02 junho 2012

Ubatuba Bitch's 



E era lá no litoral, tá ligado?Eu era moleque, 12 anos. A gente vivia lá no Perequê-Açú, Ubatuba, pá.
E aí então véi, liga essa fita. A gente passava uns bagulho, tá ligado? Passava geral, pra fazê uma preza pro sustento da família e pá.
Era eu e a Fernanda na função. Ela era mais velha, tinha uns 15 ano na época, mas nem porque nóis era pivete o bagulho amenizava. O barato era lôco, e nóis inda que tenro e tal, vendia tudo, passava geral: maconha, farinha, crack, o carái a quatro, e num tinha quem folgasse, pois nem que num guentando, já empunhava cano, manjando um tanto inté, de fazê mira nos pedrão da praia.
E foi por essas data que descolamo um esquema do carái pra trafica a grande porte. Começamo a passa farinha prum bangalô - puteiro, tá ligado? - lá na beira da prainha, vinte minuto do Perequê-açu.
E o barato era lôco irmão, cê num tem idéia. Nóis negociava direto com a madame, a Cleide, dona do bangalô, cheia da grana. Meio velha, já nem fazia programa, mas cherava que só a desgraça. Só ela, quatro, cinco papel numa noite. Vaporetto, nóis chamava.
E tu imagina eu irmão! Moleque no meio da putaiada, em tempos de punheta acanhada, já gozava na cara de vagabunda.
E o quê? Tu duvida? Nada maluco, meu respeito ficava de espreita no criado mudo, um 38 na carga , que num levava na cintura pois, pivete que era, me arriava a bermuda. Mas era. E nem só por isso! As puta tava tudo na minha mão: precoce abastecedor do meretrício praiêro. Cheravam meu pó e chupavam meu pau mirrado, por uns teco na lambuja, preza minha por prazer.
Eu falo e tu num ganha a lança, que parece até inverdade de minha parte, mas é real. Nóis fazia o crime nos preceito, e naquela mamata, era só arrecadar. E dava grana, dava grana que tu num bota fé. Tinha semana que nóis fazia dois, três quilo de pó, só naquele pico. As bruaca se acabando de cherá, os cliente se acabando, e os garçom, faxinero, todo mundo! Quem tinha nariz, narigava. A carranca arisca de revendedor ressabiado dexamo de lado pra sorrir satisfeitos, e arrecadar, arrecadar, arrecadar.
Minha mãe que trampava de copeira à beira-mar, festejava de geladeira nova e até um carango barganhado no desmanche. O pó era a finança, e não se temia rodar. Nóis era criança e, fosse o caso, nem dois mês na jaula era, imunidade de pivete, que nem político.
E o bagulho foi que foi. O lucro era ascendente, as mocréia descabelava; pó do bom que prende, que dá vontade de repetir.
A Cleide depois de um tempo já tava arregaçada. Perdeu o controle geral. Em vez de administrar, cherava. Em vez de dormir, cherava, em vez de comer, cherava. Da boca imunda da cafetina já num saía mais odor de porra velha - tanta rola já passara por ali - era só o bafo vicioso de farinha que escapava, que lhe fedia o corpo inteiro, cadavérica, modorrenta, consumida a coroa que era só o pó. Meu pó.
E já era tanto que o montante do ganho do prostíbulo, num cobria o gasto com a farinha. A Cleide devia. E foi devendo mais, devendo pra carái!
E cê tá ligado, né irmão? No esquema num tem Serasa, num tem arrêgo pra viciado vacilão. A Cleide era firmeza, mas aí, negócio é negócio truta, e o pó que nóis passava era veneno cobrado à grama na bocada. Sem desconto,sem abrando, a fatura chega rasgando, atraso é desfeita que se cobra sem complacência; inadimplência com o morro é erro sem perdão.
Seis pau véi! Seis mil reais, tu concebe? Quantia a dá com pau, dinheiro pra carái, mano. E a Cleide tinha a grana? Tinha porra nenhuma. Tinha mais nada. Mas tinha que pagar, e nóis tava lá de credor pra evitar mal entendido, engano, equívoco, engambelação de toda monta, cano numa mão na outra a conta, a carapuça do carrasco minha bombeta véia vermelha.
Aí que no mocó sitiado a madame abriu as perna, e pra sustá o valor nos dedicou o bangalô de mão beijada.
Nossa irmão! A fita é sério, tô zuando não. No registro num constava, pois nem dava, já se viu adolescente de puteiro proprietário? Mas a bagaça caminhava no acordo do nosso mando. Que suave soava: "Chefinho, farinha pra Mômô?", "Chefinho, a taxa do senhor", "Chefinho, carinho no pirú?". E só era, a Fê na calculadora, empilhando os lucro, no que eu curtindo a de patrão na poltrona do comando, os pé balançando, que nem chegava no chão.
C'os coxinha tudo sussa, a Cleide mantinha os arranjo, pagava a permuta pra num prende nossas puta por vadiagem. E se viessem embaçá pelo pó (nosso pró nas venda fazia inveja nos milico) tudo no acerto, pré-pronta a correria. Três muleque lá da vila vigiava as rua de acesso ao bangalô. Barca que passasse, no aceso ou na surdina, estalava céu lá em cima, três salva de caramuru 12 tiro, como se fosse gol do Peixe. Então, nóis já ligado na vinda da lei, se escapava do bangalô por trás, a cocaína nas mochila, e num pique já no cais, nossa rota de fuga marinha. Bote? Porra nenhuma. O esquema era responsa. Nóis ia era de jet-ski cortando o mar à noite. Voando co'a coca nas costa - coxinha, nem me viu! Só o vento na cara, o nariz escorrendo de frio, chapado, ensopado, rindo pra porra dessa sina insensata, desse mundo infantil. 
22/05/2007

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu





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