09 março 2013

Tridimensionice

Na superfície do que digo há um castelo. No topo da mais alta de suas torres há uma misteriosa mudança de direção apontando para três lados de um mesmo problema ornamental. Em torno deste castelo há um fosso, e tudo na superfície do que digo é também fosso, de forma que caminhar por aqui é também afundar, e no fundo do fosso há outro castelo, uma mudança de direção, e um fosso sem fim.
O portão do castelo do que digo tem barras fortes, lado a lado, e por entre os vãos se vê aquilo que não digo. Eu digo barras.
Toda vegetação que cresce no que digo se nutre de limo e fungo. Faz tempo que só digo a mesma coisa. Nas copas das árvores, balançam minhas omissões. Só sei que são tantas quando as vejo acumuladas no chão. É outono em minha boca. Digo com o vento palavras de deixar ir, que tudo afunda, menos o castelo das palavras, barras, vãos, a mudança de direção, ir embora. Onde fica embora?
No que digo tudo é oco. Não parta as peças de meu cenário, não visite os alojamentos desse castelo, não circule aqui à noite. É quando estou calado.
Mas se vier, seja bem-vindo.
No que digo não há importância. Já houve. Acabou. Tirei isto daqui. Fazia mal a todos.
Venha para o que eu digo! É um parque temático. Você visita tudo de uma vez. Há um castelo onde moram três irmãs, três irmãos, bananeiras, estórias de ônibus lotados, reticências, muitas! Uma comunidade. Um olhar engajado em fazer castelos, que mora em uma grande casa ao lado da edícula das coisas duras de se dizer, quase sempre fechada.
Divirta-se! Mas não tropece e caia, você já está caindo. Não seja redundante. Relaxe.
A cor do céu aqui depende do dia em que você me deu as costas. Se ainda não deu, o céu é da cor de sua expectativa.
Não lembro de tudo que digo. É muita coisa. Muito detalhe inútil. E ainda assim, o que digo não pesa, quase não se vê, esse vazio danado em todo canto, quando foi que disse isso?
Quero que diga o que eu digo. Você fala bem. Tenho certeza que meu castelo em sua boca diria menos problemas, e esse vazio que emoldura sua úvula, pintado com o suco de mil enigmas, aquela dor de garganta, a tosse que me cospe o fosso. Não vai engolir?
Você diz minha mudança de direção,
minha mudança de direção,
minha mudança de direção.
Do jeito que você fala é andar em círculos. Minha mudança de direção. O que eu digo vai convergir? Com o quê?
- Não me diga para ficar quieto.
Convergindo te digo. Se é acidente, ou comunhão.

C. P .F. - Caio Poeta Fariseu

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