01 julho 2015

Na lata

Então Dona Tristeza, o negócio é o seguinte: aqui não é casa da mãe Joana não! O que você tá pensando?! Te acolhi aqui num dia frio, já nem me lembro quando, você chegou folgada pra caralho, tomando todo o espaço, deixou estes chinelinhos horríveis na porta do banheiro, come da minha comida sem me perguntar, sai gritando pela casa esse monte de despautério, quando bem entende, e fica com esse jeito rançoso tentando me convencer que é a única em minha vida. Como amiga enxuga minhas lágrimas, mas não me deixa parar de chorar. Você tá estorvando. Na moral, tu é pequena pra caralho, vale nada. Só te deixei entrar porque trazias tantas promessas de redenção, todo um discursinho meloso pra legitimar seu egoísmo, dizendo que deixava o mundo mais bonito tirando as cores, que só era possível sentir uma coisa de cada vez... Ah, por que sou amiga da Saudade... Se toca minha filha. A Saudade sempre esteve aqui e nunca causou mal pra ninguém. A Saudade nasceu comigo e me lembra todo dia de quem eu sou, que só posso ser assim porque não sou todo o resto. E fui eu que abri a porta sim, e não adianta jogar isso na minha cara, não sei porque fiz isso, acho que senti dó de você. Ou senti dó de mim. E você é assim, interesseira, me coloca no centro de tudo só para que não te largue jamais. Mas vou te contar um negócio bonita, aqui é Capão Redondo, periferia em cada poro. Meu olhar vem de fora e ginga, ginga, ginga, faz pouco caso de suas balas perdidas. O centro de tudo é o espaço entre agora e daqui a pouco, uma viela, onde organizo o carnaval mais inocente, saltitando atrás do bloco da Liberdade, dançando com todos os sentimentos, enchendo sua boca de confetes, Tristeza trouxa. Esse povo todo que canta já percebeu que caminhar pra morte e viver é a mesma coisa. Ninguém precisa de você. Toma, veste essa fantasia, ou pode vazar que já deu sua cota.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu

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