29 março 2013

Picar aio


óia
o alho?
o aio frito
fresco?
e aí?
com gergelim
assim?
na grelha?
o aio frito cai no vão da grelha
aí foi-se 
meu tempeiro, em uma besteira
vou perder tempo de novo indo na feira
mas nunca será da mesma maneira
será sim, terça-feira
mas só se for noite de lua cheia
quando o aio brota da terra
quando a água brota dos oio
oxi!
é aio não cebola
mas eu ando sensível 
demais
demais
demais
tanto que cortei o dedo fora
ele só apontava pra mim
a tristeza assola
mas a dor consola
e me orgulha a coragem de ter feito o que fiz
quero cortar todos os dedos
quero curar todos os anseios
quero cortar o bico dos seus seios
e quero mamar 
sangue de ti
e cuspir
no chão da sua casa 
me derramar até a empregada
chegar e se assustar
antes de qualquer coisa 
com o meu jeito de sorrir
quero o aio que caiu ali
que a empregada lá no canto pisou
junto com o sangue que cuspi de ti
quero o tempero de seu seio
na minha ceia
antes de dormir
e acordar na cena do crime
flagrante deleite
meu nariz em seus seios quentes
com gosto de carne
bem temperada
minha amada!
brutamontes e chutes
pra que largue teu corpin
só não sou urubu
porque te matei
e tendo matado, comi
do olho ao cu, ao olho do cu com alho
não sobrou um centímetro quadrado salgado da sua pele
inteira lhe lambi
e sorri e fiz pose
e sorri pra TV
de queixo empapado, vermelho
lambi sorrindo
teus olhos
enquanto pra câmera 
mandava um beijo
quanto desejo pra minha língua macia 
e quanta ânsia e asco pra quem não conhece seu abraço
gostoso, mesmo morto
deliciosamente gelado
meu aio frito perdido
teu belo corpo inerte
remetem
ao feijão de minha vó
onde boiava a calabresa
a beleza
de teus movimentos e dos embutidos
e hoje de coração ferido
sempre que passo na sessão dos congelados
compro três quilos de linguiça
e choro sem cebola
a ida dos finados.

PIS dos Colibris

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