27 outubro 2013

Uma brincadeira puerilmente violenta e deslumbrada de rancor e nostalgia.

São três santos
mutilados
às portas do presépio.
Assistem em silêncio
o nascimento de Jesus
em uma a garrafa de cerveja
Cheia.
Vazia.
Cheia.
Vazia.
Cheia.
Vazia.

Selva de colunas numeradas,
ponto de fuga
para os olhos ariscos e muito atentos.
Um cavalo cruza o horizonte!
Não...não é um cavalo...
Tem luzes, não pode ser um cavalo.
Sentimos um coice
que nos derruba.
Calamos.
 E tornamos a tragar.
Sim, ainda temos cigarros.

Sacrificamos Jesus ali mesmo
E o vemos renascer
Maldito e
Colossal
naquelas paredes infinitas e azuis.
Algum tipo de Muzak  ininteligível
nos alcança os ouvidos.
Como um canto sagrado,
Celebrando
a ressurreição
de cristo.
Mas o som cambaleia
e cai ferido.
Morto!
Assassinado pelos latidos
De três bocas
com seus discursos encavalados.
Palavras jorram como sangue fresco.
Rápidas!
Mórbidas!
Quentes!
Cruas!
Tristes!
Doces!
Debochadas palavras
úmidas,
frustradas!
E então uma explosão!
De algum tipo de riso
Longo.
De alívio
(De alívio?)
De Gozo

É verdade, falávamos sobre gozar...

Riso sincero. Amargo, mas sincero, de verdade. Juro! Era riso mesmo.  Uma gargalhada na verdade. Enlouquecida, embriagada, juro que era riso.
Era riso sim...
Era... A gente... É... Como se diz?...

A gente reprisa
Melhor, invoca!
Antigas canções tribais
registradas em k7
enterradas em nossos ossos.
Pra dar sentido à coisa toda
em nome do tom litúrgico.
Repetimos os versos com sabedoria ancestral
Capítulo 4, versículo 3.
Confira lá,
está nas escrituras [e nas embalagens].

Praguejamos.
Criamos templos
e consagramos deuses pagãos,
[vingativos]
com a cerveja da promoção.
Meditamos sob o vento
Que sopra muito a cima de nós.
[e das ruínas industriais].
Solitário é o vento do deserto
que desce vez e outra
pra dividir um cigarro
e pra nos arremessar
contra às lembranças.
Nesse momento
podemos ver que é ano novo
e as estrelas-faróis–de-carro
se distanciam cada vez mais.
E somem
na selva de colunas [vertebrais] numeradas.
Na escuridão
uma única luz sobre a palmeira
ilumina nossas cabeças.
É uma nova Jerusalém,
que nos faz lembrar
 de quem nos tornamos
(nunca de quem nós somos)
E comungamos ali,
Sentados no meio fio.


PAI UBU

Alavancado de Ao que pausa e o que passa



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