E as crianças mimadas
seguem importunando suas mães
enfermas e abençoadas?
no posto de saúde, a mulher
conversa com sua doutora de sempre
e entra numa espiral de confusão e
desespero.
não consegue parar de pensar
que corre o risco de ter de se acamar; não pode.
tem três fedelhos folgados em formação,
três moleques que não
tem tempo de educar
porque
tem que trabalhar
o maridão está há três com
o seguro-desemprego que, mal entra
na renda da casa, e ele já esbanja
com algum presente pra ela, ou
pras crias dos dois,
ou no bar, com alguma gúria sem nome
que surge aqui e acolá
e as crianças forjadas
pela tv e pela rua
não se alimentam mais?
é claro que sim!
às custas do corpo da mãe, que some em meio ao asfalto
da cidade quente que morre em todo mundo
que ilude a mente, corrói o mais paciente
dos viventes serventes
à lógica demente
da qualidade de vida
e a boa vizinhança
pobreza e vigilância é o que mais se vê
alegria e temperança
se perderam no teatro da existência
(Ouço as sirenes da cidade
É o “auge” dos tempos
É o aviso de que algo está para morrer)
Zé Daniel
Alavancado de Rosário.
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