E
era lá no litoral, tá ligado?Eu era moleque, 12 anos. A
gente vivia lá no Perequê-Açú, Ubatuba,
pá.
E aí então véi, liga essa
fita. A gente passava uns bagulho, tá ligado? Passava geral,
pra fazê uma preza pro sustento da família e pá.
Era
eu e a Fernanda na função. Ela era mais velha, tinha
uns 15 ano na época, mas nem porque nóis era pivete o
bagulho amenizava. O barato era lôco, e nóis inda que
tenro e tal, vendia tudo, passava geral: maconha, farinha, crack, o
carái a quatro, e num tinha quem folgasse, pois nem que num
guentando, já empunhava cano, manjando um tanto inté,
de fazê mira nos pedrão da praia.
E foi por
essas data que descolamo um esquema do carái pra trafica a
grande porte. Começamo a passa farinha prum bangalô -
puteiro, tá ligado? - lá na beira da prainha, vinte
minuto do Perequê-açu.
E o barato era lôco
irmão, cê num tem idéia. Nóis negociava
direto com a madame, a Cleide, dona do bangalô, cheia da grana.
Meio velha, já nem fazia programa, mas cherava que só a
desgraça. Só ela, quatro, cinco papel numa noite.
Vaporetto, nóis chamava.
E tu imagina eu irmão!
Moleque no meio da putaiada, em tempos de punheta acanhada, já
gozava na cara de vagabunda.
E o quê? Tu duvida? Nada
maluco, meu respeito ficava de espreita no criado mudo, um 38 na
carga , que num levava na cintura pois, pivete que era, me arriava a
bermuda. Mas era. E nem só por isso! As puta tava tudo na
minha mão: precoce abastecedor do meretrício praiêro.
Cheravam meu pó e chupavam meu pau mirrado, por uns teco na
lambuja, preza minha por prazer.
Eu falo e tu num ganha a
lança, que parece até inverdade de minha parte, mas é
real. Nóis fazia o crime nos preceito, e naquela mamata, era
só arrecadar. E dava grana, dava grana que tu num bota fé.
Tinha semana que nóis fazia dois, três quilo de pó,
só naquele pico. As bruaca se acabando de cherá, os
cliente se acabando, e os garçom, faxinero, todo mundo! Quem
tinha nariz, narigava. A carranca arisca de revendedor ressabiado
dexamo de lado pra sorrir satisfeitos, e arrecadar, arrecadar,
arrecadar.
Minha mãe que trampava de copeira à
beira-mar, festejava de geladeira nova e até um carango
barganhado no desmanche. O pó era a finança, e não
se temia rodar. Nóis era criança e, fosse o caso, nem
dois mês na jaula era, imunidade de pivete, que nem
político.
E o bagulho foi que foi. O lucro era
ascendente, as mocréia descabelava; pó do bom que
prende, que dá vontade de repetir.
A Cleide depois de
um tempo já tava arregaçada. Perdeu o controle geral.
Em vez de administrar, cherava. Em vez de dormir, cherava, em vez de
comer, cherava. Da boca imunda da cafetina já num saía
mais odor de porra velha - tanta rola já passara por ali - era
só o bafo vicioso de farinha que escapava, que lhe fedia o
corpo inteiro, cadavérica, modorrenta, consumida a coroa que
era só o pó. Meu pó.
E já era
tanto que o montante do ganho do prostíbulo, num cobria o
gasto com a farinha. A Cleide devia. E foi devendo mais, devendo pra
carái!
E cê tá ligado, né irmão?
No esquema num tem Serasa, num tem arrêgo pra viciado vacilão.
A Cleide era firmeza, mas aí, negócio é negócio
truta, e o pó que nóis passava era veneno cobrado à
grama na bocada. Sem desconto,sem abrando, a fatura chega rasgando,
atraso é desfeita que se cobra sem complacência;
inadimplência com o morro é erro sem perdão.
Seis
pau véi! Seis mil reais, tu concebe? Quantia a dá com
pau, dinheiro pra carái, mano. E a Cleide tinha a grana? Tinha
porra nenhuma. Tinha mais nada. Mas tinha que pagar, e nóis
tava lá de credor pra evitar mal entendido, engano, equívoco,
engambelação de toda monta, cano numa mão na
outra a conta, a carapuça do carrasco minha bombeta véia
vermelha.
Aí que no mocó sitiado a madame
abriu as perna, e pra sustá o valor nos dedicou o bangalô
de mão beijada.
Nossa irmão! A fita é
sério, tô zuando não. No registro num constava,
pois nem dava, já se viu adolescente de puteiro proprietário?
Mas a bagaça caminhava no acordo do nosso mando. Que suave
soava: "Chefinho, farinha pra Mômô?",
"Chefinho, a taxa do senhor", "Chefinho, carinho no
pirú?". E só era, a Fê na calculadora,
empilhando os lucro, no que eu curtindo a de patrão na
poltrona do comando, os pé balançando, que nem chegava
no chão.
C'os coxinha tudo sussa, a Cleide mantinha
os arranjo, pagava a permuta pra num prende nossas puta por vadiagem.
E se viessem embaçá pelo pó (nosso pró
nas venda fazia inveja nos milico) tudo no acerto, pré-pronta
a correria. Três muleque lá da vila vigiava as rua de
acesso ao bangalô. Barca que passasse, no aceso ou na surdina,
estalava céu lá em cima, três salva de caramuru
12 tiro, como se fosse gol do Peixe. Então, nóis já
ligado na vinda da lei, se escapava do bangalô por trás,
a cocaína nas mochila, e num pique já no cais, nossa
rota de fuga marinha. Bote? Porra nenhuma. O esquema era responsa.
Nóis ia era de jet-ski cortando o mar à noite. Voando
co'a coca nas costa - coxinha, nem me viu! Só o vento na cara,
o nariz escorrendo de frio, chapado, ensopado, rindo pra porra dessa
sina insensata, desse mundo infantil.
22/05/2007
C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
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