Mas feito mármore
Luzia nobre.
Seu nome Gracindo
Alcunha galante que mentindo
negava: era pobre.
E pelo dito nome de batismo
Se orgulhava de peito cheio
Nome viril, sem rodeios
Três sílabas de lirismo.
Tanto o encantava
Que com o dedo gordo
Desenhou no cimento fresco
As três sílabas de seu gosto.
Sob sua porta ficou marcado
Gracindo, 21 de agosto.
Parede com parede
Janete doce vizinha
Nunca viu o afresco
De Gracindo, uma gracinha.
Nem se visse se importava
O brilho próprio
Do outro fazia entulho
Janete também era orgulho
de si, e de seu mundo róseo.
A calha comum que aos dois inundava
Nunca teve solução.
Nem o bueiro que entupia
Nem os ratos que abundavam
Nem o sono dos dois
Pois o vizinho funkeiro
A segurança da rua
O carteiro
O lixeiro
O IPTU sem atualização
O gás, as crianças
E as casas vazias
E o fogo, e o fogo
E a calha comum ao chão.
O nome perdido entre os escombros.
Sem paredes entre,
choraram sozinhos.
C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
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