pois fiquei sabendo que
um garoto latino-americano, moreno, declarou ao entrevistador que, ou
não, foi a correção de uma prova, na correção de uma prova saiu
a pérola do garoto boliviano de cor que desconheço, era “o adulto
é aquele que em tudo que fala, fala primeiro de si”, e era como um
trava-língua, dava aquele tipo de sensação, um
retardo, sei lá, pra chegar no conteúdo final da frase, embolava,
fosse... como fosse um nó. Por que só de interpretar já se está
“falando”, de si, e aí se fica jogado no vazio, merda, e é
claro que resta outra coisa, o menino estava de pé quando disse,
escreveu, não estava? Não tinha foto, na verdade me contaram, não
procurei no google. Mas tem um solo, embaixo desse si, não tem? O
garoto estava de pé.
Parece um problema não
parece? Esse de si não parece um problema? Pode não ser um
problema. O garoto que disse, disse algo sobre si dizendo aquilo?
Melhor, ele pensou no assunto? É muito fácil ter uma resposta,
escrever uma resposta, e fixar essa linha entre ele garoto e eu, o do
nó. É uma infantilidade. Porque dizer isso é fazer engolir, gesto
deselegante, mais ainda se não se sabe o rosto do garoto, não tem o
vídeo, o vídeo dele dizendo isso, pra saber pela imagem, pela
imagem a verdade. O que está por trás disso. A fragilidade da
criança. Imagina. Como ela olhava, como ela olhava os
adultos. Todo mundo. E como ela olhava as outras crianças? Como?
Soberba, né? Imagem de soberba. Eu não tenho a imagem e fico com
essa missão ingrata de especular. Historinha sem foto, não
dá!
Talvez haja saída no
inverso. Começar toda frase com eu. É eu o bastante pra deixar de
ser. Vai pra fora e pronto, não é mais você. Esquizofrenia é a
solução. Pra ser que nem criança. O garoto boliviano representava
todas as crianças quando disse aquilo, essa é a conclusão que EU
cheguei, rapidamente, quando fiquei sabendo da história, essa porra
dessa parábola, sem nenhuma outra informação além da localização
do garoto, que ele estudava, chegava mesmo a entregar provas, era
moreno, sei lá se era moreno, imaginei ele assim e não dá mais pra
deixar de ser assim, e aí a esquizofrenia, é o que sobra. EU sei
que não é bem assim. EU falo com as pessoas sobre elas também, e
falando sobre elas, sobre mim, estou falando, eu, que nem criança.
Gugu-dada.
Por que o desespero? A
finalidade nos alcança e a tudo que se diz ela alcança antes mesmo
de ser dito. O desespero é essa pressa de ir rápido, rodar mais
rápido, pra ser mais rápido que a finalidade, e dizer algo assim,
bem eu, bem nada sobre si. E arrastar nas ondas de impacto do que foi
dito, e do que ainda será dito, pois nunca vamos parar de dizer
coisas, arrastar aquela neblina que desce sobre as palavras já
ditas, perguntando de onde vieram, se dizem algo sobre ele, mãos na
cabeça! Se dizem algo sobre si. O desespero é técnica. É a
esteira circular do hamster, ratinho parrudo. É brilhante a carreira
da extenuação excitante, a busca do lucro líquido. A guerra da
acumulação de ausências, a guerra que exige o sepultamento das
palavras ditas e alucina com a ideia de que aquele maldito garoto
tenha, sem remorso algum, esquecido suas palavras no quintal. Um
bruto esforço consciente pelo descuido. Como um gato que bate a
cabeça no vidro da porta fechada.
C.P.F - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Ernesto e o nó da gravata.
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