25 janeiro 2013

Partirificar

O dia todo
deitado
parece que desisto,
semanas, meses...
hoje é quarta ou sexta?
Perdi,
esqueci,
deixei de contar.
Aqui têm TV,
estante,
mini-geladeira,
livros, revistas,
uma enfermeira
e seus restos
de janta

     -vão recolher.

A tarde ligam a TV
passa Cidade Alerta,
odeio este programa, mas não
consigo pedir
as palavras não saem
-deviam tirar esta porcaria do ar!
então vejo o caos das cidades
a maldade dos homens
o desabamento
dos morros, mães atordoadas
de paixão e tragédia
depois
novelas.

Deve ser difícil entender
assim, para quem me vê
este corpo
ou este quarto
são caixas vazias
pesam
um grama,
não fossem tantos sedativos
talvez doesse
talvez gritasse
ao invés disso fico vagando
por outros espaços
de mim
dentro
- é o que resta.

Toninho ao violão,
Sr. Alcides e seus filhas bonitas,
As tias com cheiro de tempero,
bandeirinhas no salão.
Minhas irmãs vestidas de festa,
formavam quadrilhas...
A corrente de casais
adentrava a noite
guiados por Betina
sorrindo
...
eu, o menino da família
deitava cedo
obrigado, em silêncio
no escuro,
cercado por camas
vazias
distante das conversas
ouvindo, sonado
antigas cantigas.
Desperto sozinho
Todos já se foram
há tantos anos.

Parece que desisti,
mas não.

Foram os homens
que chegaram certa noite
de chuva
organizaram cinquenta cadeiras
de forro vinho aveludado
ao redor de meu leito.
Vinte e cinco em cada lado.
Foram embora, eu fiquei olhando aquilo
por um tempo
atordoado.
As pessoas aos poucos chegavam,
sussurrando, procurando assentos
marcados.

     Será que não percebem,
     sequer se compadecem?
     Vieram assistir a invalidez
     do homem-vegetal? 

Então chegou Betina,
segurou-me a mão

    -Vamos, Manuel
    Dormir comigo?


Fui me
movendo
lentamente
arrastando pelo vento
ouvia, longe
o que poderiam ser
aplausos
ou a chuva forte
no telhado.











Sandra
Alavancado de

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