22 janeiro 2013

50 anos

andava sempre com aquela camisa
vermelho-sangue agarrada ao peito
e crescia, crescia o medo
de ser julgado
Se os outros soubessem, o que fariam?
Sentiriam direito de arrancar
pedaços?
A carne saberia preservar-se
incorrompível?
A alma deu seu preço
vendeu-se
rendeu-se
às delícias
de ser dona de si
- sem resitência converteu
cada segundo
em centavos
Uma vida, em sua completude,
financiará
as viagens, as casas, os carros
e sonhos desejados?
Estarão prescritos nos pacotes
    os dias de infidelidade?
    a sensação de ser inútil?
    a dúvida em ter sido
e estar sendo dispensável?
O corpo
no espelho
erra
O corpo acaba sempre enganado.
sempre perde
amando errado
Podemos fechar os olhos,
abstrair, não inalar,
impedir a boca
de experimentar
mas é impossível ignorar o que sente
a pele
-sabe-se disso na tortura.
O medo é, por si só,
um sentimento de pele.
-relataram as testemunhas
Andavam sempre vestindo
camisetas vermelhas,
procuravam ser severamente punidos
por terem descido
tão fácil
e
tão baixo
um à um
seriam julgados?
se sim,
perguntariam
em coro definitivo:
- Saímos da vida
autores ou vítimas?




Sandra
alavancado de Déjà vu

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