08 janeiro 2013

Escritos sem leitor ou Em meio aos flashes de turistas chineses


Oi, boa noite. Eu sei que você não 

vai ler, mas eu escrevo por não

ter com quem falar. Escrevo porque é a única maneira de dar voz ao que está gritando em mim. Você não 

vai ler, eu sei. Você sequer quis escutar. Sinto como se o tempo tivesse me levado pela janela. Sinto-me num sobressalto, um salto. Sinto treze andares passarem por mim balançando meus longos cabelos negros. Tenho amanhecido todos os dias como se um século houvesse atravessado os meus sonhos. Não 

leio mais jornais. Economia, política, cultura, classificados, nada disso mais me dá tesão. Nem mesmo anúncios de putas, travestis e gigolôs. O tempo entrou e levou coisas, deixou outras. Sinto-me agora no meio de centenas de turistas chineses. Flashes. Não 

está escuro aqui, você deixou a luz acesa e o tempo não apagou. Quisera eu que o tempo apagasse. As cinzas do meu cigarro ainda estão flutuando no copo de cerveja. A porta do apartamento continua aberta. As cortinas estão sujas e os tapetes cheios de pó. Descendo flutuando 13 janelas sucessivas, 13 vidas alheias à minha assistem o passear de um corpo levado pelo tempo. Eu ainda to aqui. O tempo não 

levou tudo de mim. Ainda tenho mãos para escrever coisas que não 

serão lidas. Eu dei um gole na cerveja com cinzas. Acendi outro cigarro que o tempo apagou. Senti meus seios murchos e a minha vagina seca, terra árida pisada pelo tempo. As folhas dançam com o vento. A cortina levanta poeira. Meus olhos não 

enxergam mais as pombas no umbral.

LP



Um comentário:

  1. este texto foi pensado para não ser lido? pois eu o li e me senti espionando. rs

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