28 março 2016

Passo

Há quem solte sua manada pela noite e ai de mim se na esquina o potro não passa de aviso da tribo como quem diz que se sigo que lide com o insólito arranhar das ferraduras no asfalto, e nem é dia ainda.
Bando de bichos grandes na rua pastando de madrugada, o jardim das casas e a grama dos buracos fracos ao mato. Sob as árvores como vulto de carne ou sob as lâmpadas como forma de bicho mesmo. O olhar parado no escuro dizendo coisas demais.
Assim esparso o fato ainda coube no que é o mundo e pôde não ser nada. Não coube foi a moldura da encruzilhada com o equino no centro simétrico baixo uma lua de móbile. Meu mundo tem limites. E vértices. E vórtices.
Um troço tão feito pra ser, essa égua à meia luz, que a rua atinge status biológico, tal qual a égua, e vejo a eternidade na sarjeta tanto quanto nas quedas onde a água diz coisas. O cimento na imagem vive. Como se a cidade importasse.
Ali, no momento, só perguntei pelo motivo ou a dica de estar o bicho. Se me apontava um caminho ou indicava que retrocedesse. O que nunca saberei.
Já em ruas menos vivas, vem-me agora esta égua alheia como única testemunha de outro quadro, um que caminha pra casa em abraço, em silêncio, pra não se esquecer.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Sobre o sol e o tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário