28 março 2016

Passo

Há quem solte sua manada pela noite e ai de mim se na esquina o potro não passa de aviso da tribo como quem diz que se sigo que lide com o insólito arranhar das ferraduras no asfalto, e nem é dia ainda.
Bando de bichos grandes na rua pastando de madrugada, o jardim das casas e a grama dos buracos fracos ao mato. Sob as árvores como vulto de carne ou sob as lâmpadas como forma de bicho mesmo. O olhar parado no escuro dizendo coisas demais.
Assim esparso o fato ainda coube no que é o mundo e pôde não ser nada. Não coube foi a moldura da encruzilhada com o equino no centro simétrico baixo uma lua de móbile. Meu mundo tem limites. E vértices. E vórtices.
Um troço tão feito pra ser, essa égua à meia luz, que a rua atinge status biológico, tal qual a égua, e vejo a eternidade na sarjeta tanto quanto nas quedas onde a água diz coisas. O cimento na imagem vive. Como se a cidade importasse.
Ali, no momento, só perguntei pelo motivo ou a dica de estar o bicho. Se me apontava um caminho ou indicava que retrocedesse. O que nunca saberei.
Já em ruas menos vivas, vem-me agora esta égua alheia como única testemunha de outro quadro, um que caminha pra casa em abraço, em silêncio, pra não se esquecer.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Sobre o sol e o tempo

25 março 2016

Insostenible

Noticiaram  por todo o estado que o amor estava em falta. Que já não se plantava e nem se colhia. E que era melhor assim, posto que o amor era contraprodutivo. Alarmismo por todos os cantos. Um tom fúnebre em tantos relatos de falta de amor atestava seu falecimento, lançando pá após pá o esquecimento sobre a cova vazia do amor que se fora. 
E como notaram sua ausência todos, numa saudade imensa  daquilo a que nunca deram uso. E como chamaram de amor cada objeto pontiagudo e as paredes claras de seus refúgios, batizando amor ao que sempre foi abuso. E como foi tudo inútil. Posto que maquiar monstros e cantar gritos não substituísse o amor perdido, todos se perderam, para encontrar o caminho por onde o amor tinha ido. Cegos de luz e molhados de sede não escutaram  o repórter melancólico que anunciava em primeira mão o desmentido:
- Não falta amor, não falta sentido, falta quem com eles se tenha vestido. Falta dar o amor que se têm, independente do tipo, e deixar entrar o amor que vêm, por este maldito canal obstruído.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Velhas novas coisas.

09 março 2016

Velhas novas coisas

Vazio desnecessário
criando novas urgências;
sem carros ou gases que poluam -
Velhas novas coisas -
A vida brota em pleno fino ar

E o que a gente ganha com isso? -
Nada senão poeira das estrelas;
nada senão um pouquinho de Orion;
nada senão tudo.

tentando evitar conflitos?!
não me importo com diplomacia
sem lugar para (auto-)comiseração
destile seu veneno

Apenas seja seu melhor: seja...

(eu acabei de ver um exosqueleto num prédio - eu quero a minha supernova).


                                                                                               Zé Daniel

Alavancado de Na Lata

19 setembro 2015

Sobre o Sol e o Tempo

Viver é uma tortura
A dor dura
Ai...


                                                                                               Zé Daniel
Alavancado de Por Fazer

11 agosto 2015

A banda da minha escola - Engenhoca do Hub


Projeto final do curso Engenhoca do Hub, em parceria com a ONG Mudança de Cena.

Ou isso ou aquilo - Engenhoca do hub


Projeto final do curso Engenhoca do Hub, em parceria com a ONG Mudança de Cena.

Eu capoeirista - Engenhoca do Hub


Projeto final do curso Engenhoca do Hub, em parceria com a ONG Mudança de Cena.

Um erro meu - Engenhoca do Rube


Projeto final do curso Engenhoca do Hub, em parceria com a ONG Mudança de Cena.

Da rua pra rua - Engenhoca do Hub


Projeto final do curso Engenhoca do Hub, em parceria com a ONG Mudança de Cena.

08 julho 2015

Você sabia que era B.O.

O lustre pendurado baixo por uma corda deixava soltos no ar os cristais como pingos e era fácil ver que chovia. Atrás do arquivo de quinas enferrujadas a camiseta escolar, rede municipal, mal cobria os corpos franzinos, inchava em soquinhos nas barrigas, arfar da batalha. A maior, uma menina, trazia a mão uma lâmpada fluorescente em formato de bastão, espadachim de golpes lentos e precisos, o olhar vidrado na nesga de luz que escapava à muralha de máquinas de costura, mesas de escritório, bichos de pelúcia, estátuas, abajures, lousas, televisores inutilizados e úteis. Se o ponto de luz piscava, por estar em caminho de pombo, ou de nuvem, pela entrada de um cliente, pelo balançar inexplicável de um lustre, e quanto movimento inexplicável em meio a tantos objetos inanimados, a mão pequena abraçava um pouco mais a base de sua espada cilíndrica e se punha a ponto de salto, que cravava a iluminação no vagalume maligno, bibelô de pilha de retrovisor, na retaguarda o irmão com uma pá, ela por parte do bem, o enorme inimigo etéreo por parte do desconhecido. Cravava cheia de fúria justa no varal de penduricalhos aleatórios cada caco de sua angústia. A derrocada do oponente não tarda, e ao se virar ela mira os ventiladores de fábrica com olhar de conclusão, moinho seu, meu, espada à mão, a dupla ataca o vento o plástico o metal, desaba ser que gira e não caminha, peca de não sair do lugar. Vitória.
Cada objeto com sua sombra e seu passado. O vício de todos de ainda servir mas não praticar. Admirar a relíquia que chega e que vai, eleger um presente dentre o diverso, o afeto ao avesso aberto em diagonais. Estátuas baratas em gesso testemunharam a luta encarniçada contra o vagalume maligno e as asas de vento infernais.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu


01 julho 2015

Na lata

Então Dona Tristeza, o negócio é o seguinte: aqui não é casa da mãe Joana não! O que você tá pensando?! Te acolhi aqui num dia frio, já nem me lembro quando, você chegou folgada pra caralho, tomando todo o espaço, deixou estes chinelinhos horríveis na porta do banheiro, come da minha comida sem me perguntar, sai gritando pela casa esse monte de despautério, quando bem entende, e fica com esse jeito rançoso tentando me convencer que é a única em minha vida. Como amiga enxuga minhas lágrimas, mas não me deixa parar de chorar. Você tá estorvando. Na moral, tu é pequena pra caralho, vale nada. Só te deixei entrar porque trazias tantas promessas de redenção, todo um discursinho meloso pra legitimar seu egoísmo, dizendo que deixava o mundo mais bonito tirando as cores, que só era possível sentir uma coisa de cada vez... Ah, por que sou amiga da Saudade... Se toca minha filha. A Saudade sempre esteve aqui e nunca causou mal pra ninguém. A Saudade nasceu comigo e me lembra todo dia de quem eu sou, que só posso ser assim porque não sou todo o resto. E fui eu que abri a porta sim, e não adianta jogar isso na minha cara, não sei porque fiz isso, acho que senti dó de você. Ou senti dó de mim. E você é assim, interesseira, me coloca no centro de tudo só para que não te largue jamais. Mas vou te contar um negócio bonita, aqui é Capão Redondo, periferia em cada poro. Meu olhar vem de fora e ginga, ginga, ginga, faz pouco caso de suas balas perdidas. O centro de tudo é o espaço entre agora e daqui a pouco, uma viela, onde organizo o carnaval mais inocente, saltitando atrás do bloco da Liberdade, dançando com todos os sentimentos, enchendo sua boca de confetes, Tristeza trouxa. Esse povo todo que canta já percebeu que caminhar pra morte e viver é a mesma coisa. Ninguém precisa de você. Toma, veste essa fantasia, ou pode vazar que já deu sua cota.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu

18 maio 2015

Por fazer

construir a vida com
a segurança da solidão
no que como no que bebo
no peso de meu pé no chão

o espaço convoca ao engajamento
presença do olhar
àquilo que toco pertenço
não há viver sem estar

no corpo o silêncio empedra
não plana
é silêncio morto

o quieto que ama no entanto 
sem saber de si ou fora
observa o silêncio no ar
e afana metro palmo e vácuo

no reino do tato
o tempo não apavora
extinto o murmúrio
o silêncio arquiteta o agora

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu

01 maio 2015

20h28

Desejei te ver e eram 20h28

e eram 20h29
e eram 20h30
e eram 20h31
e eram 20h32
e eram 20h33
e eram 20h34
e eram 20h35
e eram 20h36
e eram 20h37
e eram 20h38
e eram 20h39
e eram 20h40
e eram 20h41
e eram 20h42
e eram 20h43
e eram 20h44
e eram 20h45
e eram 20h46
e eram 20h47
e eram 20h48
e eram 20h49
e eram 20h50
e eram 20h51
e eram 20h52
e eram 20h53
e eram 20h54
e eram 20h55
e eram 20h56
e eram 20h57
e eram 20h58
e eram 20h59
e eram 21h00
e eram 21h01
e eram 21h02
e eram 21h03
e eram 21h04
e eram 21h05
e eram 21h06
e eram 21h07
e eram 21h08
e eram 21h09
e eram 21h10
e eram 21h11
e eram 21h12
e eram 21h13
e eram 21h14
e eram 21h15
e eram 21h16
e eram 21h17
e eram 21h18
e eram 21h19
e eram 21h20
e eram 21h21
e eram 21h22
e eram 21h23
e eram 21h24
e eram 21h25
e eram 21h26
e eram 21h27
e eram 21h28
e eram 21h29
e eram 21h30
e eram 21h31
e eram 21h32
e eram 21h33
e eram 21h34
e eram 21h35
e eram 21h36
e eram 21h37
e eram 21h38
e eram 21h39
e eram 21h40
e eram 21h41
e eram 21h42
e eram 21h43
e eram 21h44
e eram 21h45
e eram 21h46
e eram 21h47
e eram 21h48
e eram 21h49
e eram 21h50
e eram 21h51
e eram 21h52
e eram 21h53
e eram 21h54
e eram 21h55
e eram 21h56
e eram 21h57
e eram 21h58
e eram 21h59
e eram 22h00
e eram 22h01
e eram 22h02
e eram 22h03
e eram 22h04
e eram 22h05
e eram 22h06
e eram 22h07
e eram 22h08
e eram 22h09
e eram 22h10
e eram 22h11
e eram 22h12
e eram 22h13
e eram 22h14
e eram 22h15
e eram 22h16
e eram 22h17
e eram 22h18
e eram 22h19
e eram 22h20
e eram 22h21
e eram 22h22
e eram 22h23
e eram 22h24
e eram 22h25
e eram 22h26
e eram 22h27
e eram 22h28
e eram 22h29
e eram 22h30
e eram 22h31
e eram 22h32
e eram 22h33
e eram 22h34
e eram 22h35
e eram 22h36
e eram 22h37
e eram 22h38
e eram 22h39
e eram 22h40
e eram 22h41
e eram 22h42
e eram 22h43
e eram 22h44
e eram 22h45
e eram 22h46
e eram 22h47
e eram 22h48
e eram 22h49
e eram 22h50
e eram 22h51
e eram 22h52
e eram 22h53
e eram 22h54
e eram 22h55
e eram 22h56
e eram 22h57
e eram 22h58
e eram 22h59
e eram 23h00
e eram 23h01
e eram 23h02
e eram 23h03
e eram 23h04
e eram 23h05
e eram 23h06
e eram 23h07
e eram 23h08
e eram 23h09
e eram 23h10
e eram 23h11
e eram 23h12
e eram 23h13
e eram 23h14
e eram 23h15
e eram 23h16
e eram 23h17
e eram 23h18
e eram 23h19
e eram 23h20
e eram 23h21
e eram 23h22
e eram 23h23
e eram 23h24
e eram 23h25
e eram 23h26
e eram 23h27
e eram 23h28
e eram 23h29
e eram 23h30
e eram 23h31
e eram 23h32
e eram 23h33
e eram 23h34
e eram 23h35
e eram 23h36
e eram 23h37
e eram 23h38
e eram 23h39
e eram 23h40
e eram 23h41
e eram 23h42
e eram 23h43
e eram 23h44
e eram 23h45
e eram 23h46
e eram 23h47
e eram 23h48
e eram 23h49
e eram 23h50
e eram 23h51
e eram 23h52
e eram 23h53
e eram 23h54
e eram 23h55
e eram 23h56
e eram 23h57 e decidi fazer um poema sobre sua ausência.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Samba e lua cheia




30 março 2015

nem tu nem newton

Era uma árvore grande, enorme de fato. Mais alta do que permitiria o equilíbrio, traria vergonha a quem chamasse sua base de "início", tão petulante a constância de sua extensão. Não ligava o céu à terra, estes que se lixassem, não ligava pra isso. Chegando-me ao tronco, manso, quietude de respeito ao improvável, olhei alto numa curva de pescoço de tantos graus, a engrenagem do corpo rangendo ecoava pelas camadas de alturas impossíveis. O máximo múltiplo comum dos olhos de alcance mais  fino, que não tenho, não sei como, por potência esquecida, vi ou antevi, um fruto entre tantos frutos, o mais maduro, um destaque, longe como uma lembrança, uma estrela, no descanso perfeito do que é vago. E num dedo meu um curto espasmo quando se estilhaçou o respeito ao infinito redondo daquela ascensão. E não adiantaram razão cultura história e tapas no ar para impedir que alçasse vôo a ave imprudente do desejo novo que à revelia escapava de mim. E como os olhos que não tenho viram, a vontade imensa, que também não possuo, fisgou, num piscar já estava lá, a distância rebaixada à ordem das coisas facultativas, o graveto vivo que prendia o fruto se rompeu. E ele caiu. Por horas, dias. Desde então o fruto que furtei a esta planta-percurso cai. Enquanto trabalho, enquanto respiro, quando descanso, e já não descanso posto que espero, em todo canto espero, cantando ao espaço perto a medida da queda infinita. Dizendo miúdo que amando o fruto caio em amar a queda, já duvido mesmo do propósito de meus tropeços. 

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de O seu nome não é Sandra.

26 março 2015

Lição de Casa 3 : Depoimento da Bianca e do Jonatan

Jonatan e eu entrevistamos uma Cristina que estava com sua filha sentada na calçada. Ela disse não ver nada no bairro que pudesse se queixar, que tudo ali é perto e acessível, tranquilo e seguro. Depois disso passamos por um bar onde dois amigos estavam sentados. Cícero e Luiz. Cícero nos contou a história da Parada Inglesa e disse que ama morar ali. A maior parte da sua família também vive na Parada. Por último entrevistamos uma senhora, Dona Judith, que disse que o bairro é um bom lugar para se viver exceto pelas quintas, sextas e finais de semana onde rolam fluxos loucos na praça em frente a casa. Ela tem medo de levar um tiro mas contou que sua amiga, que é corajosa, sai na noite de camisola para pedir que o pessoal sossegue, nunca adianta.
O que chamou minha atenção está na foto abaixo, não encontro isso na minha quebrada rs


19 março 2015

O ladrão de relógios


Rodrigo Marcelo

Ligão de casa 2 : Depoimento Rodrigo Marcelo

Boa Noite !! então...eu entrevistei um morador de rua, sei que fugiu um pouco do contexto e ele não era muito de falar ( o senhor da foto abaixo ), perguntei quantos anos ele tinha, respondeu 16 e disse que morava pela região já há dois anos, quando perguntei o que tinha de ruim no bairro ele me mostrou uma cicatriz no braço, disse que foi atropelado.
E as coisas que reparei...o fusca, o cara puxando um ronco e o cachorro.





Lição de casa 1 : Depoimento da Victória e da Bruna

Eu e a Bruna Viana, entrevistamos três rapazes (Thiago, Diego e Stavosk). Thiago vive na Vila Guilherme a 5 meses diz que quando chegou no bairro procurou conhecer e pesquisar a história do bairro, diz que não tem do que reclamar, e que a situação do lixo seria solucionada através de uma divulgação para a conscientização. Diego vive no Jardim são Paulo e diz que não conhece a história de seu bairro, e que acha que a solução para o lixo seria uma implantação de uma lei severa. Stavosk vive no carandiru e também não conhece a história de seu bairro, mas se incomoda com o excesso de lixo e o descaso com os moradores de rua, mas elogia a segurança e o lazer.

No caminho encontramos o lixo lotado de flores o que eu e a Bruna consideramos uma "arte''. Encontramos dois artistas fazendo também uma intervenção urbana Moiséis tem 12 anos mora na Vila Zilda e trabalha no farol na Avenida Nova, e o Pedro Levy tem 25 anos é ator faz malabarismo com seu grupo de circo e trabalha no farol há 4 anos.

Fizemos a imagem de um escadão próximo ao Mudança que nunca tínhamos notado mas ficou na câmera do Leandro.

04 fevereiro 2015

Por positivar

I

Sem rodeios, dizer o que sente, vamos lá...
que pareceu um desafio,
e agora me peço e me impeço,
pra continuar no bom ar, na boa onda,
com a espinha no lugar. Só isso.
Que se sente? Claramente.
Il mistérieux, deixa pra lá.
E nem precisa ser os bofes todos,
não precisa ser essa imagem,
embora pareça a única que sempre cabe,
planície seca,
como se tudo adentro um árido,
e as tempestades de pó em vórtice subindo pois se abriu a tampa...
tão mais difícil de outro jeito,
confiar que existe,
e quando se faz é sempre em erro,
e sempre belo.
E a treta toda é encaixar esse alicerce de erro
num esqueleto que tem que continuar caminhando...
e a graça toda é o tropeço desse moço...
avacalhar!

Que meu, na moral,
existem meia dúzia de encaixes
entre palavras e momentos
de desmorecer desmanchando,
felizão mesmo,
tipo nadando na imagem de uma vontade...
e agradecer por uma gratuidade...

Se há algo de podre no reino,
há o bocado suculento e maduro,
e este último há de ser a vitória ante esta doença terminal,
já que se germina da morte,
muralhas reluzem, as batalhas se despem em folhas,
as portas abertas a cavalos de tróias, tristezas e sementes na terra.

E no fim é só um quero sim, quero quase por favor.

Canal aberto, o mar revôlto espreita iminente.
Porém os pés gozam na areia úmida,
os olhos sorriem atentos
vagando perdidos
pela profunda valeta central.

(Salve o cajado do libertador mascarado!
Pierrot palestino e seu mar vermelho em guarda.
Tão branco o amor do profeta.
Tão louca sua coragem idiota.
Tão lindo seu truque,
que deve valer um troco
e um beijo).
   

II

E perguntaram o porquê de não querer dormir e respondi sobre não ser dormir senão deitar em si e esperar o sono e perguntaram novamente o medo de quê nesse deixar o dia  ir e respondi não respondi  não e não sei mesmo mesmo sabendo que na valsa da ânsia não dança a paciência  e tantos nãos numa frase não querem ser afirmação. E pretendi todo tempo ao prosseguir acordado que viesse o sono assim desperto e nunca foi senão pretender esperar sem que a espera soubesse que esperava alguém. E sempre quis mais viva a vida e nunca o excesso chapado de um silêncio a multidão de cores nunca o branco nunca quis a vontade e é por isso que ela me afoga e acho que nunca vou entender tua ausência nunca entender o nu nca e dormir exausto para não descansar e mesmo conhecendo o erro com todo o corpo vou amar este erro para ao fim estar certo em alguma coisa.
C. P. F. - Caio Poeta Fariseu
Alavancado de Samba e lua cheia

11 janeiro 2015

Seu único fetiche é a mercadoria

é assim, você é assim
te falo de amor 
você me fala de dinheiro

te falo de tesão
você me fala em cartão
ó meu coração

te convido para ver o céu
você, ao contrário,
só quer ver meu extrato bancário

procuro as melhores palavras
no meu interior revolucionário
mas o que você quer mesmo
é um namorado milionário

se algum agrado lhe ofereço
tentando ser solidário
você ri e acha hilário
tudo o que pode comprar
meu salário proletário

devo ser mesmo um otário...
o que preciso para ter você?
uma tevê em doze vezes no carnê?
um celular 3G? uma câmera full HD?

ó, meu coração não faz amor a prazo
creio este ser o fim do nosso caso
eu de tudo tentei 

inclusive escrevi essa música para vossa senhoria
mas de que isso serviria?
se seu único fetiche é a mercadoria. 

ó, meu coração não faz amor a prazo
creio este ser o fim do nosso caso
eu de tudo tentei 

inclusive escrevi essa música para vossa senhoria
mas de que isso serviria?

se seu único fetiche é a mercadoria. 
Tico- Tico


Vende-se para não ver mais

aqui está o carnê.

obrigado.

obrigado senhor por comprar conosco.

escuta, deixe eu lhe dizer.

por favor.

sabe, isso de pagar no carnê, de parcelar as compras, 1 parcela por mês?

isso senhor, uma por mês.

me dá um negócio.

oi?

dá um não sei sabe?

não sei.

sabe?

senhor...

aqui ó...

senhor...

eu curto muito comprar. é o que me sustenta sabe? em muitos sentidos. você por exemplo, aqui, me dando este carnê...é sexy sabe?

senhor.

comprar é um prazer. você me entrega este prazer parcelado. em um prazo fixo eu vou lá e pimba. pago. cada vez um pouquinho mais, até...

até o senhor quitar.

é preciso se segurar, quitar só no limite.  fica calma, respira comigo...

senhor.

imagina, aquela tv ali ó, só imagina. fosse moça a tv. uma pitchula. de vestido. chego aqui amanhã, ou daqui a 30, 60, 90 dias. ela já dorme comigo. no meu quarto. todo esse tempo. já a sinto. mas o ritual, vir aqui, e o que isso representa para eu e ela em nossa vida comum, uma parcela, como fosse uma parte de sua estrutura que enfim me chega inteira, no que concerne ao desfrute, o tubo, os botões, despindo a tela tanto a tanto, essa nudez esclarecida, e você me dá esse carnê, logo fico contigo na lembrança e involuntariamente você virá à tona em mim quando esfregar meu controle remoto...

o senhor está parcelando uma churrasqueira.

tudo bem, não muda nada, a carne, o carnê, come on baby, frente a outras mercadorias  a carne é discreta, posso pô-la na boca no meio de todos, mordo e sugo o caldinho...

o senhor pode  se furar com esse espeto de churrasco na boca.

comprar é uma dor, eu compreendo isso. eu deixo que me penetre, é algo que você dá e recebe em troca, quanto mais dá mais recebe, em qualidade, em quantidade, se souber comprar, eu vejo algo de doação, de simbiose, os nossos fluídos, o fluir da mercadoria...

não posso conversar agora que tem fila moço. mas você pode olhar melhor a tv mais tarde, saio daqui umas 21h...

posso pegar no controle?

não sei, vamos ver o que rola...gosta de apertar botões?

eu fico zapeando, com a ponta do dedo, com essa base aqui, tá vendo?  leve, quase um carinho, os canais deslizam, aumento o volume, seus lábios me lembram uma entrada de vídeo...

hum...me sintoniza. senhor, aquela senhora aguardando ali atrás. não está com uma boa expressão. ela parece que vai desmaiar, conversamos depois, ok?

quero fazer com você tudo aos poucos.  to teso com crediário, credora safada, te quito de jeito...

próximo!

o senhor me dá licença?

calmaê senhora. deixa eu só falar um instantinho aqui que eu to devendo. vou te levar no SPC, com meu carnê na mão, com minha mão em você...e-le-tro-e-le-trô-ni-ca, suor, vou pagar três parcelas sem tirar de dentro...

ai, me segura...

segura ela moço!

vixi, a véia desmaiou...

o senhor segura ela aí que eu vou chamar o gerente...

vai lá, novinha, toma-te o lucro, me suga que eu sou consumidor...

ai...

acorda véia! vai lá se lambuzar com o seu crediário!

não...rapaz...me segura mais forte, assim. você deve bem...é um devedor...um devedão! ninfo. te proponho um trato amigo.  te pago tuas ganas até que me arrebente, e não demora muito obsolescer pra sempre este corpo senil. é isso que digo. me mata de amor e então para sempre me paga o jazigo.

o que fazer?



não há o que pensar. vamos. pagar sua morte, todas as parcelas, só de ouvir me tonteia, me dá calafrios...crédito bruto, a morte me endivida e a vida é sorte se sua morte nos une eternamente.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu

26 dezembro 2014

Sobre teatro e grades

 Todo preso é um especialista em escapar. 

Estamos acostumados a dissimular. Quem vive preso, encolhe no seu jeito a máscara, e está sempre aqui e lá. Nunca confia no que diz, mas de repente aparece presente, e na verdade, já estava, esteve sempre lá.
Quão maior seja a barreira imposta, a castração nos custa o acesso livre à gratuidade. A vida pesa e o cinismo sem fim se apresenta lúcido. Duvido é regra e só quero saber de todos os meios por onde escapar. Isto como método da vida. A arte de se defender de guarda aberta. Jogar o jogo contra si.
E aquele momento do se talvez não, da experiência, do peraí, do nem pensar peraí, do avulso, encontra  como seu obstáculo extremo fazer desertas as reservas, todo o cálculo do ato, aquela permanente premeditação.
Porém, digo aqui de passagem, que essa nossa mesma mente dúbia, a do oprimido, daquele em que cada palavra cala seu verso opressão, em que a distância dita o compasso (estamos perto, sim, é verdade), digo aqui que não é mente, e não é mesmo. Daqueles que vivem presos dizem que são animais, com isso dizendo, é corpo. Um pouco de sábio na boca do porco. É corpo sim. É corpo.
E me digam o caminho pra fazer um coração preso, dentro de um corpo preso, pensar em não ter controle, e no jogo cair vazio, voar escorrendo no chão ou brincar de ser outra pessoa. Pessoa? Como? Se o “você não é ninguém” vem registrado em nossa identidade? Como assim ser outra pessoa?
É o malandro-espelho, me veja e te vejo de volta. Para tudo há troca. Não dou nem recebo impune. E quando vimos já somos simulacros do espetáculo do revide, e mais que tudo, da defesa.

 Sou um cofre forte, afastem. Das possibilidades guardo a maior quantia. Por meu olho mágico elas observam, espevitadas para sair. Com minha boca de cofre sorrio amarelo. Vire de costas! E já não cofre, mas todo pessoa, olho para ti e para tudo sincero.

Nessa malandragem mora uma compreensão aguda do jogo e da própria presença. A boa mentira é meia-verdade. Porém se ausenta a consciência do entrar no jogo, pois esta pressupõe que se estava fora do jogo. Mas se tudo flutua, sempre, onde existe um solo identitário?
A posição do opressor  implica uma identidade. A toga, o cetro, a palavra, cada alegoria, toda distinção. Tornar-se distinto. É uma marca não ser oprimido. Uma marca que não dói lembrar. Ou seja: assim se é.
Mas e quando, esse quando que falo, autoconsciência se confunde com masoquismo? Ser é para quem tem? A identidade do oprimido mora na instabilidade da luta pra deixar de ser o que é. Isto é: no caminho, na viela. Ser é para quem tem, e sobra o sonho de si como gente. Sonho vago, desserviço. Preenche mas preenche com bloqueio. Pois esse vazio de ser é um dom, é um meio. Ao trecho do meio chamamos: espaço de transformação.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu

01 novembro 2014

O que me disse a tampa de um bueiro

Escutar querendo escutar:

- Foda-se o que você vai argumentar, não tem sentido. Não tem sentido porque sentido é aquilo que se sente.

Abrir a gaiola.
A pomba só é da paz quando voa.
Libertar aliviado o negro urubu da paz.

C. P. F. - Caio Poeta Fariseu

05 outubro 2014

POEMA IMUNDO


Chumbo que arromba minha bunda
Ele repousa trépido
a cabeça em minha coxa suada

Joelhos de prazer esfolados
sustentam alegres
os corpos cansados

Seu pau pendula sob
a buceta molhada
e aberta

Quem vai tapar o buraco que você abriu
No chão
mofado da sauna vazia

Cai a noite  carnívora
Batucam os corações ouriçados
Resvala sereno, o sêmen

Os braços desatam o tronco
O tronco
despeja-se no imundo chão

PLENO.


                                                                                   M. ERATO



Alavancado de poesia erótica para uma menina que não consegue terminar um poema erótico.

04 outubro 2014

Meu amor

Meu amor é periférico,
escoa ao avistar o ralo.

Engole minhas lágrimas a seco.
Chupa meu ânus para nele se abrigar,
esconder.
Cava uma cova ao receber flor.
Naufraga ao avistar terra.

Meu amor constrói grades para se libertar,
recua quando avanço, cala quando canto.
Cerra os dentes quando alimento.
Extrai com as próprias mãos a arcada que implanto em seu sorriso.


Meu amor, caso chova eu vou sem guarda-chuva.
Prefiro o frescor do temporal elétrico que alaga a casa
ante aos pés semi-úmidos e segregados dos membros secos.

Meu amor, caso faça sol dispenso o protetor.
Prefiro o sol que abraça, em brasa queima e enrubesce
ante a capa líquida e gosmenta que embranquece e blinda o rosto.

Meu amor, caso tenha pedras eu vou descalça.
Prefiro pisar no chão topográfico, pontiagudo e duro, quente e frio,
ante ao isolamento de borracha e cadarços que me cercam os calcanhares.

Meu amor em caso de frio deixe o agasalho sob teu corpo,
Prefiro o frio que craquela os ossos e encolhe o dorso
ante pudor do casaco que encobre minhas ânsias e encuba os mamilhos ouriçados.

Meu amor,
sempre prefiro a queda ao equilíbrio.
O risco ao seguro.
O difícil ao dado.
O tapa ao tome.
A fera e o ferido ao fadado e o fosforizado.

Prefiro o impulso ao percurso.
O volátil ao concreto

Sou feita de sonhos e entregas ao risco do
meu amor.


M. ERATO

Alavancado de Sonso ser.





Vestígios do Vício


Minha casa ainda cheira
suas cinzas abraçam cortinas, talheres, travesseiros e fronhas.
O antiquário dos tocos seus,
bitucas, bitocas,
conserva chamuscado o bafo úmido do seu bigode.
Cravadas na pele rugosa, nossas letras sobreviveram,
L & M, ao que um dia ardeu.

A boca transversal e aberta a tragar-me.
Traga-me você.
Estrago eu você.
Bocal a engolir e mastigar.

Seus olhos são operas mudas desajustadas,
lanças a perfurar meu rosto movediço.

Quaisquer pés a montar meus calcanhares,
estampam vertigens nas colchas e coxas.

Penetram-me todos:
boca, olhos, pés e homem.

Sufocada respiração: com pulsátil movimento.
Já sei de cor o som dos seus pulmões viciados,
o grunhido seco do seu prazer contido,
o peso safado das suas mãos na minha cintura.
Tenho 22 anos, unhas roídas, 4 irmãos, um estômago de pedra e
nenhum amor correspondido.

Chupo o caroço da manga sem tirar os fiapos dos dentes
mergulho ao fundo do poço para beber a última gota de néctar.

Conheço o ofício da ferida de adeus.
É preciso expelir todo pus e sangue
sem band aid nem Merthiolate.
Expelir até secar.
Eliminar é impossível, cicatrizar.

Vê o amor do alto da colina.
Enxerga ovelhas onde é pasto.
Com dentes e dedos ordenha a terra.
Esfarela.

Esfumaçada ausência,
solitário vicio meu ao aspirar os vestígios do seu.




Agosto 2014
M. ERATO



Alanvacado de Poema Conto.





VEM


Vem retalhar meus poemas
Embebedar minhas certezas
Vem enroscar meus cabelos nos seus pentelhos

Vem atazanar meu caminho
Partir meus membros
Obstruir meus poros

Vem deflorar meus floridos vestidos
Moer, torrar e coar meus beijos
Cuspir meus buracos

Vem bombardear meus órgãos
Banhar meus rios rasgados
Vem escorregar seus dedos longos e quentes nos meus seios nulos

Vem
Vibratório
Profano
Perene a perfurar

Vem conjugar nossos orgasmos
orvalhar fogo deleitoso no broto do umbigo

Vem cheio
Vai desaguado
Vem inteiro
Vai multilado
Vem órfão
Vai incorporado
Vem com mãos abanando
Vai carregando tudo de mim.


E no vai-vai dos pés no elevador,
fica o prazer do vai e vem de uma presença.





 M. ERATO


Frestas

Frestas


o ramo de cachos desfaz-se ao som locomotor
fio-a-fio
mergulham no chão quente
os pés descalços

as madeixas do seu DNA encobrem as frestas da cerâmica
a lâmina cerra a trama acariciada

revestido de seus pelos, cabelos e velos,
o chão:
tapete tecido de podas e pontas

carpindo o solo das suas memórias,
ele semeia as espirais do seu couro duro

homem encoberto por fios e fios a definhar na cabeça,
desfolha-se
desvela-se nos olhos sob o espelho

pelo espelho tento sustentar o olhar do menino que despe a cabeça
em minhas mãos estão o reflexo desnudo
os fiapos do homem esparramado
o encontro sorrateiro

eu, ele e o silêncio tosados
libertos
enfrestados.






M. ERATO 




Alavancado de  Samba e Lua Cheia







15 setembro 2014

14 setembro 2014

Rego Freitas 325, quarto andar

Desandar o quarto sujo.
Desatar o ziper frouxo.
Demarcar o falo público.
Depravar a renda branca.
Destratar a moça fácil.

Barba que arranha a face,
tapa que o peito depena,
vagina que unge pés e pau,
nariz penetrando ouvido,
comungam odor e pentelhos.

Minha boca no seu saco,
seu pinto na minha pia
pinga porra 
na escova, os meus dentes
são polidos com seu esperma.

Seus dedos no meu cu cavam
a cova efêmera do caralho,
aterrado nas terrenas ancas
incorre em unguentos labirintos,
prescruta o som dos meus lamurios.

Sórdido lençol manchado embrulha frio
os corpos dispersos em cantos.
Im my eyes, ursos surrados, doces mentiras
beliscam o bicos de peito.
Sua pele é furada e esvazia.

O cuspe seco ainda escorre as coxas 
cansadas nádegas repousam satisfeitas,
 meu ombro ainda carrega sua mordida.
As unhas fincadas na barriga entranharam-se
na castidade do meu útero.

Em cravou.


M.ERATO


Alavancado de Funk do Bidê.