Oi, boa noite. Eu sei que
você não
vai ler, mas eu escrevo por não
ter com quem falar. Escrevo porque é a única maneira de dar voz ao que está gritando
em mim. Você não
vai ler, eu sei. Você sequer quis escutar. Sinto
como se o tempo tivesse me levado pela janela. Sinto-me num
sobressalto, um salto. Sinto treze andares passarem por mim
balançando meus longos cabelos negros. Tenho amanhecido todos os
dias como se um século houvesse atravessado os meus sonhos. Não
leio mais jornais. Economia, política, cultura, classificados, nada
disso mais me dá tesão. Nem mesmo anúncios de putas, travestis e
gigolôs. O tempo entrou e levou coisas, deixou outras. Sinto-me
agora no meio de centenas de turistas chineses. Flashes. Não
está
escuro aqui, você deixou a luz acesa e o tempo não apagou. Quisera
eu que o tempo apagasse. As cinzas do meu cigarro ainda estão
flutuando no copo de cerveja. A porta do apartamento continua aberta.
As cortinas estão sujas e os tapetes cheios de pó. Descendo
flutuando 13 janelas sucessivas, 13 vidas alheias à minha assistem o
passear de um corpo levado pelo tempo. Eu ainda to aqui. O tempo não
levou tudo de mim. Ainda tenho mãos para escrever coisas que não
serão lidas. Eu dei um gole na cerveja com cinzas. Acendi outro
cigarro que o tempo apagou. Senti meus seios murchos e a minha vagina
seca, terra árida pisada pelo tempo. As folhas dançam com o vento.
A cortina levanta poeira. Meus olhos não
enxergam mais as pombas no
umbral.
LP
Alavancado de Hoje eu amanheci mais velha.
este texto foi pensado para não ser lido? pois eu o li e me senti espionando. rs
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