A casa corcunda na beira
do mastro,
zumbiando-se amontoados.
como se toda tralha explodisse
como se toda dor já não existisse.
daí decido: já não existe.
fico feito abismo no meio corpo,
espaço de ímpeto desempregado.
falando em desempregado, assim estou
sou vagabundo! ai, ser vagabundo é
uma delícia!
acordar às 3 da tarde é uma delícia!
quebrar as taças apoiadas da sua tia.
beber da lama suja da calçada fria.
porque a minha cama se foi
assim como a minha casa, minha
máquina, meus sapatos
você pode ficar com tudo
até com a minha metade,
com minhas duas metades
e com o dente de ouro,
leve o dente de leão com o
cuidado que quiser
leve o anel, a mordida
e o anel mordido
é de ouro, eu peguei de
dentro de uma ostra
que me mostra os dentes
sempre que tento ir embora
meu pé decidido tropeço
pro outro avançar
duas quadras
e foi tudo o que precisei pra alcançar
aquela louca correndo e gritando:
"eu amo o Carlos da casa 13, mas ele é um
escroto sem alma"
bixo, ninguém tem alma por aqui
e a decisão toda
do existir protelo
válvulas de escape
no chão me sugam
e me sugam a vontade de escrever
se escrever a vida acinte
aonde foi aquele?...
se enfiando no balde
de idéias que correm
recorrentemente
até que num surto de sanidade
eu deixei de pensar e
me afundei num copo de uísque...
e dormi
Zé Daniel
2. Jogo de Mesa
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