27 fevereiro 2013

Meu Pé Decidido

A casa corcunda na beira
do mastro,
zumbiando-se amontoados.

como se toda tralha explodisse
como se toda dor já não existisse.
daí decido: já não existe.

fico feito abismo no meio corpo,
espaço de ímpeto desempregado.
falando em desempregado, assim estou
sou vagabundo! ai, ser vagabundo é
uma delícia!

acordar às 3 da tarde é uma delícia!

quebrar as taças apoiadas da sua tia.
beber da lama suja da calçada fria.
porque a minha cama se foi
assim como a minha casa, minha
máquina, meus sapatos

você pode ficar com tudo
até com a minha metade,
com minhas duas metades
e com o dente de ouro,
leve o dente de leão com o
cuidado que quiser
leve o anel, a mordida
e o anel mordido

é de ouro, eu peguei de
dentro de uma ostra
que me mostra os dentes
sempre que tento ir embora

meu pé decidido tropeço
pro outro avançar
duas quadras
e foi tudo o que precisei pra alcançar
aquela louca correndo e gritando:
"eu amo o Carlos da casa 13, mas ele é um
escroto sem alma"

bixo, ninguém tem alma por aqui

e a decisão toda
do existir protelo
válvulas de escape
no chão me sugam
e me sugam a vontade de escrever

se escrever a vida acinte
aonde foi aquele?...
se enfiando no balde
de idéias que correm
recorrentemente

até que num surto de sanidade
eu deixei de pensar e
me afundei num copo de uísque...
e dormi


                                                                                                                         Zé Daniel
2. Jogo de Mesa

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