11 julho 2011

Com bolsos vazios


            Andava despreocupadamente, como aqueles que se costumam ver por aí, e já ninguém se emociona, a disparidade econômica mundial já tem tantos milênios na história humana que, mais um, apenas produz nojo. Afinal, que grupo de indivíduos de classes acima gostaria de compartir o mesmo espaço, público, com alguém vestido de trapos, com problemas para urinar e defecar em banheiros “privados” por, justamente, as classes acima não admitirem compartir a mesma louça, privada e assento com um indivíduo, segregado de uma filosofia que ninguém tem coragem de assumir, que cheira a urina e fezes para não ser “preso” por atentado ao pudor (quem sabe até desovado nos arredores donde os olhos de prefeitos não vêem)? As mãos aos bolsos me trazem uma leve sensação de despreparo, sinto uma grande falta das extremidades de membros que utilizo para tantas coisas...
Uma vez estava observando uma crisálida linda, semelhante a uma gota d’água que escorria da ponta de uma folha. A pupa começou, lentamente, a mexer-se, mas se mexia tão pouco que parecia até economia de energia. Passa-se pela cabeça: num mundo com tantas informações, que circulam tão depressa, como pode tanta calma num momento tão generoso da tecnologia? Pois bem, abdiquei da pressa e observei todo o trabalho que a pupa se envolvia, todo esforço que algo que mexia aquela casca dura podia fazer para livrar-se daquilo que sempre a protegeu e agora aprisiona. Depois de muito tempo, logo que uma cabeça de mariposa pôs-se pra fora, acompanharam um par de pernas. Esta foi a revolução daquele instante: a mariposa depois de por o primeiro par de pernas pra fora, partiu pro lado oposto da pupa feito foguete, impressionando com a variação da velocidade em que realizou o chamado “primeiro processo” (antes do par de pernas) em relação ao “segundo processo” (depois do aparecimento do primeiro par de pernas).
            A partir deste momento evitei colocar as mãos aos bolsos porque sempre me vem à mente, a velocidade em que eu posso realizar um “primeiro” ou um “segundo processo”. Mas é inevitável quando, andando despreocupadamente, vejo uma moeda, normalmente de pequeno valor, ao chão. Logo, abaixo-me para tomar posse desta moeda e levá-la a propriedade de meu bolso. Infelizmente, depois de quase como uma sorte do destino ter encontrado tal objeto tão bem quisto, a cerca de dez passos a frente, volto ao meu estado anterior; percebo que aquele bolso que tanto evitara estava furado.


R.G.

Alavancado de Um bolso cheio.

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