21 fevereiro 2013

Uma mesa única

Uma mesa e quatro cadeiras.
Em cada cadeira uma pessoa e em cada pessoa um copo.
Em cada copo uma bebida e em cada bebida uma história.
Temos no total quatro histórias, quatro bebidas, quatro copos, quatro pessoas, quatro cadeiras, mas só uma mesa.

Primeira história:
Termina nesse copo na mão e nessa mesa única de compartilhamentos. O seu começo, entretanto, difere dos demais. Não é uma história única. História constante. História contada todos os dias. Acordo e trabalho. Essa é a história, sem começo nem fim. Acordo e trabalho. É a história semanal. Fim de semana a história também não varia. É uma história derramada num copo com mais três histórias.

Segunda história:
É diferente da primeira em razão, mas não em finalidade. Acordo e dou bom dia. Vivo o dia. Trabalho e destrabalho. Faço e desfaço. Não gosto de patrões e nem eles de mim. Faço desfazendo e vivo desvivendo. Só não quero a vida de "acordo e trabalho". A finalidade cai na mesma, não penso em mudar nada, mas a minha razão não é seguir. Minha razão tá em não. Minha razão é descaminhar quando se caminha, é destoar quando se toa. Mas a finalidade é a mesma. O copo é o mesmo. A bebida é a mesma. Mas as histórias são quatro, apesar da única mesa.

Terceira história:
Essa não é história nenhuma. Nem quis e nem vou querer. Esse é só mais um copo do mesmo. Só mais uma dose de continuação. Não vim de lugar diferente e nem quero chegar, eu já estou. Esse copo é o bastante. Meu caminho não cruza porque é caminho parado. Não ando e nem quero. Não continuo e nem termino. O copo fica e no copo está o que estava ontem. Amanhã vai estar mais uma dose de continuidade.

Quarta história:
Se queria a revolução na minha história, eu queria a revolução na minha dose. Não estou de acordo com as três histórias dessa mesa única, mas também não estou de acordo com história nenhuma. Tenho fome de história nova. Tenho sede de história ainda não vivida. Não sei por onde e não sei como. Eu só sei querer. Eu só sei desejar dose mais amarga. Só sei querer andar por caminho não andado. Só sei ser revolução. Revolução feita na palavra, no gesto, no sentir. Revolução feita da boca, da mente e da mão. Manifesto no meu corpo, manifesto no meu copo, manifesto nessa mesa única de quatro copos corpos. Se vai, não sei. Eu sei que no brinde as bebidas se trocam juntas com as ideias e de lá fica algo heterogêneo numa mesa única. Essa é a minha ideia de revolução.

E numa mesa única de quatro cadeiras, quatro copos derramam o mesmo líquido em gargantas que pedem por coisas distintas. As quatro mãos brindam o mesmo motivo mesmo ansiando por caminhos contrários. Quatro histórias, quatro copos e uma única mesa.


LP




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