21 março 2013

Rosário


Ave Maria cheia de graça
os dedos de Maria entre as contas
que chamamos de contas
ou de mistério
para não chamar de medo.

Santa Maria mãe de Deus
Rogai pela vida,
porque na morte não teremos medo.

A vida não tem segredo
e Maria ajoelhada no milho
Paga a pena da puta pega em flagrante

"Maria Puta"
"Maria Vadia"
"Eu estou rezando, e estou ouvindo,
dos três meninos, nenhum está dormindo"

"Maria Puta"
"Maria Vadia"
"Eu também quero meu corpo preservado,
Eu estou rezando..."

Maria não pediu perdão, fingiu que esse pensamento nunca lhe ocorreu.
Mas alguma culpa, lhe fez voltar para a primeira conta do rosário.

Em seguida a conta do bar, da venda, do dentista...
Calculava ajoelhada, suas contas martírio

Que esse milho vire pamonha para seus filhos
e que os filhos não virem pamonha no caminho.

Que Arturo para de roubar
Que Augusto vire padre
E Frederico um bom menino

Mas o joelho de Maria não é o joelho de Frederico.
O milho entra, o pecado sai.
O que sai de Maria, é vivo?

Se desfaz.

E os dedos seguem nas contas
e nas cordas entre as contas

os dedos de Maria
Não são as mãos bandidas de Arturo
Não são das preces apertadas de Augusto

As mãos de Maria são das contas
As mãos de Maria esperam o grosso dedo de Deus

De Jesus Cristo nosso Senhor,
esperam quem levante seu corpo velho

Seu corpo avantajado,  com ombros largos e penas que não entregam a primeira vista mas içam andaimes acima de andaimes, nos edifícios da cidade.

PIS  dos Colibris   e Zé Seu


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