19 dezembro 2012
A POSTOS
Andando pelo centro. 3 horas de uma madrugada metade híbrida, metade não. Olhar para o lado significava o famoso aperto dos lados. Paralisia na madrugada paulistana, quem acompanhava estava de mau-humor.
Nem sei dizer onde estava a lua por entre meus dedos trêmulos e difusos de vertigem.
Os outros não tinham rostos. Os outros não tinham corpos. Os outros eram fumaça.
O peito arfava de delírio gelado, o oxigênio e as estrelas desapareceram. O chão também.
Os prédios se materializaram tanto quanto o ponto do ônibus e a consciência de que a espera ainda duraria uma hora. As lágrimas caíam em poças de água imunda. Os passos chapeavam nas lágrimas. Os pelos do braço eram antenas.
Era urbano o pesadelo, humana a discrepância.
Os outros continuavam a não ter rostos, as lágrimas continuaram sonoras por entre os passos apressados que não se ouviam desde que me fizeram sombra, tanto quanto os outros. A vida continuava arfando pelo peito. Nada significava o desespero da poesia íngreme na noite longa e fria. Os ratos eram amigos. O cheiro era mil cheiros. Não dava para saber se era o suor frio, ou a chuva, ou vento triste que soprava pelas frestas, quando achava alguma. As estrelas eram bitucas de cigarro.
Fim da linha para o tremor amigo. Já não era pesado se era familiar. Já não trazia dores se era salgado. Eu era um deles.
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