Dois corpos inconspícuos
Amontoados um no outro
Como se fossem os primeiros dias
Da criação
Quando as regras ainda não estavam ali
Tabuladas e forjadas para
A imposição da violência
A repulsão virulenta de todos os prazeres
Se é que já eram prazeres, ou se algum dia
Já puderam ser chamados por estes verbetes
As coisas discorrem como se ali
Estivessem dispostas a ser tudo aquilo
Que deveriam ser, no porvir
Sem ouvir sentir ou sequer argüir
Sobre qualquer outra hipótese de
Insanidade e displicência para com
A espécie que se resguarda o DIREITO
De sofregar-se com a vida
Sofregar-se com tudo que lhe diz respeito
E todo o resto que nem se faz custoso aos ouvidos
Enquanto o asfalto ferve, as janelas embaçam, os frutos
gangorreiam
Do alto de suas árvores, em meio à cidade sem alma
E os corpos sufocam pedidos de socorro contra o ar
Que não padece de suas partículas prostradas
De tanta lucidez
Corpos abarrotados entre si mesmos
Constipados pelo prazer que já lhes foi ensinado,
Forjados pela guerra que já lhes foi extirpada,
Limpos...Zé Daniel
Alavancado de Poema Conto
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