30 março 2015

nem tu nem newton

Era uma árvore grande, enorme de fato. Mais alta do que permitiria o equilíbrio, traria vergonha a quem chamasse sua base de "início", tão petulante a constância de sua extensão. Não ligava o céu à terra, estes que se lixassem, não ligava pra isso. Chegando-me ao tronco, manso, quietude de respeito ao improvável, olhei alto numa curva de pescoço de tantos graus, a engrenagem do corpo rangendo ecoava pelas camadas de alturas impossíveis. O máximo múltiplo comum dos olhos de alcance mais  fino, que não tenho, não sei como, por potência esquecida, vi ou antevi, um fruto entre tantos frutos, o mais maduro, um destaque, longe como uma lembrança, uma estrela, no descanso perfeito do que é vago. E num dedo meu um curto espasmo quando se estilhaçou o respeito ao infinito redondo daquela ascensão. E não adiantaram razão cultura história e tapas no ar para impedir que alçasse vôo a ave imprudente do desejo novo que à revelia escapava de mim. E como os olhos que não tenho viram, a vontade imensa, que também não possuo, fisgou, num piscar já estava lá, a distância rebaixada à ordem das coisas facultativas, o graveto vivo que prendia o fruto se rompeu. E ele caiu. Por horas, dias. Desde então o fruto que furtei a esta planta-percurso cai. Enquanto trabalho, enquanto respiro, quando descanso, e já não descanso posto que espero, em todo canto espero, cantando ao espaço perto a medida da queda infinita. Dizendo miúdo que amando o fruto caio em amar a queda, já duvido mesmo do propósito de meus tropeços. 

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de O seu nome não é Sandra.

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