, caso tenha pedras eu vou descalça.
Prefiro pisar no chão topográfico, pontiagudo e duro, quente e frio,
ante ao isolamento de borracha e cadarços que me cercam os calcanhares.

Meu amor em caso de frio deixe o agasalho sob teu corpo,
Prefiro o frio que craquela os ossos e encolhe o dorso
ante pudor do casaco que encobre minhas ânsias e encuba os mamilhos ouriçados.

Meu amor,
sempre prefiro a queda ao equilíbrio.
O risco ao seguro.
O difícil ao dado.
O tapa ao tome.
A fera e o ferido ao fadado e o fosforizado.

Prefiro o impulso ao percurso.
O volátil ao concreto

Sou feita de sonhos e entregas ao risco do
meu amor.


M. ERATO

Alavancado de Sonso ser.





Nenhum comentário:

Postar um comentário